terça-feira, 29 de junho de 2010

Under Construction

Blog ainda sendo revisado. Desculpem-me por tantos dias sem postagens.




Meu blog sofreu uma pequena alteração no endereço. A nova URL é http://eliane-bonotto.blogspot.com.
Vou tornar disponível a todos, este que será o novo formato do meu blog. Entretanto, ainda há pequenas coisinhas a serem resolvidas. Enfim, não posso considerá-lo totalmente pronto.
Peço a gentileza de comentarem o novo formato. Gostaria de ouvi-los também. Em breve colocarei o blog definitivamente em produção; e, de preferência, já com algum conteúdo mais interessante (eu espero). Grata pela compreensão de todos.



quarta-feira, 23 de junho de 2010

Aos Meus Leitores


Estou enfrentando problemas de formatação no meu blog. Tão logo eu tenha resolvido tudo, continuarei a fazer minhas postagens normalmente. Peço desculpas pelo inconveniente.


domingo, 20 de junho de 2010

Paris sempre arrebatará meu coração

Estive em Paris em maio deste ano por quinze dias. Quando voltei da viagem, fiz um desabafo, uns resmungos mesmo, em três partes aqui no blog, contando sobre dois incidentes, que me deixaram muito aborrecida.
Este post não é para desmentir nada do que escrevi nos anteriores. Ao contrário, é para fazer justiça à cidade de Paris, pois ainda não falei de nenhum dos seus pontos fortes (e eles são muitos), ou seja, aqueles que fazem milhões de turistas visitarem, em todas as estações do ano, aquela que é, sem sombra de dúvida, a cidade modelo de urbanismo para o mundo.
Plâce de la Concorde vista da Igreja da Madeleine
A cidade de Haussmann, urbanizada e modernizada entre 1853 e 1870, é a Paris que conhecemos hoje. Uma cidade com largas avenidas e boulevares, uniformemente arborizados de ambos os lados; de calçadas largas (e sem pedrinhas portuguesas!); de praças e jardins públicos por todos os quartiers; de sinalização perfeita com o nome das ruas em cada esquina; padronização dos prédios construídos neste período; água e esgotos tão limpos que pode-se visitá-los em museu criado para este fim; infra-estrutura das redes elétrica, de gás e telecomunicações subterrâneas; um sistema intermodal de transportes de massa que permite o mínimo de engarrafamentos na cidade. 
Paris antes e depois de Haussmann
É suficiente? Ainda não. Uma das coisas que mais me chama a atenção em Paris é a ausência de poluição visual. Não obstante o fato de as redes de infra-estrutura serem subterrâneas, não há mega letreiros chamativos, de gosto duvidoso, nas lojas da cidade. Tudo é extremamente discreto e de bom gosto, como são os próprios franceses (Ok que eles têm o narizinho um tanto empinado... Mas é porque eles PODEM, pessoal, eles PODEM).
A cidade não tem postes de iluminação na maioria esmagadora das ruas “de bairro”. São luminárias presas aos edifícios, o que permite, além da ausência de poluição visual, um fluxo mais confortável de pedestres nas calçadas, até porque as calçadas dos bairros são mais estreitas do que às das ruas mais centrais.
As calçadas são limpas e provida de lixeiras por toda parte. A propósito, as lixeiras de rua não ficam abarrotadas, jogando lixo para fora. A limpeza pública é muito bem feita. Os monumentos parisienses são muito bem cuidados. Cada parte dourada de cada monumento da cidade tem manutenção constante.
Agora um item à parte, o estilo de vida dos franceses. É inegável que qualquer pessoa normal adoraria viver em uma cidade na qual se pode caminhar com tranqüilidade; ou ir ao trabalho de bicicleta; ter estações do metrô bem pertinho de casa e do trabalho; poder comer os melhores queijos e os melhores vinhos (incluindo o champagne) do mundo a preços módicos; ter mercados de médio porte em cada bairro, sem que a pessoa precise se deslocar de carro para fazer compras; ter lojas de frutas tão belas que parecem uma pintura; não comer jamais, em lugar nenhum, de pé ou sentado em banquinhos altos; ter sempre um café a sua vista com cadeirinhas charmosas; alimentar-se bem com frutas, legumes, verduras e... queijos, croissants, baguetes... insuperáveis; não precisar fazer lanchinhos no McDonald’s (em Paris nem percebemos que eles existem) etc etc???
Agora já é suficiente, não? Ainda não. Não há como falar de Paris sem dizer que aquele pedacinho do mundo tem algo de especial que ninguém sabe exatamente o que é, mas que existe, existe sim. É o ar que se respira, uma energia diferente na atmosfera da cidade. Você se sente como que embriagado pelo lugar como um todo, pois que Paris é bela, é inegável. Isso se percebe claramente quando se fazem os famosos passeios nos ‘Bateaux Parisiens’ pelo rio Sena. O embarque é em frente à Tour Eiffel.
Jantar no Bateaux Parisiens
Tudo em Paris convida ao romance. E se há algo mais romântico e charmoso do que um jantar em um barco deslizando serenamente pelo Sena ao som de piano e violino, avisem-me, por favor, pois eu desconheço. Talvez as gôndolas de Veneza sejam suas concorrentes diretas, mas como esse passeio eu ainda não fiz, não posso comparar.
Rosas francesas
Ahh, sim... Estava tão longe, a bordo dos Bateaux Parisiens, que quase me esqueci de falar sobre as rosas francesas. Elas são diferentes e perfumadíssimas. Não é à toa que a França produz os melhores perfumes do mundo.
Enfim, não há cidade no mundo que tenha tantos predicados reunidos ao mesmo tempo, arte, flores belíssimas e o perfume das rosas, parques relaxantes, gastronomia especialíssima, poesia, atmosfera de pura beleza, sedutora e cheia de convites a desejos e tentações.
Está diante dos nossos olhos. Incontestavelmente essa cidade é Paris, a capital do mundo.

sábado, 19 de junho de 2010

Casal Perfeito

Elizabeth Taylor e Montgomery Cliff

Vou deixá-los hoje com Elizabeth Taylor e Montgomery Cliff, em foto de 1951, ano do filme A Place in the Sun - Um Lugar ao Sol.
Um rapaz pobre e religioso (Montgomery Cliff) da Georgia engravida uma colega de trabalho (Shelley Winters) e, simultaneamente, sobe na empresa de seu tio, em que trabalha, e acaba se apaixonando por sua prima rica (Elizabeth Taylor).
Clássico romântico premiado com Oscars de Direção (George Stevens), Roteiro, Fotografia, Trilha Musical, Montagem e Figurino. Inspirado em caso real acontecido em 1906, no qual Theodore Dreiser se baseou para escrever seu livro “Uma Tragédia Americana”, o filme é uma crítica ao materialismo da sociedade norte-americana. Nesta versão, mudaram-se o título original e os nomes dos personagens. É um filme extremamente bem dirigido com elenco e montagem brilhantes. Há também cenas memoráveis. Destaque para a cena do beijo entre Clift e Elizabeth, que à época tinha apenas 16 anos. Charles Chaplin o definiu como o melhor filme que Hollywood já fez. Acho que foi um pouco de exagero.

terça-feira, 15 de junho de 2010

O Captain! My Captain!

Walt Whitman

Muita gente sabe da existência do poeta estadunidense Walt Whitman através das citações de seus poemas no Filme Sociedade dos Poetas Mortos (Deads Poets Society). O filme de 1989, dirigido pelo sensível Peter Weir, estrelado por Robin Williams, tinha no elenco Robert Sean Leonard (que interpretou o jovem aluno Neil Perry e que hoje é o Dr. James Wilson na série de TV, House), Ethan Hawke e Josh Charles. Além disso, a fotografia excelente e as belíssimas locações, contudo, não foram suficientes, para a decepção de muitos (entre os quais me incluo), ser com o Oscar de melhor produção daquela temporada, mas levou o Oscar de melhor roteiro, merecidíssimo, com justiça dado a Tom Schulman.
Neste maravilhoso filme, o professor John Keating, vivido por Robin Williams, diz aos seus alunos, para fazerem com que suas existências tenham valor, diz também que eles devem viver com intensidade cada dia que lhes é dado, cada momento que lhes é concedido, cada experiência à qual tem acesso. Por isso, o mestre repetia, "Carpe Diem" (aproveite o dia).

Robert Sean Leonard, o aluno Neil Perry
Carpe Diem é um dos muitos poemas maravilhosos de Walt Whitman. No entanto, eu não me encantei com este poeta de sensibilidade à flor da pele com o filme. Não. Antes disso, eu já o conhecera através de uma citação que me fez procurar sua obra e sentir o sabor delicioso dos seus poemas. Sua citação dizia, “Do I contradict myself? Very well, then, I contradict myself; I am large—I contain multitudes”. Esse foi o estímulo para conhecer mais e mais Walt Whitman.
Adoro quando ele diz “I am untranslatable: I sound my barbaric yawp over the roofs of the world”. Descobri que Walt Whitman foi muito polêmico. Fico pensando como desafiar o mundo sem ser polêmico? Ao contrário do que muitos dos que estão lendo este artigo esperavam, vou inserir neste post, não o poema Carpe Diem, mas sim o poema que suscitou a cena final do filme de Peter Weir, O Captain! My Captain!

O Captain! My Captain!
(Walt Whitman)

Captain! my Captain! our fearful trip is done,
The ship has weather'd every rack, the prize we sought is won,
The port is near, the bells I hear, the people all exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring;
But O heart! heart! heart!
O the bleeding drops of red,
Where on the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.

O Captain! my Captain! rise up and hear the bells;
Rise up -- for you the flag is flung -- for you the bugle trills,
For you bouquets and ribbon'd wreaths -- for you the shores a-crowding,
For you they call, the swaying mass, their eager faces turning;
Here Captain! dear father!
This arm beneath your head!
It is some dream that on the deck,
You've fallen cold and dead.

My Captain does not answer, his lips are pale and still,
My father does not feel my arm, he has no pulse nor will,
The ship is anchor'd safe and sound, its voyage closed and done,
From fearful trip the victor ship comes in with object won;
Exult O shores, and ring O bells!
But I with mournful tread,
Walk the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.

Breve biografia de Walt Whitman
Nascido em West Hills, Long Island em 31 de maio de 1819, falecido em 26 de março de 1892. Poeta estadunidense considerado por historiadores o primeiro poeta a usar o verso livre.
Whitman trabalhou como tipógrafo, impressor e também foi professor. Era jornalista e foi editor de um semanário.
No início de Julho de 1855 publicou a primeira edição de "Leaves of Grass", impressa na Rome Brothers do Brooklyn e cujos custos Whitman suportou. Os versos deste livro eram livres, longos e brancos, imitando os ritmos da fala. A primeira edição da obra mais importante da sua carreira, não mencionava o nome do autor, e continha apenas 12 poemas e um prefácio. A coletânea "Leaves of Grass" teve oito edições durante a vida do poeta.
No Verão seguinte foi publicada a segunda edição de "Leaves of Grass" (1856), ostentando na capa o nome do seu autor. O livro foi recebido com entusiasmo por alguns críticos, mas mal recebido pela maioria, o que, contudo, não impediu Whitman de continuar a trabalhar em novos poemas para aquela coletânea.
Os últimos anos de vida de Whitman foram marcados pela pobreza, atenuada apenas pela ajuda de amigos e admiradores americanos e europeus. Whitman morreu no dia 26 de Março de 1892 e foi sepultado em Camden, New Jersey.
Cinco anos depois foi publicada em Boston a décima edição de Leaves of Grass (1897), a que se juntaram os poemas póstumos "Old Age Echoes".
Fernando Pessoa escreveu um poema de nome "Saudação a Walt Whitman".

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O Rio de Janeiro e a cidade de Roma

A Civilização Romana se originou de um pequeno povoado da Península Itálica, encravada na porção central deste território, Roma. Os romanos eram religiosos politeístas, de deuses “importados” da Grécia, adorados com outros nomes. Passou por mudanças políticas, da monarquia à república (quando o Senado exercia o poder político), responsáveis pela administração, finanças públicas e política externa.
No século I d.C., o desenvolvimento da religião cristã foi um ponto fundamental na transformação do Império, a doutrina religiosa e expansionista contrariou as crenças e instituições que sustentavam o mundo romano. Roma criou a política do Pão e Circo, oferecendo ao povo alimento e diversão. Implicitamente, esta política tinha o propósito de fazer com que a população esquecesse os problemas da vida, diminuindo as chances de alguma revolta. As lutas de gladiadores nos estádios eram acompanhadas de distribuição de alimentos.
A extensão do Império Romano em seu momento de glória
Ao longo de sua história, passou por momentos de glória e declínio. Viu seu exército conquistador implantar a Pax Romana a todos os povos dominados pelo Império. Em seguida, por falta de salários, os próprios soldados abandonam seus postos.
A extensão do Império Romano no seu declínio
No novo mundo, o miscigenado e religioso povo carioca, em meio às mudanças de capital do império para capital da república, viu seus dias de glória e êxtase esvaírem-se após a mudança da capital federal para Brasília.
Seguindo o curso da história brasileira, as crises econômicas, os governantes inescrupulosos e, acompanhada por uma população alegre, descontraída, receptiva que absorve os impactos sociais e econômicos com bom humor, a cidade do Rio de Janeiro entra em declínio moral, social, econômico e ético.
Culpados? Como em Roma, o Rio de Janeiro tem governo e governados, ambos omissos e críticos exacerbados, irônicos e incapazes de encontrar uma solução em comum.
A política do Pão e Circo vem sendo usada, não é de hoje, com extrema habilidade pelos governantes. Claro que hoje ela está adaptada aos tempos modernos, Carnaval, Samba, Futebol, Shows na Praia, doações, “Cestas e Vales” de todo tipo e tantas outras benesses próprias de governos paternalistas.
A ocupação desordenada dos morros da cidade, sem a fiscalização dos órgãos competentes é definitivamente culpa do poder público. Conseqüentemente, depois de a ocupação ilegal instaurada, esta omissão provoca o surgimento de poderes paralelos nas “comunidades”.
Quando ocorrem desastres naturais, o governo é obrigado a providenciar novas moradias, construídas com dinheiro público, que deveria ser utilizado em benefício comum. A população, em uma ação humanitária, tem que doar comida, roupas, água e socorro. Enquanto isso, o poder paralelo faz queima de pneus, ônibus e quebra-quebra nas imediações das “comunidades”.
A Favela da Rocinha em pleno século XXI
 As forças policiais, que deveriam defender a população, abandonam seus postos e servem aos poderes paralelos, protegem a criminalidade, extorquem, seqüestram e matam o cidadão decente que, pasmo diante de tudo isto, se cala ou, no máximo chora, estão falidas.
O Rio e Roma se parecem. Roma teve seu império vencido pelos povos bárbaros. O Rio de Janeiro tem um problema principal é a questão cultural e educacional do povo, sobretudo daqueles que vivem em “comunidades”. Infelizmente, a forma como está montado o pensamento do cidadão médio destas áreas (as comunidades) não prevê a modificação do sistema ali instalado.
A aceitação resignada da existência dos grupos de traficantes, milicianos e outros sistemas de domínio está na alma daquele povo. Na verdade, fruto da falta de educação, cultura e consciência do povo carioca, que não ama o Rio de Janeiro, pois que o entregou aos mais ignóbeis e abjetos governos estaduais durante décadas.
Autoridades cariocas... Autoridades???
A valorização do jeito "esperto" de ser do carioca, que consegue esgueirar-se através da malandragem, é visível e constantemente enaltecida, sobretudo dentro das “comunidades”. A (pseudo)-intelectualidade e a principal mídia local, que são os formadores de opinião na cidade e no país, ajudam a perpetuar estes valores, através do seu enaltecimento em produções “culturais”.
Por outro lado, a chamada "elite" se descola da realidade cidadã, isolada em “ilhas” onde a realidade, criada por arquitetos de renome, difere das comunidades pobres ao redor. Essa "elite" polariza sua noção de realidade entre os desfiles de carnaval, considerados uma demonstração de democracia racial (embora a fina flor da elite esteja nos camarotes ou no alto dos carros alegóricos) e a completa ignorância acerca dos problemas da sua própria cidade.
Ameaças surgem, o crime organizado e o desorganizado, a política insossa e incipiente dos poderes legislativo e executivo estadual e municipal. O poder judiciário mostrando cada vez mais a sua cara maquiada.
A ruptura de um sistema tão bem cimentado assim só pode ocorrer através de um ato ou situação revolucionários, que frature sua base estrutural, algo que afete ou envolva a sociedade como um corpo, como um todo. Em função de tudo isso, não vejo uma solução, nem mesmo a médio prazo, desta situação.

Um pouco da história de Roma
Quando olhamos para a extensão do Império Romano em um mapa, mal chegamos a imaginar que esta civilização se originou de um pequeno povoado da Península Itálica. Encravada na porção central deste território, a cidade de Roma nasceu por meio dos esforços dos povos latinos e sabinos que, por volta de 1000 a.C., teriam erguido uma fortificação que impediria a incursão dos etruscos.
As poucas informações sobre as origens de Roma são encobertas pela clássica explicação mítica que atribuem sua fundação à ação tomada pelos irmãos Rômulo e Remo. Após a fundação, Roma teria vivenciado seu período monárquico, onde o rei estabelecia sua hegemonia política sobre toda a população e contava com o apoio de um Conselho de Anciãos conhecido como Senado.
Os membros do Senado eram oriundos da classe patrícia, que detinha o controle sobre as grandes e férteis propriedades agrícolas da região. Com o passar do tempo, a hegemonia econômica desta elite permitiu a formação de um regime republicano em que o Senado assumia as principais atribuições políticas. Entre os séculos VI e I a.C., o regime republicano orientou a vida política dos cidadãos romanos.
Entretanto, a hegemonia patrícia foi paulatinamente combatida pelos plebeus que ocupavam as fileiras do Exército e garantiam a proteção militar dos domínios romanos. Progressivamente, a classe plebeia passou a desfrutar de direitos no interior do regime republicano e a criar leis que se direcionavam aos direitos e obrigações que este grupo social detinha.
Apesar de tais reformas, a desigualdade social continuava a vigorar mediante uma sociedade que passava a depender cada vez mais da força de trabalho de seus escravos. As conquistas territoriais enriqueciam as elites romanas e determinavam a dependência de uma massa de plebeus que não encontravam oportunidades de trabalho. De fato, as tensões sociais eram constantes e indicavam as diferenças do mundo romano.
Paulatinamente, as tensões sociais se alargaram com a ascensão de líderes militares (generais) que cobiçavam tomar frente do Estado Romano. As tentativas de golpe sinalizavam a ruína do poder republicano e trilharam o caminho que transformou Roma em um Império. No século I a.C., o general Otávio finalmente conseguiu instituir a ordem imperial.
Durante o Império, observamos a ascensão de governos que mantiveram a ordem, bem como de outros líderes que se embebiam do poder conquistado. No século I d.C., o desenvolvimento da religião cristã foi um ponto fundamental na transformação do Império. A doutrina religiosa e expansionista contrariou as crenças (politeísmo) e instituições (escravismo) que sustentavam o mundo romano.
Por volta do século III, o advento das invasões bárbaras e a interrupção da expansão dos territórios caminhavam em favor da dissolução deste Império. Apesar da derrota imposta aos romanos, suas práticas, conceitos e saberes ainda são fundamentais para que compreendamos a feição do mundo Ocidental. De certa forma, todos os caminhos ainda nos levam (um pouco) a Roma.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Batalha Naval de Riachuelo - 11/06/1865

Em junho de 1918, 53 anos após a monumental batalha, o almanaque "Eu sei tudo", na seção "PAGINAS ESQUECIDAS", publicou a matéria "COMBATE DO RIACHUELO", do Dr. Pires de Almeida.
Hoje, após 92 anos da publicação e 145 anos da batalha, deixo aqui a transcrição desse artigo na tentativa de preservar o feito dos bravos soldados, para que esta parte da nossa história não fique nas "PAGINAS ESQUECIDAS" dos brasileiros.


Em fins de abril, de 1865, duas divisões da esquadra brasileira subiram o rio Paraná, indo fundear em Bela Vista. Os paraguaios, tendo invadido o território correntino (Corrientes) com poderosa força, ao mando do general Robles, agora reforçados por mais 3.000 homens, apoderam-se da cidade, depois de haverem tomado de assalto dois vapores argentinos, e juntam-se ás tropas ali existentes, convertendo a indefesa cidade em poderosa praça de guerra, com um efetivo de 27.000 homens e 60 bocas de fogo.
Simultaneamente, outro exercito paraguaio ameaça invadir as fronteiras brasileiras pela lado de Itapua, ao mando do tenente coronel Estigarribia.
Sem que encontrassem embaraços á sua passagem, os paraguaios, com forças sempre numericamente superiores, dividem-se e subdividem-se, descendo a melhor parte até Riachuelo, em cujas barrancas se fortificam.; não obstante porém esse aparato todo, inesperadamente contra-marcham, obrigando Paunero, que ia ao seu encontro, a reembarcar suas tropas, vindo abarracar-se em Rincon del Soto.
Aquele simulacro de retirada não passara despercebido ao valente cabo de guerra argentino, que, sem ter receio do imprevisto, de plano com com o chefe Barroso, que o auxilia na temerária expedição, embarca novamente suas forças e, surgindo na capital correntina a 25 de Maio (quinta feira), ataca-a e retoma-a, estando a cidade defendida por 2.000 homens, ao mando de Martinez.
Os aliados tiveram fora de combate, entre mortos e feridos, 200 argentinos e 21 brasileiros; o inimigo 452 mortos fora 66 feridos e 86 prisioneiros; e , além de armamento e munições em considerável quantidade, tomamos-lhe mais três bocas de fogo, duas caixas de guerra e uma bandeira
Obtida esta vitória, Paunero, certo de que Robles, vendo assim surpreendida sua linha de retirada, o atacaria com 25.000 homens sob seu comando, embarca as forças argentinas e brasileiras e desce, indo acampar no Rincon.
E com aquele predisposto, Lopez embarca precipitadamente no Taquari, a 8 de junho de 1865, uma quinta feira, com direção a Humaitá, e assiste em pessoa aos preparativos para a planejada expedição, marcando o dia 11, domingo, irrevogavelmente para o ataque e abordagem á esquadra, que ele supunha desprevenida e desguarnecida.
Aparentemente calmo, Lopez traia-se a cada instante, desenvolvendo frenética atividade para esconder os revezes que acabava de sofrer, e agora, sugestionado pelo feroz Diaz, resolve o ousado plano de um formidável combate naval, de que lhe adviriam vantagens imaginarias sobre os exércitos aliados.
Para atenuar, perante os seus soldados, o desastre de Corrientes, responsabiliza pela derrota o chefe Martinez, que faz passar pelas armas, não obstante ter-se valentemente batido.
Apenas chegado ao forte de Humaitá, Solano Lopez, em veemente alocução, concita os oficiais e soldados do Sexto batalhão de infantaria naval, o mais valente dos seus batalhões, a se baterem sem tréguas; e á distribuição de sabres e machadinhas recomendou-lhes que lhe levassem prisioneiros vivos, ao que eles responderam que pouco lhes preocupavam prisioneiros, prometendo afirmativamente, que voltariam vitoriosos, rebocando os nossos vasos de guerra.
A despeito de tão eloqüente entusiasmo, Solano Lopez, como se não confiasse bastante no plano traçado pelo general Diaz, reforçou-o, mandando o coronel de artilharia Bruguez assestar uma bateria de 32 canhões, na margem direita da embocadura do Riachuelo; este, por iniciativa própria, estendeu no local denominado Barrancas, protegido por um montículo, poderoso contingente de infantaria, destinado não só a socorrer a abordagem sob o comando do coronel Aquino, mas ainda a auxiliar a artilharia com a sua fuzilaria.
Três mil homens ali estavam na tocaia. A margem direita da embocadura, de ponto em ponto, outros contingentes se abarracaram para fim idêntico.
A nossa força naval atingia, no local, a 2.287 combatentes, inclusive oficiais de mar e terra, sendo 1.113 de marinha e 1.174 do exercito, que se achavam a bordo para qualquer operação de desembarque, e 50 bocas de fogo; cumprindo assinalar que oficiais e praças de terra, segundo as comunicações do vários comandantes, muito concorreram para o resultados obtidos.
Formando ligeira curva, alerta se achavam os navios paraguaios: Tacuary, Igurey, Marquez de Olinda, Salto, Paraguary, Iporá, Jujuy e Iberá, na ordem em que os mencionamos.
Essa esquadra partira de Humaitá á meia-noite, dando-se logo ao sair um desarranjo na maquina do Iberá, que alterou um tanto o plano de ataque.
Abaixo de Corrientes, cerca de duas léguas, ostentava-se a nossa esquadra, composta dos vapores de guerra: Belmonte, Mearim, Beberibe, Ipiranga, Amazonas, Jequitinhonha, Parnaíba, Iguatemi e Araguari, ancorados á margem direita do Paraná, entre as pontas do mesmo nome e de Santa Catarina.
Importando executar á risca as ordens do ditador, a abordagem foi tentada logo ao dobrar a ilha Palomera. Aproaram os navios contra a corrente do Paraná, como para executá-la; o renhido canhoneio dos rodízios de popa dos vapores brasileiros, porém, fê-los recuar. Depois deste rechaço, a esquadra paraguaia, avançando, colocou-se em frente ás bocas do Riachuelo.
As 9 horas, distinguem-se nuvens de fumo anunciando a aproximação de navios inimigos. Do tope de vante de um dos nossos vasos de guerra ouvem-se vozes de Navio á proa! Em seguida de Esquadra inimiga á vista.
Imediatamente a Mearim, a cujo bordo se achava Barroso, iça o respectivo sinal.
Rufam tambores e trilam os apitos no convés de todos os vapores de nossa divisão. Barroso desfralda sinais, que ordenam: Preparar para combate! E manda despertar os fogos abafados; Largam-se as amarras sobre as bóias; acham-se em bateria as peças e rodízios; os encarregados da munição descem pressurosos aos paióis e voltam trazendo balas e metralhas, que empilham aos lados das baterias. Atiradores guarnecem as gáveas.
A esquadra inimiga apontou, indo na frente Paraguary, seguido de Igurey e depois Iporá, Salto, Pirabebé, Jujuy, Márquez de Olinda e Tacuary.
Neste embarcara, em Humaitá, o velho marinheiro Messa, com a senha de abordar violentamente e, segundo as circunstancias, um ou mais navios, sem medir sacrifícios.
A nossa esquadra põe-se em movimento, iniciando a marcha a canhoneira Belmonte, cuja guarnição se mostra ansiosa. Seguem após Amazonas, para cujo bordo de transferira Barroso, e, na mesma linha, avançam, Beberibe, Mearim, Araguari e os demais.
Já no tope do navio capitania vê-se o sinal de O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever e, em seguida, este outro Bater o inimigo que estiver mais próximo
A nossa esquadra ia, de fato, ao encontro do inimigo. Jequitinhonha, ao passar em frente á embocadura do Riachuelo, encalha, dando se então fortíssimo tiroteio entre as forças do navio e as de Bruguez, ao alto do barranco.
Três navios paraguaios tentam abordá-la; a canhoneira, porém, cuja tripulação a custo consegue safá-la, prossegue, obrigada a uma luta desigual, em que a nossa maruja se vê constantemente a beira das baterias inimigas. Quadro indescritível oferece, então, esse vaso de guerra, com a sua proa, as amurada, as vergas e os mastros, os escaleres, tudo, enfim, reduzido a estilhaços, que concorrem para por fora de combate os nossos soldados e oficiais mais ousados.
Morre Lima Barroso e, junto dele, tem a mesma sorte o pratico André Motta; 17 inferiores tombam quase de assentada. Recebem ferimentos o chefe Gomensoro, Freitas, Lacerda e Castro Silva, firmes nos seus postos.
Desce agora o Parnaíba: outra abordagem pelos navios Salto, Paraguary e Tacuary. Tão certeiros são os disparos da Jequitinhonha sobre Paraguary, que este retrocede logo.
Os outros navios atacantes encostaram-se, porém, a bombordo e a estibordo da Jequitinhonha; Garcindo, no passadiço, concita a tripulação á resistência; Firmino Chaves, em brados de entusiasmo, Pedro Afonso Ferreira e Maia, á frente dos seus navais, relutam com denodo.
O Marques de Olinda, vem em socorro dos seus e despeja no convés da Parnaíba centenas de bravios guaranis, armados de sabres, machadinhas e revolveres. Eram os famigerados do Sexto de infantaria, que já se haviam triste e indignamente celebrado nas carniçarias de Mato Grosso.
Dá-se, então, combate, peito a peito, pulso a pulso, que remata em horrível carnificina. Greenhalgh consegue derrubar, a tiro, um oficial paraguaio, que o intima a arriar o pavilhão; mas, logo após, cai morto ás arguçantes cutiladas de sabre a duas mãos; Pedro Affonso e Maia, defendendo-se, caem mutilados; Marcilio Dias, batendo-se contra quatro, mata dois de seus adversários, morrendo em seguida aos golpes de afiadas machadinhas dos outros dois. Após uma hora de nutrida e porfiante contenda, o inimigo consegue Apossar-se do convés desde a popa ao mastro grande. Os oficiais, escudados pelas peças, fuzilam-no, ás incessantes investidas. Mearim e Belmonte, respectivamente sob os comandos de Eliziario Barbosa e Abreu, acodem oportunos.
Os abordantes abandonam os companheiros, que haviam galgado o convés da Parnaíba, e fogem aos primeiros tiros daqueles navios. A bordo da Parnaíba chegara-se a vacilar um instante, quase se perdendo a esperança de repelir o inimigo, que se multiplicava com os ininterruptos esforços; Garcindo, seu brioso comandante, á iminente ameaça daqueles reforços, chega mesmo a combinar com o imediato Felippe Rodrigues Chaves que, em ultimo caso e como medida extrema, lançariam fogo ao paiol, fazendo voar o navio em estilhaços, e, como visse repletas chalanas inimigas se aproximarem, transmitiu aquelas ordens ao oficial, escrivão Correa da Silva, que acendendo o charuto, se dispôs a obedecer no instante; a guarnição, entretanto, reanima-se e, investindo contra os paraguaios, que em vertiginoso delírio se batiam á louca, aos gritos de - mata! degola! , tapetam o convés com seus cadaveres, que rolam por dezenas. O Amazonas, que até então sustentara vivíssimo fogo contra as baterias de Bruguez, percebe, através da espessa fumaça, o que se passa a bordo da Parnaíba, e vem-lhe em socorro, no momento mesmo em que o Márquez de Olinda chegava para reforçar a abordagem: contra este investe o Amazonas, que o afunda a proadas. O Tacuary tenta escapar-se a idêntica manobra do Amazonas; este, porém, persegue-o, e mete-o a pique, igualmente ás bicadas de proa. Ipiranga, sob o comando de Alvaro de Carvalho e que, bem como aquele, respondia ao tiroteio da baterias de Bruguez, vem, por sua vez, em defesa do Parnaíba, e com certeiros disparos arromba logo o costado e as caldeira do Salto, cuja tripulação, em alarido, atira-se na água, á fuzilada dos nossos.
Segue-se agora o Ipiranga no encalço do Paraguary, crivando-o de metralha.
A Beberibe, cujo comandante Bonifacio de Sant'Anna se mostrara de inaudita bravura, persegue os navios inimigos. O comandante da Iguatemi, ferido, é levado em braços para o camarote; o imediato Oliveira Pimentel, substituindo-o, é decapitado por uma bala; assume o comando o jovem Gomes dos Santos, que auxilia o tiroteio.
O Ipiranga, ao mando de Alvaro de Carvalho, faz submergir uma chata que, a distancia, dirige certeiros tiros aos costados dos navios: a tripulação, estilhaçada, trombulha, descendo na correnteza; no Araguary, Hoonholts bate-se com denodo; contra o navio de se comando voltam-se os que atacavam a Parnaíba, auxiliados agora pelo Tacuary, que recuara aos disparos dos rodízios do Ipiranga.
Os flancos dos navios brasileiros, despedaçados pelos canhonaços das chatas a lume d'agua, tornam iminente a submersão total da esquadra. Bombas metralhas esfuziam do alto dos barrancos: não é possível descrever o que se passa a bordo dos navios ao alcance das balas, que sibilam em chuveiros.
Entretanto, alguma coisa de providencial se passava, que cumpre não esquecer: quando o oficial-escrivão da Parnaíba, depois de haver tragado, para atiçá-lo, algumas fumaças do fatídico morrão que deveria comunicar o fogo ao paiol, pensa cumprir a sinistra ordem ouvem-se alvissareiros vivas que, irrompendo dos navios brasileiros em delírio, o detém estupefato. E de pé, sobre a caixa das rodas, destaca-se afina, por entre densas nuvens de fumo, o vulto imponente de Barroso, que é o primeiro a bradar - Vitória!
E este triunfo naval, que tão diretamente influíra nos destinos de toda a campanha, mudou também, e inteiramente, a sorte dos adversários.
Robles não mais prosseguiu na invasão de Entre Rios; Estigarribia, isolado nas margens do Uruguai, depões as armas; Lopez, recolhendo-se a temporária defensiva, volta-se contra os seus: Robles ao regressar é fuzilado por covarde. As nossas perdas foram de 216 combatentes entre mortos e feridos
O inimigo teve fora de combate, a bordo, entre mortos, feridos, afogados, comprimidos pelos costados dos navios e prisioneiros, 1.500 praças, aproximadamente; em terra, Bruguez perdeu 1.750, o tudo perfaz 3.250; mais elevada foi, entretanto, a estimativa de inteligentes oficiais prisioneiros. E a esquadra avança, avança sempre, em demanda de novas e estrondosas vitórias.
Fonte: Almanaque "Eu sei tudo", na seção "PAGINAS ESQUECIDAS", artigo "COMBATE DO RIACHUELO", do Dr. Pires de Almeida, em 1918.
Abaixo, uma versão não tão apaixonada quanto a anterior, mas que retrata fielmente a manobra do Almirante Barroso.
O efetivo da Marinha de Guerra Brasileira desembarcou para prestar homenagem à memória do almirante Francisco Manoel Barroso da Silva, junto à estátua dos heróis da Batalha do Riachuelo. As guarnições deixaram a frota por volta do meio-dia e desfilaram pelas ruas Primeiro de Março, Visconde de Inhaúma e avenidas Rio Branco e Beira-Mar, até chegarem à Praia do Russel. As comemorações dos 50 anos do combate que mudou os rumos da guerra contra o Paraguai duraram até o anoitecer quando as tropas regressaram ao Arsenal de Marinha.
A Batalha do Riachueleo foi travada no rio Paraná entre as esquadras do Brasil e do Paraguai. Depois de seis meses de guerra, a cidade de Uruguaiana estava ocupada por 10 mil homens, e Corumbá, por 2 mil. A Argentina perdera a Província de Corrientes. O Exército paraguaio tinha quase o dobro do efetivo da Tríplice Aliança, formada pela Argentina, Brasil e Uruguai para conter o expansionismo de Solano López. A conquista do rio Paraná decidiria o conflito. Se os paraguaios o conservassem, poderiam abastecer suas tropas e até avançar. Caso a Tríplice Aliança o ocupasse, seria possível anular as conquistas paraguaias e levar a guerra ao próprio território do Paraguai.
Os navios brasileiros receberam a missão de bloquear os portos paraguaios, e quando navegavam rio acima a esquadra inimiga atacou. Barroso mandou hastear no mastro do navio Amazonas o lema: "O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever", seguido de outro, com instruções de combate: "Atacar e destruir o inimigo o mais de perto que cada um puder". Foi então que as tropas paraguaias escondidas na margem do rio abriram fogo. O bombardeio vinha de todos os lados e empurrava a esquadra brasileira para os bancos de areia. Duas canhoneiras encalharam e houve luta no convés por mais de uma hora.
A Fragata Amazonas
Manobra do almirante Barroso muda os rumos da guerra
A situação estava confusa. Então, aproveitando o fato de a sua fragata ter rodas laterais de propulsão e construção sólida, o almirante Barroso avançou com a proa do Amazonas para cima das embarcações inimigas, numa manobra inédita. Naquele momento, subiu o terceiro e último sinal na batalha: "Sustentar o fogo que a vitória é nossa"!
Três navios paraguaios ficaram inutilizados, e ao perceberem as perdas os comandantes das demais embarcações fugiram rio acima, deixando para trás quatro barcos, e seis baterias flutuantes, com um total de 1.500 homens.
A incrível tática de Barroso venceu a batalha e, além de impedir que Solano López invadisse a província de Entre Rios, acabou com a marcha vitoriosa do presidente paraguaio, que passou à defensiva militar até ser finalmente derrotado. A Guerra do Paraguai foi o confronto mais sangrento da Américo do Sul e ainda durou mais dois anos.

Fonte: JBlog de 11/06/2009

PS: Se a situação estava confusa para o Almirante Barroso, imaginem para mim ao ler que sua embarcação tinha rodas laterais de propulsão e construção sólida!!!!

terça-feira, 8 de junho de 2010

O Dia Mundial dos Oceanos e a British Petroleum

Hoje é o Dia Mundial dos Oceanos, que começou a ser celebrado em 8 de junho de 1992, durante a Rio-92, na cidade do Rio de Janeiro. No momento, esta data ainda não foi oficialmente estabelecida pelas Nações Unidas. A data foi criada com a finalidade de, a cada ano, fazer um tributo aos oceanos e aos produtos que eles fornecem, tais como frutos do mar.
Oceanos como devem ser, com vida...
Não é apenas isso. Para quem pensa que a Amazônia é o pulmão do mundo, é interessante conhecer os microorganismos mais importantes do momento no planeta, os fitoplânctons.
Fitoplânctons são minúsculas plantas marinhas que florescem sob águas frias e ricas em nutrientes. A notável coloração é causada pela reflexão da clorofila produzida pelos organismos, que assim como as plantas terrestres, usam o processo de fotossíntese para criar carboidratos a partir de dióxido de carbono e água.
Nesta imagem, feita no dia 18/12/2009 pelo satélite de sensoriamento remoto Aqua, vemos uma grande e densa mancha azul-esverdeada, formada pela florescência de fitoplânctons ao leste da Patagônia, na Argentina.
Foto tirada da Apolo XI, monitorando o meio-ambiente
No caso desta imagem, a corrente das Malvinas, vinda do Sul, se desloca para o norte e encontra a Corrente do Brasil, que se movimenta ao longo da costa leste da América do Sul. A região onde as correntes se encontram é grande, mas varia de tamanho e localização. Dentro dessa zona, o choque entre as correntes frias e quentes agita ainda mais as águas do oceano, fazendo com que as águas frias e profundas, ricas em nutrientes venham à superfície. Essa água age como um fertilizante, necessário ao crescimento das plantas.
A elevação das temperaturas da água do mar, verificada nas últimas décadas, vem provocando uma diminuição considerável na quantidade desses microorganismos. Repare no canto superior da imagem, parte da costa Argentina, mais precisamente a região de Baía Blanca.
Pois é em pleno Dia Mundial dos Oceanos que temos de vivenciar as proporções alarmantes da explosão da plataforma Deepwater Horizon, operada pela empresa petrolífera British Petroleum (BP), no golfo do México, ocorrido no dia 21/05, no qual morreram 11 pessoas, e que parece não ter fim.
A área da mancha de petróleo formada após a explosão triplicou de tamanho rapidamente aumentando a tensão entre os especialistas de que o desastre possa ser muito maior do que o estimado.
O vazamento de petróleo no Golfo do México
No entanto, face à integração dos ecositemas e à disseminação dos elementos tóxicos no meio líquido do Oceano Atlântico, as perdas finaceiras previstas jamais revelarão o volume de perdas econômicas numa perspectiva ecológica.
A British Petroleum (BP) instalou um novo dispositivo para conter o derrame de petróleo no Golfo do México, que, só no primeiro dia, permitiu a recuperação de 950 mil litros de petróleo. Imaginem o tamanho desta catástrofe. Infelizmente, quem mora nos grandes centros, longe da natureza, não tem a exata noção do que seja isso.
As ações da BP despencaram nos mercados financeiros em todo o mundo, mas e as perdas ambientais? Atualmente, não se tem um consenso de como medi-las, se é que existe um meio de fazê-lo.

Fonte da foto: Apolo11 
http://www.apolo11.com/meio_ambiente.php?posic=dat_20061226-080910.inc

sábado, 5 de junho de 2010

Paris, a Cidade Luz ? – Parte III - Final

Quem me conhece sabe que sou extrovertida e educada no trato com todos, passando pelos seguranças nas lojas, os atendentes na padaria, mercado, lojas de flores, livrarias, pessoal da limpeza em banheiros, todos, sem exceção. Falo francês fluente e fiz meu curso na Aliança Francesa do Rio de Janeiro nos anos 70.
No geral, fui bem tratada em Paris por conta destes predicados e também por eu sempre interagir com todos, sem discriminação ou preconceitos.
O approach com os franceses é inegavelmente difícil. Sempre foi. Diferentemente de outros povos, os franceses têm um pragmatismo muito peculiar. Eles, em princípio, não querem te atender, mas se realmente tiverem de fazê-lo, vão te dar o mínimo necessário de atenção, sempre monossilábicos nos diálogos, que para eles é algo meramente comercial. E não estão errados. Uma vez finalizada a venda, acabou. O vendedor te entrega o pacote e diz ‘merci’, ‘bonne journée’ e vira as costas. Você agradece aos ventos e sai da loja. Esse é o normal na cidade. Eles são assim e eu respeito.
Entretanto, existem situações em que eu acho inadmissível a falta de educação e má vontade em atender o público, principalmente quando a pessoa está ali para atender o público.
Tive um probleminha com informações no metrô, na estação Ternes. Ali, só faltou eu apanhar porque precisava de mais de uma informação da senhora que estava ao telefone em ligação particular e teve de desligar para me atender. Isso a incomodou muito. Afinal de contas, que diacho eu tinha de aparecer lá no guichê de informações justo no melhor momento da sua fofoquinha diária por telefone? E o que é pior, eu precisava da informação que ela TINHA para me dar. Eu recebi duas respostas simples e objetivas: "Je ne sais pas, madame." "Je ne sais pas, madame." E tudo dito jocosamente. Isso eu não tolero. Respondi à altura em francês. A senhora não esperava e me respondeu, eu respondi mais uma vez, terminei a frase, dei as costas e saí dali.
Fui a uma locadora de automóveis e resolvi o problema. Conclusão: não conheço o metrô de Paris depois da sua junção com os trens urbanos. Em 2001, quando lá estive pela primeira vez, o metrô estava em greve. Tentei uma das estações principais que estava funcionando precariamente e tudo que trouxe de lembrança foi a imagem de um camundongo muito "fofo" saindo debaixo dos bancos em que estávamos sentados, esperando por uma composição que não apareceria.
Debatendo este assunto em uma comunidade da qual faço parte no Orkut, uma das participantes abriu um novo tópico, com o seguinte título, “Dicas para sermos bem vistos pelos franceses”. Abaixo, ela dizia: “O que vocês acham desse tópico, onde poderemos compartilhar as fórmulas que usamos e que deram certo, ou então o que não deu certo, para evitar que nossos conterrâneos cometam os mesmos ‘erros’?”
E ela com verdadeira boa vontade enumerou uma série de “dicas” de como se portar em Paris em diversas situações. Na verdade, tudo o que a pessoa escreveu foi uma lista de atitudes de boa educação, nada além disso.
Então, eu respondi: “Todas as suas outras ‘dicas’ de como cativar os franceses, são nada mais do que o mínimo de educação de berço que se deve ter em qualquer lugar, independentemente de estarmos em Paris ou no Rio de Janeiro. Até porque foi aqui no Rio que aprendi tudo o que você mostrou nos seus posts.
Sobre abrir a carta de vinhos, o cardápio, fazer suas escolhas e fechá-lo, pois este é o código para os garçons e maitres se aproximarem da nossa mesa para comandar, eu aprendi em casa para que fosse usado na minha cidade. E sempre fiz isso durante meus 50 anos de vida”.
Segundo esta mesma pessoa, no Brasil, temos a cultura de ser ‘serviçais’. “Então, quando chega um turista estrangeiro, o brasileiro já sacode o rabinho (sic), pois sabe que se ele se virar na língua do cliente, vai receber uma boa gorjeta!” Não concordo com essa visão. Os brasileiros não são ‘serviçais’ porque atendem bem os turistas, são educados e hospitaleiros. Tão simples quanto isso.
Outro ponto é: Por que nós turistas temos de ser bem vistos pelos franceses? Eu não devo nada a eles. Portanto, eu os tratarei como trato qualquer pessoa no mundo inteiro, educadamente. 
Num primeiro instante, os franceses, quando escutam você falar francês com sotaque (pois esse não se perde, mesmo sendo fluente na língua), eles imaginam que você é mais um imigrante. Quando entendem que você é turista, apenas de passagem, a coisa melhora.
Vou contar aqui meu segundo e último, graças a Deus, incidente com a falta de educação dos franceses. Estive em Giverny, localidade próxima à Paris, onde fica a casa em que morou o pintor impressionista, Claude Monet. Lá estão também seus esplendorosos jardins. Existem hoje, em frente ao museu em que se transformou a casa de Monet, um restaurante, lojinhas de souvenirs e um estacionamento.
Antes de entrar no museu, eu e minha filha, decidimos almoçar, pois já passavam das 13 horas e, ao sair do museu, poderíamos encontrar o restaurante fechado. Então, entramos no restaurante, que estava relativamente vazio, e nos dirigimos ao terraço coberto, onde almoçava uma família. Procurei uma mesa próxima à janela, mas a que havia era redonda para mais de 4 pessoas. Tentei, então, encontrar uma mesa para 2 pessoas e não estava conseguindo. Neste exato momento, entrou uma família de alemães e o garçon os acompanhou pedindo que ocupassem um mesa para 4 pessoas perto daquela redonda que eu havia gostado. Fiquei de pé aguardando que o garçon ficasse livre para nos atender. Enquanto isso, um outro garçon da casa se aproximou e foi limpando a tal mesa redonda e me perguntou quantas pessoas eram. Eu disse que éramos apenas 2 pessoas e ele disse “sem problemas, podem sentar aqui”, apontando a mesa redonda que acabara de limpar para nós. Por este motivo sentamo-nos à mesa. No momento em que eu pegava meus óculos e levantei a cabeça, deparei-me com o primeiro garçon (o que atendeu a família de alemães) aos gritos me perguntando “o que a senhora está fazendo sentada aí?” Eu ainda respondi que o colega dele me disse para sentar ali. E, aos gritos, ele disse “não pode, aí não pode, essa aqui é a minha sala e ninguém diz onde sentar, só eu”. “Quem mandou a senhora sentar aí?” Bem... Diante disso, levantei-me e gritei para todo o restaurante ouvir em bom francês que “se esta é a sua sala, senhor, e é o senhor quem manda nela, eu estou no lugar errado, pois aqui não há sala para me receber”. Virei-me e saí do restaurante, com o garçon me seguindo, dedo em riste, gritando, até eu por os pés fora do estabelecimento.
A profusão de cores dos recantos do jardins da casa de Claude Monet

Antes de entrarmos na fila do museu da casa de Monet, sem almoçarmos, respiramos várias vezes, bem fundo, porque aquele francês boçal não estragaria o espetáculo com que a natureza nos brindou naquela tarde.
Há pessoas educadas e mal-educadas, polidas e não-polidas em todos os lugares do mundo. Mas repito... O approach com os franceses é como andar no fio da navalha. Mas esta é a minha opinião. Por favor, não a sigam, pois eu não sou a dona da verdade.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Paris, a Cidade Luz ? – Parte II

Paris precisa mudar? NÃO!!! Definitivamente, não. Mas tudo nesse planeta evolui naturalmente com o passar do tempo. E eu acho, sim, que a Cidade Luz precisa evoluir sem, no entanto, mudar. E, creiam-me, isso não é uma impossibilidade, apesar de parecer paradoxo.
Hoje vou me ater a falar do trânsito na cidade, que me surpreendeu bastante. Quero, antes de mais nada, dizer que estou me referindo aqui à parte central da cidade de Paris, ou seja, os seus 20 arrondissements.

O que são estes tais arrondissements?
Os arrondissements de Paris correspondem a uma divisão administrativa que decompõe a comuna (menor subdivisão administrativa do território) de Paris em 20 arrondissements municipais. Cada um deles está subdividido administrativamente em 4 bairros (quartiers), que correspondem aproximadamente às direções noroeste, nordeste, sudoeste e sudeste do respectivo arrondissement. Os 20 arrondissements estão distribuídos segundo uma espiral que se desenvolve no sentido dos ponteiros do relógio a partir de um ponto central da cidade localizado no Louvre, que é o 1º arrondissement. É por isso que os números mais baixos correspondem a arrondissements mais centrais e números mais altos a arrondissements mais distantes do centro da cidade.

Os 20 arrondissements de Paris em "caracol"
Voltando ao assunto foco deste post...
A grande massa de pessoas que circula na cidade usa o metrô, que é, sem dúvida, eficiente, visto que ele está integrado ao sistema de trens urbanos. Outra parte da população utiliza bicicletas para se movimentar na cidade. Existem ciclovias pela cidade. Mas elas ainda não existem em 100% das ruas da cidade, o que é mais do que natural.
Bem, sobre as ciclovias de Paris, li no blog da revista Veja, o artigo de Denis Russo Burgierman, escrito em 16/09/09, o seguinte: “Uma coisa interessante, em Paris, é que onde não há ciclovias ou ciclofaixas, a faixa de ônibus é compartilhada com as bicicletas. E os ônibus respeitam. Mantêm distância das bicicletas e não ultrapassam, mesmo que seja um velhinho pedalando devagar com uma baguete debaixo do braço.”
Ciclofaixa em Paris próxima à Ponte Alexandre III
Hoje essa afirmação não é verdadeira. Não sei se em setembro de 2009 era assim. Acredito que não. Hoje, as bicicletas realmente convivem com os ônibus e automóveis, pois a faixa seletiva para os ônibus também serve aos táxis, como é aqui no Brasil. Mas... Quem disse que essa convivência é pacífica? Os ônibus são mais respeitadores, mas os táxis... Santo Deus! Nas poucas vezes em que estive em um deles como passageira, vi os motoristas fazerem coisas inacreditáveis. E o mais interessante é que eles se fecham uns aos outros, avançam sinais vermelhos, fecham os cruzamentos e tantas outras coisas, e ninguém se estressa com ninguém. Não vi xingamentos no trânsito da cidade. Isso porque os carros de passeio também fazem a mesma coisa. Acredito que para eles, motoristas parisienses, isso é totalmente normal. Até porque o trânsito, por incrível que pareça, flui. E algo muito interessante, você não vê automóveis amassados ou batidos. Eu mesma só vi um único espécime.
Vélib - Alugar uma bicicleta e andar livremente por Paris.
A única coisa que não entendo é que não há guardas de trânsito em Paris. Só os vi uma vez, quando os sinais estiveram com defeito por algumas horas, deixando as cercanias da Rue de Rivoli enlouquecida. Poucas horas depois, quando saí do Louvre, os sinais já estavam funcionando normalmente e tudo voltara ao “normal”; os carros fechando as motos e as bicicletas, avançando sinais vermelhos descaradamente, como se isso fosse normal. Enfim, o trânsito de Paris é um caos que funciona. Acreditem.
As rotundas em Paris. Todos os sentidos são permitidos ao mesmo tempo.

Como pedestre o caos é o mesmo. Em uma cidade onde há um número grande de idosos circulando pelas ruas, vi os motoristas de automóveis (incluindo os táxis) desrespeitarem os pedestres idosos que atravessavam a rua, inclusive aqueles que usam bengala.
Em uma oportunidade, aconteceu comigo. Eu estava atravessando a Avenue Des Ternes, na esquina com a Mac Mahon, no 17ème, e um casal de idosos, ambos de bengala, atravessavam devagar a avenida, na faixa reservada aos pedestres e durante o tempo de sinal aberto para nós pedestres. Repentinamente, uma jovem dirigindo seu automóvel, com seu cãozinho no banco de trás, avançou, insolente, o sinal vermelho e, por um triz, a senhorinha de bengala e também esta que vos fala, não voamos pela avenida. O ciclista que vinha em sentido contrário gritou, mas de nada adiantou. E vocês pensam que alguém se espantou com o acontecido? Ninguém. Entendi, de uma vez por todas, que aquilo era comum no cotidiano do trânsito da cidade.
Ainda uma consideração. Os estacionamentos. Eles existem por toda a cidade e são subterrâneos, o que é ótimo, mas são caros para o dia a dia. Então os motoristas resolvem o problema facilmente. Estacionam seus carros onde há uma vaga disponível, mesmo que seja exatamente na junção que faz a esquina de duas ruas de movimento considerável. E saem para seus afazeres calmamente. Multas? Só vi uma guarda feminina uma vez anotando automóveis parados na porta dos Jardins des Tuileries. Mas aí já seria demais não serem multados.

 O trânsito de pedestres nas calçadas...
Não adianta querer ser apressado ao andar pelas ruas de Paris. Os franceses são lentos, o tempo deles é outro, não tente fazer comparações. Acho que eles param para pensar em questões existenciais no meio das calçadas. Eles param repentinamente no meio do caminho e fazem “cara de paisagem”, como se nada fosse com eles.
Mas se você realmente estiver com pressa saia empurrando e dizendo “pardon, pardon”; como manda a etiqueta que eles inventaram, mas não praticam.

Bem... Até a Parte III da Cidade Luz. Ainda há muito o que falar sobre ela.