terça-feira, 28 de setembro de 2010

Quem disse que o Brasil não tinha seu Al Capone?

Hoje, assistindo à gravação da sessão plenária extraordinária de ontem do STF, senti a alma lavada como cidadã. A sessão do julgamento do deputado federal Tatico, um cara-de-pau, como há muito eu não via, mostrou claramente que pelo menos a nossa Corte Máxima não está no mesmo nível do legislativo. Ao contrário, vocês verão mais abaixo no texto, porque a sessão foi convocada rapidamente e julgou o processo com a agilidade merecida por este caso patético.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal condenaram, na sessão extraordinária de ontem (27/09), a 7 anos de prisão em regime semi-aberto e 60 dias-multa, o deputado federal José Fuscaldi Cesílio, mais conhecido como José Tatico, do PTB-GO, pela prática dos crimes de apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária. Por unanimidade de votos, foi acolhida a Ação Penal (AP 516), na qual o Ministério Público Federal denunciou o político com base em ação fiscal realizada na empresa Curtume Progresso Indústria e Comércio Ltda. A filha de Tatico, Edna Márcia Cesílio, sócia no curtume, foi absolvida por não haver como atribuir a ela qualquer responsabilidade pelos fatos narrados na denúncia.
Mas a pergunta aqui é, por que em sessão extraordinária? Ora, meus caros, observem o detalhe deste motivo. O julgamento ocorreu em sessão extraordinária convocada para ontem (27/09), um dia antes de o deputado completar 70 anos de idade, quando o prazo de prescrição do crime reduziria pela metade, o que poderia inviabilizar a condenação. O máximo, não?! Não sei se é para rir ou para chorar dessa situação.
A defesa de Tatico alegou que ele nunca exerceu qualquer ato de gerência ou administração no curtume pelo fato de ter outorgado, em 1983, procuração em favor do filho, conferindo-lhe plenos poderes para administrar a empresa. Em plenário, porém, os ministros não se convenceram com o argumento e, por unanimidade, condenaram o deputado federal, que deverá perder o mandato tão logo o acórdão do julgamento de ontem seja publicado. Os advogados de Tatico podem apenas entrar com os recursos conhecidos como embargos de declaração, cuja finalidade é solucionar algum tipo de contradição, omissão ou obscuridade ocorridas durante o julgamento. Tatico deverá cumprir a pena quando o caso transitar em julgado, depois do julgamento dos possíveis embargos. Quando isso ocorrer, ele perderá seus direitos políticos até que cumpra toda a pena. Ou seja, dentro de 7 anos o impoluto Sr. Tatico “rides again”. Algúem tem alguma dúvida?
No ano passado, Tatico alterou seu domicílio eleitoral para Minas Gerais, onde está em campanha novamente para o cargo de deputado federal. O parlamentar também já exerceu mandato na Câmara dos Deputados pelo Distrito Federal. Um perfeito viajante do mundo eleitoral, não?! Além da pena de 7 anos de prisão, os ministros condenaram Tatico ao pagamento de multa de R$ 6 mil. "Ficou inequivocamente estabelecido nos autos que ele fazia o desconto e não os repassava à Previdência Social. Ele sonegou remunerações pagas aos funcionários", afirmou o procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
José Tatico é novamente candidato a deputado federal, desta vez por Minas Gerais. O TRE do Estado já indeferiu sua candidatura, mas ele ainda aguarda o julgamento de um recurso no TSE. Enquanto isso, ele pode fazer campanha, apesar do julgamento no STF. O deputado é dono de supermercados populares no entorno de Brasília. Tatico ainda responde a outra ação penal no STF, que não foi julgada. Trata-se de acusação por furto de carga. Cara-de-pau é elogio para essa criatura!


O ex-deputado federal José Fuscaldi Cesílio, o Tatico.

Materialidade dos delitos
O relator, ministro Carlos Ayres Britto, anotou a pena máxima cominada aos delitos imputados ao parlamentar de 5 anos de reclusão para ambos os crimes. Em seguida, ele entendeu estar configurada a materialidade dos dois delitos imputados ao parlamentar. Ele observou que há extensa documentação que detalha a prática dos crimes de apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária. O relator demonstrou que o INSS teve o cuidado de fazer uma demonstração detalhada dos fatos geradores da sonegação da contribuição previdenciária "e com precisa indicação de cada uma das notificações de lançamento de débito".


Ministro Ayres Britto, o Relator

Indícios de autoria
Para o ministro, há indícios suficientes de autoria. Tatico seria sócio-gerente da empresa desde a época em que foi constituída, em 1993, até o momento, situação que permanece, apesar de, atualmente, a empresa estar desativada. Assim, ele teria responsabilidade penal em relação à Curtume Progresso Indústria e Comércio Ltda. e, portanto, sobre os fatos apurados. O voto do ministro relator foi acompanhado, na íntegra, pelo ministro revisor da ação penal, Joaquim Barbosa. Segundo ele, o argumento da defesa de que Tatico nunca exerceu qualquer ato de gerência ou administração no curtume pelo fato de ter outorgado, em 1983, procuração em favor do filho, conferindo-lhe plenos poderes para administrar a empresa, não se sustenta. "Conforme ressaltou o Ministério Público, apesar da outorga de poderes de gerência do curtume ao filho Edmilson José Cesílio, o réu não se viu privado de tais poderes, tal como demonstrado aqui pelo ministro relator, o que autoriza a conclusão de que ele também era responsável pelos atos de gestão", disse Joaquim Barbosa.


Joaquim Barbosa, Ministro revisor da ação penal
Ao votar pela condenação de Tatico, o ministro Toffoli afirmou que a defesa também não conseguiu comprovar que o débito previdenciário é objeto de parcelamento junto à Previdência Social. "Aliás, essa demora em fazer uso do dispositivo de parcelamento indica que a defesa apostou numa eventual prescrição para se furtar do pagamento da dívida. A legislação brasileira usou do dispositivo da penalização como um instrumento para obrigar o pagamento do débito fiscal, dando o prazo máximo para a extinção da punibilidade, mas parece que, no caso em questão, a única maneira de se lograr que a Previdência Social receba esses valores é a condenação", disse o ministro. A ministra Cármen Lúcia acompanhou o relator, afirmando não haver dúvidas tanto em relação à autoria do crime, quanto a todos os comportamentos penalmente imputados a Tatico e devidamente comprovados. Os ministros Gilmar Mendes e Ellen Gracie também acompanharam o relator, assim como o ministro Marco Aurélio. Para ele, as alegações da defesa não subsistem. "No caso em questão, o deputado tinha a gerência da pessoa jurídica, o que atrai a responsabilidade subjetiva. Já o parcelamento teria sido obtido em 2009, mas só em julho último foi recolhida a primeira parcela. Logicamente, tem-se aqui o inadimplemento. Não há nada após o recolhimento tardio da primeira parcela que indique a subsistência do parcelamento", concluiu Marco Aurélio.
Relator do processo, o ministro Ayres Britto avisou que o resultado do julgamento será comunicado à Justiça Eleitoral, que poderá ainda incluí-lo como ficha suja.




segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Encontrei o Endereço do Éden

Na sexta-feira, 24/09, fiz um post com belas fotos primaveris para celebrar a chegada da nova estação. Dentre as fotos que postei, a última era essa aqui abaixo, com a seguinte legenda: “Não sei onde fica este jardim, mas é, certamente, uma das entradas do paraíso.”


Ontem à noite li o comentário de um amigo dizendo no post o seguinte: “Esse jardim misterioso deve ficar em Vitória, no Canadá, ouso arriscar, no interior do "The Butchart Gardens", talvez os mais belos jardins do mundo!”
Como assim, caro amigo?!?!?! Eu vivi até hoje sem saber da existência do Butchart Gardens e ninguém fica indignado?! Corri imediatamente para meu médico particular, Dr. Google, e ele me atendendo numa consulta de emergência, pois já era bem tarde (passava da meia noite), me tranqüilizou dizendo que é exatamente isso. Trata-se do Butchart Gardens. Disse-me ainda que esse fenômeno acomete pessoas desavisadas mas, que depois de descobrirem-no logo no início, rapidamente resolve-se o problema. Bastam passagens de ida e volta à Vancouver, na British Columbia, no Canadá, para um tratamento durante o verão, outono ou, preferencialmente, na primavera. Dr. Google, sempre muito solícito, me mostrou centenas de fotos e filmes de vários jardins no entorno da cidade de Vancouver. The Butchart Gardens fica em Victoria, na Ilha de Vancouver (não na cidade de Vancouver). No entanto, no entorno desta belíssima cidade, há outros Jardins do Éden que só ontem durante a madrugada (lógico que recusei-me a dormir antes das 02h de hoje) fiquei sabendo que existiam. Só para citar alguns, The Van Dusen Bothanical Gardens, The Queen Elizabeth Park, The Stanley Park… Enfim, agora é só planejar com meu médico a data para o início do tratamento em Vancouver. Mas a pior parte nisso tudo é que em maio deste ano eu pensei que tivesse ido ao Éden aqui mesmo no planeta Terra, Le Jardin de Claude Monet em Giverny, na França. Ohh, Céus!!! Fiquei meio desconcertada... “Pauvre Jardin de Monet”. O que vou dizer ao meu eleitorado francês a essa altura do campeonato? Bem, o que não tem remédio, remediado está. Ooppss... Melhor dizendo, claro que tem remédio... Uma ida a Vancouver. :))

Lá vai a história... Como tudo começou... The Butchart Gardens

Em 1888, próximo o local de seu nascimento, Owen Sound, Ontário, no Canadá, o ex-comerciante de bens secos (como chamavam à época, secos e molhados), Robert Pim Butchart, começou a trabalhar com cimento numa indústria em Portland. Na virada do século XIX para o XX, ele tornara-se um próspero pioneiro nas indústrias que estavam em efervescência na América do Norte. Atraído à costa oeste do Canadá por sua abundância em depósitos de pedra calcária, vital para produção de cimento, ele construiu uma fábrica em Tod Inlet, na Península de Saanich. Lá, em 1904, ele e a família se estabeleceram.


O casal Jennie e Robert Butchart em foto do início dos anos 40.
Como Sr. Butchart exauriu a pedreira calcária próxima à sua casa, sua esposa Jennie, uma empreendedora, bolou um plano sem precedentes para renovar a cava exaurida e deserta deixada pela pedreira. Jennie requisitou, da área agrícola mais próxima, toneladas de terra da melhor qualidade possível. Toda a terra foi levada até Tod Inlet a cavalo ou de carroça e foi utilizada para revestir o “chão” da pedreira abandonada. Pouco a pouco, e sempre sob a supervisão de Jennie, da pedreira abandonada floresceu um jardim espetacular.

A mina de pedra calcárea já exaurida.
Em 1908, por conta das várias viagens do casal mundo afora, os Butcharts tinham criado um jardim japonês no lado da casa com vista para o mar. Depois, um jardim italiano foi criado no local do que fora a quadra de tênis e, em 1929, um jardim de rosas especiais substituiu uma horta mal arranjada que levava até a grande cozinha.
O Sr. Butchart se orgulhou do trabalho notável da esposa. Um de seus hobbies era colecionar pássaros ornamentais do mundo inteiro. Ele manteve patos característicos da região na Star Pond, pavões ruidosos no gramado dianteiro, e um miserável de um papagaio na casa principal. Ele adorava treinar pombos no local do atual Begonia Bower e teve muitas casas de pássaro bem elaboradas espalhadas através de todos os belíssimos jardins de Jennie.


O encantamento das aves soltas pelos jardins
Em 1915, a cidade pediu a um imigrante japonês e sua esposa que transformassem uma antiga pedreira abandonada em um jardim em estilo japonês. O Sr. Kimi Eizo Jingu concordou com a empreitada. Ele começou com uma casa de pedras, que existe ainda hoje e é cercada por arejados caminhos de seixos, uma ponte de pedra, uma cachoeira e lagos tranqüilos. O trabalho deste homem transformou a velha pedreira em um jardim pleno de lagoas alvas e uma vegetação de um verde luxuosíssimo. Com a II Guerra Mundial, o sentimento anti-japonês nos EUA cresceu e a assembléia municipal mudou o nome do jardim para Chinese Sunken Garden. Em 1983, seu nome original foi finalmente restabelecido, Japonese Sunken Garden.

The Butchart Gardens, Vancouver, BC, Canada






O renome da Sra. Butchart como jardineira se espalhou rapidamente. Nos anos 1920, mais de 50 mil pessoas por ano vinham para ver sua criação. Num gesto de carinho para com todos os seus visitantes, os hospitaleiros Butcharts batizaram a propriedade de "Benvenuto", que em italiano significa “bem-vindo”. Para estender as boas-vindas, foram compradas do jardim botânico de Yokohama no Japão, cerejeiras em flor, plantadas desde a Estrada West Saanich, ao longo da Avenida Benvenuto, até a entrada dos Butchart Gardens.

O antes e o depois

A casa dos Burtcharts cresceu e transformou-se numa luxuosa e confortável mansão para ser mostrada aos visitantes. Na casa há uma pista de boliche, piscina fechada de água do mar, sala de bilhar com lindos painéis e uma maravilha daquela época, início do século XX, um órgão “auto-tocante” de tubo eólico (ainda tocando nos sábados de Fogos de Artifício). Hoje, a residência conta com um Dining Room, o Restaurante Blue Poppy, um Coffee Shop, escritórios e quartos ainda usados para o entretenimento da família. De 15 de janeiro a 15 de março, uma recriação especial da casa da família Butchart é apresentada em forma de show.

The Butchart Gardens, Vancouver, BC, Canada






A única parte da fábrica de cimento do Sr. Butchart em Tod Inlet sobrevivente é a alta chaminé de um forno tão longo que parece não ter fim. A chaminé pode ser vista do mirante do Sunken Garden. A fábrica deixou de produzir cimento em 1916, mas continuou produzindo azulejos e vasos para flores até 1950. A solitária chaminé agora vigia a pedreira que a Sra. Butchart transformou de forma mágica.

A chaminé da antiga fábrica de cimento ainda de pé.

O Butchart Garden permaneceu um negócio familiar e cresceu para se tornar uma das principais atrações da costa oeste do Canadá, aberto à visitação pública, e ainda mantendo as atenciosas tradições de um passado cortez. Hoje, os jardins são reconhecidos internacionalmente. Atualmente, 1 milhão de pessoas por ano visitam ‘The Butchart Gardens’. A atual proprietária é Robin-Lee Clarke, bisneta dos Butcharts.

Notícia de última hora
A majestosa casa em Oak Bay, há décadas com o mesmo proprietário, o dono do ‘The Butchart Gardens’, está à venda desde a semana de 05/08 por $11.5 milhões. A propriedade de frente para o mar com a casa de pedras no 1069 Beach Drive, está situada num dos mais espetaculares locais da costa oeste do Canadá. A propriedade tem 1.18 hectares e é o atual objeto de desejo dos corretores de British Columbia.
Fonte: The Vancouver Sun de 05/08/2010

 

sábado, 25 de setembro de 2010

Um fim de semana SUPERKALIPHRAGILÍSTICO

Hoje me lembrei de minha mãe lendo livrinhos de estórias para mim e meu irmão na nossa infância, lá por meados dos anos 60. Meu irmão não reclamava, mas toda noite eu queria porque queria ouvir a mesma estória da coleção da Mary Poppins, e as visitas do tio Alberto (era essa a tradução para o Sr. Wigg no nosso livro) à casa dos Banks. Mary Poppins sempre dava um jeitinho de transformar em SUPERKALIPHRAGILÍSTICAS as minhas noites de sono e muitos, muitos sonhos. Para mim, quem não conheceu Mary Poppins quando criança, não teve a infância completa. Corra até a livraria mais próxima, pois há uma lacuna singular e inexplicável na sua infância.

Mary Poppins levada pelo vento chegava pelo telhado à casa dos Banks.
Mary Poppins é uma série de livros para crianças escritos por P.L.Travers e originalmente ilustrado por Maria Shepard. Os livros são baseados em torno de uma misteriosa, vaidosa e mágica babá inglesa chamada Mary Poppins. Ela é levada pelo vento leste ao número 17 Cherry Tree Lane, em Londres e para dentro da casa da família Banks para cuidar das crianças. Ela se encontra com limpadores de chaminés, comerciantes e muitas outras aventuras se sucedem até que Mary Poppins, repentinamente desapareça, assim, num estalar de dedos. As aventuras acontecem através de oito livros no total. No entanto, apenas os três primeiros livros mostram Mary Poppins chegando e partindo. Os outros cinco livros narram as aventuras ainda não contadas das suas três visitas anteriores. Como a escritora explica em sua introdução a ‘Mary Poppins no Parque’, "Ela não pode permanecer chegando e partindo indefinidamente."





Os livros foram adaptados em 1964 para um filme musical dos Studios Disney estrelado por Julie Andrews e Dick Van Dyke. Em 2004, a ‘Disney Theatrical’ produziu uma adaptação para uma peça musical nos teatros de West End em Londres, a London's Theatreland, que seria o equivalente à Broadway em Nova Iorque para os norte-americanos. Em 2006, o musical foi levado para a Broadway. O espetáculo continua em cartaz até hoje com platéias lotadas. A peça tem sido um grande sucesso assim como o foi o clássico filme de 1964.




 
O Primeiro livro ‘Mary Poppins’, publicado 1934
O primeiro livro apresenta a família Banks, formada pelo casal, Sr. e Sra. Banks e seus filhos, Jane, Michael e os bebês gêmeos John e Barbara. Quando a babá das crianças, Katie Nana, num acesso de ira, vai embora como uma tempestade, Mary Poppins chega à casa dos Banks, com seus apetrechos de viagem numa maleta, soprada por um vento muito forte. Ela aceita o trabalho e as crianças logo aprendem, entretanto, que sua babá, é severa, vaidosa e quase sempre se transforma, num toque mágico, numa babá maravilhosa. Dentre as coisas que Jane e Michael experimentam, está uma festa-do-chá no teto da casa com o Sr. Wigg, uma viagem ao redor do mundo com uma bússola, a compra de estrelinhas de pão de gengibre da velha Sra. Corry, um encontro com a mulher pássaro, uma festa de aniversário no zoológico, no meio dos animais, e uma viagem de compras de Natal com uma estrela chamada Maia, das plêiades da constelação de Touro. No final, Mary Poppins está satisfeita com o trabalho feito por ela na família Banks e o vento oeste a leva embora.


As primeiras edições de Mary Poppins
A impressão original de 1934 de Mary Poppins continha uma versão do capítulo ‘Terça-feira Ruim’ quando Mary e as crianças usam uma bússola para visitar lugares em todo o mundo em um consideravelmente curto período de tempo. Por conter uma variedade de estereótipos culturais e raciais de chineses, esquimós, africanos e americanos nativos, a escritora respondeu às críticas através da revisão do capítulo em 1981, para incluir representantes dos animais em vez de pessoas. Ao mesmo tempo, a ilustradora original, Mary Shepard, alterou o desenho de acompanhamento da bússola para mostrar um urso polar no norte, uma arara-azul no sul, um Panda no leste, e um golfinho no oeste.

Mary Poppins era assim uma "Super Nany" do mundo encantado.
Após a 1ª publicação de Mary Poppins vieram os outros sete livros da série.
Mary Poppins Comes Back, publicado em 1935
Mary Poppins Opens the Door, publicado em 1943
Mary Poppins in the Park, publicado em 1952
Mary Poppins From A to Z, publicado em 1962
Mary Poppins in the Kitchen, publicado em 1975
Mary Poppins in Cherry Tree Lane, publicado em 1982
Mary Poppins and the House Next Door, publicado em 1988


E era também bastante vaidosa para meu deleite...
A escritora Pamela Travers, nascida Helen Lyndon Goff, em 1899, em Queensland, Austrália, era atriz, dançarina e jornalista antes de ficar famosa como a autora da série de livros. Mary Poppins era tão inglesa que é quase inconcebível pensar que ela foi criada por uma australiana. Pamela Travers faleceu em 1996.

Pamela Travers, a escritora australiana.


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Já Estamos na Primavera



A primavera chegou às 0h09 desta quinta-feira, 22/09, marcando o equinócio. Equinócio é o instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste. A palavra de origem latina significa "noite igual ao dia", pois nestas datas dia e noite têm igual duração.


"Vai-te ao longo da costa discorrendo,
e outra terra acharás de mais verdade,
lá quase junto donde o Sol ardendo
iguala o dia e noite em quantidade."
Lus.,II,63.
 
É na primavera que as flores se abrem e se doam aos seus polinizadores na natureza, os insetos, as aves, o vento. São eles que levarão as sementes que frutificarão no verão. Eu não posso deixar passar o início da primavera no hemisfério sul sem celebrar a ocasião com belas fotos.

Não sei onde fica este jardim, mas é, certamente, uma das entradas do paraíso.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Quantas Anda a Ficha Limpa

Há aqueles que não acreditarão, mas eu tenho o costume de, vez em quando, acompanhar debates no plenário através da TV Senado. No plenário da Câmara, nem tanto, pois é muita baixaria para o meu gosto, mas principalmente, assistir votações no STF.

Ministro Gilmar Mendes
Hoje, não pude deixar de dar uma olhada na votação da Lei da Ficha Limpa. Votaram até agora o ministro-relator, Carlos Ayres Britto (ontem). Hoje, os ministros Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa e Lewandoski pela aplicação imediata da lei e José Antonio Toffoli, pela aplicação apenas nas próximas eleições. O ministro Gilmar Mendes está justificando seu voto (não muito serenamente) acompanhando o ministro Toffoli. Os ministros julgam a validade da Lei da Ficha Limpa a partir de recurso de Joaquim Roriz (do PSC) que pede o direito de concorrer ao governo do DF, apesar de ter sido considerado inelegível pela Justiça Eleitoral. Faltam ainda os votos de 4 ministros. 

Toffoli no dia de sua Posse no STF. O beijo no presidente Lula é de José Eduardo, irmão do novo ministro do STF.
Toffoli, diga-se de passagem, um “menino” de 41 anos, ex-AGU, indicado para o STF há poucos meses pelo presidente da república.


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Claude Monet au Grand Palais



Pour ne pas oublier!!!

Claude Monet au Grand Palais



Femme au Jardin, 1867

Pendant plus de 60 ans, Claude Monet a peint sans relâche. Son oeuvre, placée sous le signe du réalisme dans les années 1860, incarne ensuite la plus pure expression de l'impressionnisme, puis devient au XXe siècle l'un des fondements de l'art moderne. C'est l'ensemble de ce parcours riche et fécond que l'exposition réinterroge. Réunissant près de deux cents peintures, elle rassemble des prêts exceptionnels du musée d'Orsay et des collections nationales, comme des musées et collections privées du monde entier.


Saudade de Cabeças Pensantes

Há uns dias venho lendo textos, artigos e afins em sites especializados, falando sobre as mais diversas situações relativas à administração de empresas. Todos devidamente assinados por administradores com currículos “a peso”. Conhecem este tipo de currículo? São aqueles nos quais seus donos possuem 1Kg de doutorado, 2Kg de mestrado, 3Kg de pós-graduação, 5Kg de MBA e por aí vai. Tamanha é a quantidade de títulos, que você pensa estar lendo algum texto de Ele não deixou que constasse da Bíblia. Nós, pobres mortais os vemos como deuses no Olimpo.
Mas... Conforme vamos lendo os escritos que produzem, me pergunto se eu estou emburrecendo, envelhecendo ou o quê. Porque algo está errado. Tenho certeza de que algo está muito errado.
Li uma quantidade de títulos repetitivos e pobres (pobres em relação aos currículos dos cidadãos que os assinavam), de fazer dormir. Títulos como, por exemplo, “REUNIÕES: Oportunidade ou Desperdício de Tempo de Um Gerente?”, “Falar em público: habilidade necessária ao sucesso!”, “Dez Regras para Ser Um Líder Competente”, “Qualidades Mais Admiradas em Um Gerente” ou essa pérola “Vai atrasar? Não invente desculpas e mantenha a sua imagem”. Valei-me meu São Ricardo Semler! 


Ricardo Semler depois do sucesso do grupo Semco
Isso não é conselho para um profissional. Isso é apenas e tão-somente uma regra básica de boa educação e consideração para com o próximo. Isso é uma obrigação de alguém que pretende viver em sociedade! Entretanto, como nem sempre uma embalagem ruim é sinônimo de conteúdo ruim, li cada texto com atenção. Infelizmente, eu não estava errada. Os textos tinham uma quantidade enorme de obviedades. Nada além do que todo mundo já sabe, principalmente hoje em dia, com a informação fluindo rapidamente pela internet. 

Primeiro livro de Semler já na 19ª edição em 1989
Este episódio me fez lembrar de algo mais heterodoxo, algo mais revolucionário, no sentido de remexer nas estruturas, ter visão de futuro, ser um farejador do caminho certo. Senti uma saudade enorme de quando li Ricardo Semler pela primeira vez em 1989. Virando a Própria Mesa, título de seu primeiro livro, já estava na 19ª edição quando eu o comprei, um ano depois de ter sido lançado. Neste livro ele conta a “revolução” que fez na empresa de seu pai, a SEMCO, que já estava cambaleando, e transformou-a em um grupo forte de empresas. A SEMCO se tornou destaque mundial por causa de sua inusitada forma de gestão, iniciada pelo visionário Ricardo Semler. Ele foi vice-presidente da FIESP, articulista da Folha de São Paulo, professor visitante da Harvard Business School. Já viajou o mundo explicando como implementou a Gestão Participativa em suas empresas e depois de tudo isso, atualmente, prefere se manter mais reservado. Isso tudo ele fez isso nos anos 80. O livro foi lançado em 1988. Naquela década ele pôs em prática conceitos que hoje eu leio nestes textos de que estou falando como se fossem o "dernier cri" da administração. Observem este trecho do livro, no qual ele se refere ao relacionamento entre acionistas e boarding da empresa.

SEMCO em Santo Amaro
“Há uma supervalorização da cúpula que é perpetuada por ela mesma e por seus esforços para convencer acionistas de que sempre são eles os responsáveis pelos méritos da empresa. É desnecessário dizer que os mesmos são afiados em dar explicações plausíveis sobre como os fracassos da empresa não são de sua responsabilidade. Acontece que aos acionistas interessa este tipo de relacionamento, uma vez que, estando afastados do dia a dia, não querem ajuizar conflitos e decidir entre várias opiniões. A eles o que convém é ter um só homem responsável, pagando-lhe o que for necessário para absorver suas dores-de-cabeça, e demitindo-o quando insatisfeitos com o seu desempenho. É uma fórmula simplória, e os grandes executivos têm se tornado mestres no jogo de filtrar informações para baixo, e especialmente para cima, para manterem-se protegidos.”

Anúncio de recrutamento para a vaga de Gestor de RH da Semco
Alguém se identificou num cenário como este numa grande empresa? Isso é mais do que atual, não?!
No final do livro ele diz uma outra coisa que gostei de ler naquele ano de 1989.
“Se não existisse a Sunab, o príncipe seria o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão mestre da incompetência na defesa contra o abuso do poder econômico. Depois de Uganda e da Líbia, o Brasil deve ser o paraíso dos abusadores do poder econômico. O CADE existe para prevenir isso, mas se fosse órgão de cadastro de intenções de violentar o consumidor, o resultado seria igual. A Volkswagen e a Ford provavelmente morreram de dar risada quando o CADE considerou a junção das duas na holding Autolatina um evento normal e sem conseqüências econômicas. Nenhum país que tenha um capitalismo não-selvagem teria aprovado uma atrocidade econômica como essa. Acredito que essa ‘mamata’ vai acabar. Pode demorar décadas, porém, porque só virá com o primeiro governo sério, e parece que não estamos correndo esse risco por algum tempo. Porém, às empresas que basearam suas estratégias de sucesso em trusts e cartéis, é preciso ter um roteiro alternativo em vista.”
Pelo visto ainda não passamos pelo primeiro governo sério. Não preciso nem mencionar tudo o que veio depois da Ambev.
Espero que vocês entendam a diferença entre "escrever um livro" e "escrever um livro". Eu quando vejo no currículo do autor de um livro sério, títulos publicados com os sugestivos nomes de “10 Regras para Isso...”, “5 Chances para Aquilo...”, ”12 Leis para se Chegar Alhures...”, declino a compra. Depois vejo pessoas que compram esses autores vociferando contra livros de auto-ajuda.
Em 2009, Ricardo Semler declarou na Época Negócios, “Sou uma espécie de ING, um Indivíduo Não Governamental”.



domingo, 19 de setembro de 2010

O que é cidadania, afinal?

Nunca se falou tanto sobre cidadania, em nossa sociedade, como nos últimos anos. Mas afinal, o que é essa tal cidadania? O ideal seria termos tempo e espaço para discorrer sobre o conceito não só de cidadania, mas também o de cidadão, o de ética, o de democracia, o de política, o de meio ambiente, o de direitos humanos etc. Como isso não é possível, vou focar na tão propalada cidadania.
Segundo o Dicionário, "cidadania é o exercício consciente da condição de cidadão; atuação na sociedade, em defesa da ampliação e fortalecimento da cidadania", entende-se por cidadão "o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado, ou no desempenho de seus deveres para com este".
No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra civita, que em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego na palavra politikos - aquele que habita na cidade.
No sentido ateniense do termo, cidadania é o direito da pessoa em participar das decisões nos destinos da Cidade através da Ekklesia, reunião dos chamados de dentro para fora, na Ágora, praça pública, onde se agonizava para deliberar sobre decisões de comum acordo. Dentro desta concepção surge a democracia grega, onde somente 10% da população determinavam os destinos de toda a Cidade, pois eram excluídos os escravos, mulheres e artesãos.
São várias as definições, mas cidadão é a pessoa que tem Direitos e Deveres, exercendo-os na sociedade em que vive. Já a cidadania é o exercício da conquista desses direitos e do cumprimento dos deveres. É um campo social e político em permanente construção, no qual as pessoas participam como integrantes de uma coletividade.
Estacionar em cima do gramado do AIRJ, será que é uma nova moda?
Vamos refletir sobre o que representa o cidadão, no contexto do mundo em que vivemos. Somos integrantes de um mundo constituído pela nossa família, cidade e pátria, onde vivemos e convivemos uns com os outros. O verdadeiro cidadão procura zelar pelo bem público, respeitar as pessoas e os locais onde freqüenta. Podemos dizer ainda que para cada direito corresponde também um dever e vice-versa.
• O dever de respeitar e o direito de ser respeitado;
• O direito de viver e o dever de respeitar a vida;
• O dever de trabalhar e o direito de exercer qualquer atividade honesta.

Este é um KIA Soreto com placa do Rio de Janeiro KXK-3669
Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade para melhorar suas vidas e a de outras pessoas. A cidadania começa no “pequeno” gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, respeitar os sinais e placas etc.

O outro carro é de um paulista apressado de Guarulhos.
Na Grécia antiga, toda a sociedade da civilização apresentava a dicotomia cidadão e não-cidadão. As pesquisadoras Maria Efigênia Lage de Resende e Ana Maria de Moraes, dizem que:
“A cidadania era para os gregos um bem inestimável. Para eles a plena realização do homem se fazia na sua participação integral na vida social e política da Cidade-Estado”. “...só possuía significação se todos os cidadãos participassem integralmente da vida política e social e isso só era possível em comunidades pequenas”.
Com a decadência do Império Romano, e adentrando a Idade Média, ocorreram profundas alterações nas estruturas sociais. O período medieval é marcado pela sociedade caracteristicamente estamental, com rígida hierarquia de classes sociais, clero, nobreza e servos. A Igreja Cristã passou a constituir-se na instituição básica do processo de transição para o tempo medieval. As relações cidadão-Estado, antes reguladas pelo Império, passaram a ser controladas pelos ditames da Igreja Cristã. A doutrina cristã, ao alegar a liberdade e igualdade de todos os homens e a unidade familiar, provocou transformações radicais nas concepções de direito e de estado. Para o advogado especialista na área de Direito Público, Mário Quintão, o desmoronamento das instituições políticas romanas e o fortalecimento do cristianismo ensejaram uma reestruturação social que levou o homem ao sistema de feudalismo, cujas peculiaridades diferiam de acordo com seus aspectos regionais. O feudalismo, considerado “a idade das trevas”, configura-se pela forma piramidal caracterizada por específicas relações de dependência pessoal (vassalagem), abrangendo em sua cúpula o rei, o suserano (senhor feudal) e, em sua base, essencialmente, o campesinato. Na época medieval, em razão da índole hierarquizada das estruturas em classes sociais, diluiu-se o princípio da cidadania. O relacionamento entre senhores e vassalos dificultou bastante a definição desse conceito. O homem medieval, ou era vassalo, ou servo, ou suserano; jamais um cidadão. Os princípios de cidadania e de nacionalidade dos gregos e romanos estiveram, assim, “suspensos” e só foram retomados com a formação dos Estados modernos, a partir de meados do século XVII.

O Ford Eco Sport de Guarulhos de frente para mostrar sua vaga privilegiada.
Falei bastante sobre o que representa ser cidadão e exercer a cidadania porque ontem estive no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro e, ao voltar ao estacionamento, apesar de haver vagas um pouco mais distantes da entrada para os elevadores, deparei-me com uma situação que eu qualifico de “pobre”, pois é de uma pobreza sem igual a atitude de pessoas que fazem o que estes dois motoristas(???) fizeram, talvez pensando que estavam sendo mais espertos que os outros, ou quem sabe pensaram ser mais merecedores do que os outros. Quando passei pelos dois carros estacionados daquele modo, lembrei-me de que estava com a máquina fotográfica na bolsa e não pensei duas vezes. Tirei umas poucas fotos mostrando do que estas pessoas se deram ao trabalho de fazer. Desculpem-me os termos, mas é ser muito cara-de-pau a ponto de parar o carro desse modo num estacionamento tão grande e espaçoso. É, primeiramente, falta de educação (não a da escola, mas a de berço), é falta de respeito para com os outros, porque eles não pagaram tarifas mais altas para deixar os carros quase na porta de entrada do terminal.

Não está visível na foto neste tamanho, a placa é EIM-8518
É uma pena que nós mortais não tenhamos acesso legal à base de dados dos Detrans de todo Brasil para identificarmos os nomes dos proprietários dos veículos e publicar na internet,  ou seja, além das fotos os seus nomes completos. Será que eles se envergonhariam? Não sei, mas se essa atitude virasse moda no Brasil, uma boa parte da população começaria a repensar suas atitudes.
Entretanto, acho que toda moeda tem dois lados e um deles seria o surgimento de patrulhamentos e “dedos-duros”. O que, obviamente, também não é bom. A sensação de impotência diante de situações como essas me deixa arrasada.
Lembremo-nos, contudo, que a impunidade e a corrupção são endêmicas no Brasil e ainda, que a cidadania constrói-se e conquista-se dia após dia.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Aos meus caros leitores...

Aos caros meus leitores,

Peço que compreendam, mas preciso de uns dois dias para colocar a leitura em dia. Minha pilha de livros só está crescendo e eu estou me dedicando totalmente ao blog. Sexta-feira retomarei meus afazeres aqui.

Por hoje deixo um clip com vocês que eu adoro. Espero que passem do 2º minuto de duração.


domingo, 12 de setembro de 2010

A Belle Époque

Foi uma fase de grande desenvolvimento na Europa, favorecida pela existência de um longo período de paz. O núcleo da Belle Époque era Paris, na altura o centro cultural do mundo.
Costuma-se definir Belle Époque como um período de pouco mais de trinta anos que, iniciou-se na França, por volta de 1880 e foi até 1914, quando começou a I Guerra Mundial. É a pluralidade de tendências filosóficas, científicas, sociais e literárias, advindas do realismo-naturalismo. É a época das boemias literárias, como as de Montmartre e Munique. Dessa literatura de cafés e boulevards, de transição pré-vanguardista, é que vão se originar os inúmeros –ismos que dela advieram.


O Café de la Paix em 1900. Este café existe até hoje de frente para a Ópera Garnier.
No Brasil, a Belle Époque costuma ser situada por vários autores entre 1889, com a proclamação da República, e 1922, ano da realização da Semana da Arte Moderna em São Paulo. O que poucos sabem é que a expressão Belle Époque só surgiu depois da I Guerra Mundial para designar um período considerado de expansão e progresso, principalmente em nível intelectual e artístico. Nesta época, surgiram inovações tecnológicas como o telefone, o telégrafo sem fio, o cinema, o automóvel e o avião, que originaram novos modos de vida e de pensamento, com repercussões práticas no quotidiano.

Cartaz publicitário da Coca-cola ainda no século XIX



A Arquitetura e o Estilo Art-Nouveau
Na arquitetura surgiu o estilo Art-Nouveau, com suas formas curvelíneas, contornos sinuosos, assimetria, ritmo elegante, feito de linhas entrelaçadas e sempre dando a idéia de movimento e seus adornos exuberantes. O excêntrico arquiteto italiano, Virgilio Virzi, que em 1910 veio para o Brasil, foi o autor de vários prédios diferentes no Rio de Janeiro. Dentre eles, o prédio do Elixir de Nogueira, que ficava na Praia do Flamengo. O espanhol Antonio Gaudí y Cornet, com seu trabalho revolucionário em Barcelona. Não se pode falar na Art-Nouveau sem mencionar arquiteto francês, Hector Guimard, projetista das entradas do metrô de Paris no período de 1889 a 1904. O estilo Art-Nouveau obteve a consagração internacional durante a Exposição Universal de 1900, realizada em Paris, em comemoração à passagem do século.


As entradas do Metrô de Paris de 1900.

Théâtre L'Athénée Louis-Jouvet na Rue Bordeau, 9ème arrondissement, belíssimo exemplar do estilo Art-Nouveau na arquitetura.

Detalhe da fachada do teatro L'Athénée

O Castel Béranger, o mais famoso prédio de Paris em estilo Art-Nouveau, fica na Rue des Fontaines, 14 no 3ème arrondissement. O Castel Béranger foi inaugurado em 1890.

No Rio de Janeiro, Antonio Virzi deixou a mais conhecida marca do Art-Nouveau na cidade, o prédio do Elixir de Nogueira, que ficava na Rua da Glória 214 e que foi demolido no início dos anos 70.




A Vila Penteado, um dos últimos edifícios remanescentes do estilo art nouveau na cidade de São Paulo, foi projetada pelo arquiteto sueco Carlos Ekman e construída em 1902 para abrigar duas importantes famílias paulistas, a do Conde Antonio Álvares Penteado e a de seu genro, Antônio Prado Junior.
Doada à USP em 1949, a luxuosa construção de dois pavimentos, com mais de 60 cômodos, é hoje a sede da Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU-USP.

Jóias e Objetos de Decoração
Em Nancy, Émile Gallé criou uma escola artesanal que produziu vasos e móveis para todo o mundo ocidental. Em Paris, destacou-se René Lalique, que criou jóias no estilo de Gallé. Todos abordoando motivos florais em riscos de rara finura.


Sala de jantar de Hector Guimard, hoje exposta no Musée D'Orsay.
Vaso de René Lalique de 1902

Literatura, “Les Fleurs Du Mal” e “Au Bonheur des Dames”
Na França, por volta de 1900, a inquietação resultante das transformações científicas por que passava a humanidade, estava no auge. Os escritores, embora cultuando Charles Baudelaire, Jean Rimbaud, Paul Verlaine e Stéphane Mallarmé, aos quais se juntavam os estrangeiros Edgard Allan Poe, Walt Whitman, Émile Verhaeren e Gabriele d'Annunzio, já não se contentavam apenas com as soluções simbolistas então em moda. Arquitetavam novas teorias culturais, experimentavam timidamente outras fórmulas expressivas, fundavam revistas e redigiam manifestos.
Charles Baudelaire, cujos primeiros trabalhos passaram despercebidos, já havia escrito aos 20 anos alguns dos poemas que comporiam o seu livro mais famoso, Les Fleurs du Mal, publicado em 1857, depois de 15 anos de paciente elaboração. Aos 26 anos, Baudelaire leu um conto de Edgard Allan Poe, iniciando a sua admiração pelo poeta estadunidense, cuja obra em prosa traduziu e publicou, ao longo de quase 17 anos. Foi Charles Baudelaire, o homem que criou o conceito do flâneur parisiense. Só aos 36 anos, Baudelaire sentiu que deveria reunir seus poemas em livro, optando pelo título de Les Fleurs du Mal. Uma crítica saída no Le Figaro atraiu os olhos da censura, levando a justiça a condenar o livro por ultraje à moral pública e aos bons costumes, além de exigir a supressão de seis poemas. Só em 1949 essa decisão foi revogada.


Charles Beaudelaire, escritor francês, autor de "Les Fleurs du Mal".

O Paraíso das Damas de Émile Zola
Émile Zola foi o idealizador e principal expoente do naturalismo na literatura. Seu texto conhecido como O Romance Experimental (1880) é o manifesto literário do movimento. Émile Zola é tão importante para a Belle Époque, que não posso deixar de escrever algo sobre a sua obra que mais me impressionou, “Au Bonheur des Dames”. Este homem que tem seus restos mortais repousando, merecidamente, no Panthéon de Paris.
No século XIX, surgiram em Paris os grandes magazines, como Le Bon Marché e Printemps (que, a propósito, são até hoje as grandes lojas de departamentos que não se pode deixar de visitar estando em Paris), novos palácios de compras que revolucionariam o sistema comercial e industrial da moda. Inspirado pela novidade, Émile Zola, um dos grandes autores do realismo francês, publicou em 1883 "Au Bonheur des Dames" (O Paraíso das Damas). É uma obra obrigatória para quem se interessa pela história da moda e dos hábitos da sociedade francesa à época. Zola fez uma ampla pesquisa econômica, arquitetônica e urbanística para escrever este livro, que aborda praticamente todas as questões do comércio moderno da moda, desde a força da publicidade ao ainda incipiente culto do corpo, desde produção frenética da novidade aos dispositivos de sedução utilizados nas vendas.
Este lado sociológico é a melhor coisa do livro, que tem como fio condutor a relação amorosa entre uma balconista vinda da classe baixa e o rico proprietário do grande magazine Au Bonheur des Dames. É particularmente sagaz e importante a análise que Émile Zola faz da maneira como este comércio nascente explora a psicologia das mulheres. Não é de hoje que o comércio utiliza a nossa parte psicológica, viu meninas?! Além disso, "O Paraíso das Damas" é um belo romance, daqueles para se ler saboreando as palavras. Eu adorei.


Émile Zola, criador e representante mais expressivo da escola literária naturalista, além de importante figura libertária da França.

Os famosos "corsets" ou espartilhos que modelavam os corpos femininos da Belle Époque.

Exterior da loja de departamentos 'Printemps' que revolucionou os hábitos das francesas.

Interior da loja de departamentos 'Printemps'. Será que foi por esse caminho que começou o 'prêt-à-porter'?
Acredito que sim, pois foi em 1829 que o francês Barthélemy
Thimmonier inventou a máquina de costura.

A Pintura e O Impressionismo
O nome Impressionismo, como tantos outros exemplos na História da Arte, inicialmente teve um cunho pejorativo. Foi um rótulo posto no trabalho de um grupo de artistas que, de acordo com os críticos da época, acreditavam na impressão do momento como algo tão importante que se bastava por si mesma, dispensando as técnicas tradicionais acadêmicas.
Esses artistas realizaram inúmeras exposições em Paris entre 1874 e 1886, porém, sua aceitação pelo público foi lenta e sofrida, pela incompreensão ao trabalho realizado.
Ridicularizados, inicialmente pela crítica, por não seguirem a tradição pictórica que vinha sendo solidificada desde o renascimento, acabaram por, paulatinamente, obter o respeito e aceitação de suas “novas técnicas“ por parte do público. E como acontece em muitas ocasiões a crítica foi a reboque dos acontecimentos.
Na verdade, o impressionismo era a busca da imagem ao natural, a importância do pincel na formulação da obra.


"Bal au Moulin de la Galette", obra-prima de Renoir, 1876. O Moulin de la Galette  ainda exite na Butte Montmartre no 18ème. Este eu também recomendo. Como dizem os parisienses, c'est hallucinant.

E aqui parte (detalhe) da obra primorosa de Renoir, o meu preferido "La Danse à la Ville", 1883. Está no Musée D'Orsay.
 
Claude Monet, o mestre do impressionismo, "Femmes au Jardin", 1883, atualmente no Musée D'Orsay.

Claude Monet, "The Walkers, Bazille and Camille", 1865, obra de propriedade da National Gallery of Art, Washington DC, USA.

Cartazes Publicitários na Belle Époque
Os espetáculos e a busca pelo prazer e pelo entretenimento ganhavam força e tornava a cidade um local procurado por artistas, escritores e intelectuais da época. Com isso, vem à cena o surgimento das vanguardas entre os artistas, a busca pelo novo e a necessidade de diferenciação dos demais. Destaco, portanto, aqui o papel da arte na propaganda, em especial a arte de Henri Toulouse-Lautrec nos cartazes buscando, através da estética, uma tentativa de promoção e persuasão.


Cartaz de propaganda típico da Belle Époque
 
A Moda e os Hábitos
Passou-se a se valorizar muito as curvas do corpo feminino e nunca a cintura fora tão afunilada. O ideal feminino era ter 40 cm de cintura e, para isso, as mulheres recorriam a cirurgias por meio das quais pudessem tirar as costelas flutuantes e deformar mais ainda seus corpos com o uso do espartilho. E depois dizem que o culto do corpo muito magro começou nos anos 1960. Vã ilusão. As mulheres já passam por “torturas” para atingir um ideal de beleza há muito tempo. E esse ideal varia de acordo com o “todo” vigente no momento, artes em geral, o momento econômico, social, o contexto histórico. Durante esse período, o corpo feminino também passou a ser muito coberto por tecidos. Todas as partes do corpo ficavam ocultas exceto as mãos e as faces, isso quando não fossem usadas luvas. Usavam-se golas altas cobrindo o pescoço, saias em forma de sino com as quais as mulheres não conseguiam andar se não dessem pequenos passos, botas para evitar o indecoroso aparecimento de suas canelas e adornos de chapéus como, por exemplo, flores enfeitando coques fofos.


As mulheres ainda totalmente cobertas. Não podia aparecer nada.


Mais para o final da Belle Époque, o embrião do que hoje conhecemos como tailleur, mas ainda com o uso dos belos e charmosos chapéus. Uma pena que hoje em dia não se usem mais chapéus.

Outra novidade foi a masculinização do visual feminino para que as mulheres pudessem andar de bicicleta ou a cavalo mais confortavelmente, usando um traje mais esportivo. Surgiu assim, uma espécie de saia-calção bufante e, mais tarde, com a incorporação dessas roupas ao dia-a-dia, o tailleur, que nada mais é senão o terninho feminino. Começou-se a tomar banho de mar como forma de lazer, o que antes tinha apenas funções terapêuticas. Mas a roupa que usavam era muito diferente das que conhecemos hoje, e muito interessante também, era feita de malha (normalmente em fios de lã) e cobria o tronco indo até os joelhos. Sem contar que entrava-se no mar de meias e de sapatos.

Principais Características da Belle Époque
- Influência do Art Noveau, das formas curvilíneas;
- Cinturas extremamente afuniladas, a famosa “Ampulheta”;
- Golas altas e decotes fechados;
- Saias sem anquinhas, porém volumosas, muito ajustadas e em formato de sino;
- Chápeus com flores sobre coques;
- Botas de cano curto;
- Prática de esportes, principalmente o Hipismo e o Tênis;
- Banhos de mar com malhas de lã, meias, sapatos e capa.
- Alta-Costura em evidência com novos nomes, tais como, Jacques Doucet, John Redfern e Paul Poiret.


A Belle Époque é um estado de espírito, bem retratado nesta foto. As pessoas livres, sorridentes, flanando pelas ruas de Paris.

Com tudo o que expus neste texto, quero ressaltar só uma coisa... a Belle Époque, obviamente, não é um limitação matemática de tempo, ou as artes em geral, ou mesmo a moda. A Belle Époque é, sobretudo, UM ESTADO DE ESPÍRITO, que se manifesta não só em uma pessoa, mas às vezes, num país inteiro, chegando a atingir outros ainda.