segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sonhar com Aquele Amor

Se há uma coisa de que não gosto mesmo é quando me chamam de sonhadora de forma pejorativa. Sonhar parece ser um pecado capital. Não consigo entender a pequenez de quem pensa assim. Obviamente, ninguém vive só de sonhos, mas é preciso tê-los para se ter objetivos a serem perseguidos e, portanto, estímulos para viver. E posso apostar, quem não deseja ter sonhos é por medo. Medo de mudar. Ter de sair da “zona de conforto” (essa expressão tão na moda). Quem não muda, não evolui. Pois eu tenho sede de aprender, de me transformar sempre numa pessoa melhor, quero aprender com meus erros, deixar para trás meus preconceitos. É preciso se questionar sempre, se reavaliar.

Ainda outro dia, minha amiga, a Izildinha, me disse que o amor é impossível. Tentando explicar sua teoria, ela me disse sobre o assunto de que falávamos: “O problema poderia ser solucionado com o tempo. Antecipar o fim, causa consequências. Devemos estar sempre preparados para estas decisões, pois tudo tem seu momento. A vida é movida por decisões. Saber o momento certo é a sua essência.” Essa Izildinha parece de uma sensatez sem igual, não?! E ela é uma mulher sensata, sim. Mas, às vezes, dá uma exagerada na indecisão. E isso não dá para negar. Ora, Izildinha, não existe amor impossível, apenas pessoas incapazes de lutar por ele. O amor é uma fonte inesgotável de reflexão profunda. Amor permanente... Como tem gente que se agarra a esta ilusão! Sábio é aquele que tem coragem de ir diante do espelho da sua alma para reconhecer seus erros e fracassos e utilizá-los para plantar boas sementes no terreno de sua inteligência. Ser livre é não ser escravo das culpas do passado nem das preocupações do futuro. Ser livre é ter tempo para a pessoa que se ama. É abraçar, se entregar, sonhar, recomeçar tudo de novo, mais de uma vez, se necessário. Mas, acima de tudo, ser livre é ter um caso de amor com a própria existência e desvelar seus mistérios. Essas palavras de Augusto Cury podem parecer piegas, mas são tão verdadeiras... “Se seus sonhos são pequenos, sua visão será pequena, suas metas serão limitadas, seus alvos serão diminutos, sua estrada será estreita, sua capacidade de suportar as tormentas será frágil. Os sonhos regam a existência com sentido. Seja um sonhador, mas una seus sonhos com disciplina, pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas. Lute pelo que você ama.”

Cara amiga Izildinha, veja quantas pessoas maravilhosas disseram coisas que só corroboram o que eu defendo. Veja o que disse Clarice Lispector: “Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.” Veja essa de Friedrich Nietzsche: ”Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.” E o que dizer desta de Khali Gibran: ”Quando o amor vos fizer sinal, segui-o; ainda que os seus caminhos sejam duros e escarpados. E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos; ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir.” Essa de William Shakespeare: ”O amor não prospera em corações que se amedrontam com as sombras.” Essa outra de Bertrand Russell: “Temer o amor é temer a vida e os que temem a vida já estão meio mortos.” Mais essa de Immanuel Kant: “Não há garantias. Do ponto de vista do medo, ninguém é forte o suficiente. Do ponto de vista do amor, ninguém é necessário.” E mais essa de Johann Goethe: “Gosto daquele que sonha o impossível.” E essa última do meu querido, Charles Baudelaire: ”Não podendo suportar o amor, a Igreja quis ao menos desinfectá-lo, e então fez o casamento.”



Vou deixar aqui uma crônica de Artur da Távola, de quem também sou fã, para ajudar um pouco mais na arte da reflexão.

Aquele Amor
Ela pertence à espécie de mulheres que possuem um só amor em toda a sua vida. Ou amam de verdade apenas uma vez. Seria espécie de mulheres ou a maioria assim o é, mesmo sem o saber? Também há homens de eterno amor, embora o machismo e as deformações de sua cultura e comportamento nem sempre os convença de tal. Ou não convença a maioria. Ou será que o fato de serem colocadores de semente por determinismo biológico os leva a não prestar a devida atenção à sua destinação para o amor? No meio da conversa ela diz, de repente, que só gostou de verdade de um homem e eis que vai buscar lá entre papéis amassados, daqueles que esturricam o couro das carteiras, não um mas três retratos dele, que espalha, qual cartas de baralho, sobre a mesa do restaurante. E fala dele com a mistura de ternura e tristeza que assaltam as mulheres que não lograram viver com o seu amor, casar-se com ele, ter seus filhos, viver em função dele e dela, unidos, pois esta é a verdadeira vontade e destinação da mulher: viver ao lado do verdadeiro amor. Sim, elas vivem de modo proibido se necessário, casam-se com outro, têm filhos, os amam profundamente, mas a verdade de seu ser é a do amor verdadeiro, até porque mulher vive para amar e por amor, o resto se ajeita. Podem até deixar seu amor dormitar por anos e parecer serenado. Volta, porém a qualquer apelo ou menção do nome dele, encontro fortuito na rua com um conhecido dos tempos do namoro ou da relação. Como são comoventes e lindas na sua integralidade bíblica as mulheres quando expressam para os demais ou para si mesmas, o amor de suas vidas ou quando consultam, escondido, os retratos guardados, recortes, flores secas, a memória úmida das restantes lembranças em momentos de silêncio e solidão! Abençoados sejam, porque são, os homens e as mulheres que na passagem por esta vida receberam um dia de alguém, ou deram, um amor único, original e definitivo. Abençoados sejam e para todo o sempre. Como o amor que existe apesar de todas as ternas e dolorosas circunstâncias que não impedem a sua verdade mas em muitos casos esmagam a sua plena realização.




quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Gruta da Imprensa

Alguém conhece ou já ouviu falar na "Gruta da Imprensa", no Rio de Janeiro? Pois eu, não. Fiquei surpresa de, apesar me considerar boa conhecedora do Rio de Janeiro, jamais ter ouvido falar deste local. Então, quis saber sua história, de onde surgiu esse nome etc. E descobri o seguinte.

Quando a Avenida Niemayer foi inaugurada em 1916, era uma estrada de curvas sinuosas. A construção da Niemayer não é só isso, tem muiiita história a ser contada, mas não é o foco aqui. Em 1920, o Rio de Janeiro recebeu a visita do Rei Alberto, da Bélgica. Por este motivo, a Niemeyer foi praticamente reinaugurada. Foi alargada, asfaltada e teve suas curvas ampliadas pelo então prefeito, Engenheiro André Gustavo Paulo de Frontin. Durante essa reforma, numa das curvas da avenida, foi construído um viaduto que teve em seu nome uma homenagem ao ilustre visitante, pois o nome do viaduto é Rei Alberto.


O Viaduto Rei Alberto atualmente

Em 1922, o prefeito Alaôr Prata abriu a “Gruta da Imprensa”, que nada mais era do que um platô na Avenida Niemeyer onde ficavam os jornalistas da época que faziam a cobertura das corridas automobilísticas de rua. O local até hoje é conhecido como “Gruta da Imprensa”. E fazia parte do circuito do Rio de Janeiro a partir de 1933. Este trajeto ficou conhecido como “Circuito da Gávea” ou “Trampolim do Diabo”. Nessas corridas as largadas se davam próximo ao antigo Hotel Leblon, que ficava (o prédio ainda está lá, abandonado) bem no início da Niemayer, passavam pela “Gruta da Imprensa”, seguiam pela “Rocinha” (que na época sequer sonhava em ter o atual tamanho), e voltava pela Rua Marquês de São Vicente, na Gávea. A idéia do “Circuito da Gávea” foi de Francisco Serrador (o dono do famoso Hotel Serrador no Centro da cidade, próximo ao Passeio Público), em co-parceria com o “Touring Club do Brasil”, e só acabou em 1954.


Aqui o motivo do nome "Gruta da Imprensa", eis os jornalistas esportivos da época, posicionados na mureta à esquerda.


O início do circuito da Gávea e o Hotel Leblon




quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Devolvam-me a Belle Époque de Renoir


RENOIR, Pierre Auguste | Le Déjeuner des Canotiers | 1881 | Óleo sobre tela | 172,7 x 129,5 cm | The Phillips Collecion, Washington, USA
Na década de 1860, com as reformas do Barão Haussmann, os parisienses ganharam novas opções de lazer acessíveis para os fins de semana. As novas linhas férreas francesas transformaram muitas áreas rurais ao longo do rio Sena em locais perfeitos para escapadas da cidade. Essas áreas eram uma exclusividade das classes abastadas e passaram a ser freqüentadas pela diversidade da população parisiense à época, que fervilhava com o início da Belle Époque. Como já falei num post do ano passado sobre a Belle Époque, os impressionistas surgiram aproximadamente com ela.

Hoje quero mostrar a vocês a obra-prima de um dos impressionistas que mais me impressiona, Pierre Auguste Renoir. O quadro: Le Déjeuner des Canotiers (O Almoço dos Barqueiros). Renoir o pintou na pequenina cidade de Chatou. Esta obra de Renoir retrata um grupo de amigos seus na varanda de um albergue às margens do Sena, chamado Maison Fournaise. Renoir visitava com frequência este recanto disputado pelos parisienses e, às vezes, oferecia pinturas à família Fournaise, em troca de alimentação e estadia.

Le Déjeuner des Canotiers não apenas descreve o ambiente caloroso da Maison Fournaise, mas mostra as características da estrutura social francesa da segunda metade do século XIX. Os restaurantes acolhiam clientes de diversas classes sociais, desde empresários burgueses, mulheres da sociedade, artistas como Renoir e Caillebotte, atrizes, escritores como Guy de Maupassant, críticos e, como resultado da revolução industrial, que reduziu a jornada de trabalho semanal, até costureiras e vendedoras.

Esse grupo diversificado traduzia a liberdade, igualdade e fraternidade, vindas desde a Revolução Francesa até àqueles tempos. Nesta obra, Renoir pintou retratos “idealizados e joviais” de seus amigos e colegas com quem frequentava a Maison Fournaise. Então, vamos brincar de “Onde está Wally?”

O famoso quadro 'Le Dejeuner des Canotiers' pintado entre 1870 e 1871

Acompanhem na foto do quadro. No primeiro plano, à esquerda, brincando com seu cachorro, Aline Charigot, uma jovem costureira que Renoir havia recentemente conhecido e com quem se casou pouco tempo depois. Atrás dela, apoiados na balaustrada, Alphonse e Alphonsine Fournaise, filhos do proprietário do albergue, ambos usando típicos chapéus de barqueiros, os “canotiers” que eu acho elegantíssimos nas poucas mulheres que sabem usá-los. Eles ouvem o Barão Raoul Barbier, sentado de costas, ex-oficial da cavalaria. Este bon vivant tinha a reputação de ser amante de barcos, cavalos e jovens moças. No primeiro plano, à direita, sentado com a cadeira virada, Gustave Caillebotte, pintor, velejador, arquiteto naval e milionário, foi o primeiro mecenas dos impressionistas. Ele observa Aline e escuta discretamente a atriz Hélène Andrée, enquanto o jornalista italiano Maggiolo, diretor do jornal “Le Triboulet” se reclina sobre ela. Atrás deles, em pé, o artista Paul Lhote, com seu pince-nez (sim, ele está usando um pince-nez) e o burocrata Eugène Pierre Lestringuez, flertando com a atriz de teatro francesa, Jeanne Samary. Ao fundo, de costas e de cartola, o editor do jornal “Gazette des Beaux-Arts”, Charles Ephrussi, conversa com um jovem usando um casaco marrom, o poeta e crítico Jules Laforgue. Ao centro, ao lado de um anônimo de quem só vemos sutilmente o perfil, a modelo Hélène Andrée bebendo de um copo. Em 2001, o cineasta Jean-Pierre Jeunet a transformou na heroína de seu cultuado filme “Le fabuleux destin d'Amélie Poulain”.


Será que assim ajuda a encontrar os personagens?

1. Aline Charigot
2. Alphonse Fournaise
3. Alphonsine Fournaise
4. Barão Raoul Barbier
5. Jules Laforgue
6. Hélène Andrée
7. Angèle
8. Charles Ephrussi
9. Gustave Caillebotte
10. Maggiolo
11. Eugène Pierre Lestringuez
12. Paul Lhote
13. Jeanne Samary




O tempo que Renoir teve com Monet em La Grenouillère (balneário próximo Bougival, bem popular e meio “pé-sujo”, segundo os guias da época) foi decisivo em sua carreira. Foi quando ele pintou verdadeiramente ao ar livre, o que mudou sua paleta, e fragmentou seu toque (Monet foi muito mais longe neste domínio). Rendeu-se aos efeitos da luz, e a não necessariamente usar o preto para as sombras. Foi a partir daí que surgiu o Renoir realmente impressionista. Ele expôs com o dito grupo de 1874-1878 e produziu, então, o quadro considerado o "carro-chefe” sua obra. Un bal au moulin de la Galette, em Montmartre, em 1877. O quadro foi comprado por Gustave Caillebotte, membro e patrono do grupo. Eu me pergunto: “será que se Caillebotte não tivesse comprado ‘Un bal au moulin de la Galette’, Renoir poderia nos presentear com a visão primorosa do ‘Le Déjeuner des Canotiers’?” Bem, mas essas são apenas as asas dos meus pensamentos.

Finalmente, o jovem desconhecido do quadro pode se tratar do próprio Renoir. Acredita-se que ele acabou se inserindo propositalmente na pintura, para evitar uma composição de treze personagens, pois lembraria “A Santa Ceia” de Leonardo da Vinci. Bem... Não sou a única que dá asas aos pensamentos e à imaginação.

Renoir criou com maestria a atmosfera de encantamento de Le Déjeuner des Canotiers, capturando o imediatismo de um momento de lazer à margem do Sena no século XIX. Renoir conseguia capturar o mais trivial momento e retratar seus protagonistas com uma delicada intimidade que nunca cessa de aprisionar o olhar. Sua pintura é atemporal. Ele era fascinado pelas reuniões e festas, sempre que houvesse a celebração humana. O que me encanta definitivamente nas obras do Renoir impressionista é o modo como ele “brinca” com a luz e a sombra. Sua luz não é branca, e suas sombras não são pretas, mas são a sua “brincadeira” com os tons fortes (nas sombras) e os diversos tons mais claros (na luz) da cor azul. Talvez este seja o principal motivo de eu adorar a pintura de Renoir; o azul-marinho me fascina.

O quadro faz parte, desde 1923, da coleção de Duncan Phillips, que declarou no momento da aquisição possuir uma das maiores obras de todo o mundo. “A fama de ‘Le Déjeuner des Canotiers’ é tremenda e as pessoas viajarão milhares de quilômetros até nossa casa para vê-lo. A obra de Renoir extravasa um bom humor contagiante e essa pintura causa sensações aonde quer que vá”.

Este post será muito mais interessante se vocês assistirem ao filme produzido pela France 2 para TV, "Le Vernis Craque". É sensacional.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Para reflexão – Parte II



Um homem andava, numa noite escura, no meio de uma floresta e, de repente, caiu. A única coisa que conseguiu fazer foi segurar em um galho. Quando olhou para baixo, só viu escuridão. Começaram, então, seus pensamentos catastróficos: “Eu vou cair neste abismo e vou morrer... Este galho não vai agüentar e vou machucar-me todo”.
À medida que o tempo passava, o galho ia desprendendo-se e, cada vez mais, ele se desesperava, com medo de cair e morrer. A claridade foi chegando com a manhã, e ele percebeu, então, que estava com os pés a quarenta centímetros do chão e que todo o seu medo e sofrimento foram infundados.
Assim fazem as pessoas que, por não conseguirem ver um pouco mais além, ficam com medo de fazerem-se em pedaços. E, na verdade, o salto a ser dado tem pouco mais de quarenta centímetros: a distância que separa o cérebro do coração.



segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Para reflexão – Parte I

Num mosteiro havia o Grande Mestre e o Guardião. O Guardião morreu e foi preciso substituí-lo. O Grande Mestre reuniu todos os irmãos para fazerem a nova indicação. Assumiria o posto o monge que conseguisse resolver primeiro o problema a ser apresentado naquele momento. Então, o Grande Mestre colocou um banquinho no centro da sala e, em cima, um vaso de porcelana raríssimo, com uma belíssima rosa amarela a enfeitá-lo. Disse apenas: “Aqui está o problema”!

Todos ficaram olhando a cena. O vaso lindíssimo, de valor extraordinário, a flor maravilhosa no centro! O que representam? O que fazer? Qual será o enigma? Nesse momento, um dos discípulos sacou a espada, olhou o Mestre, os companheiros, dirigiu-se ao centro da sala e “zapt”. Destruiu tudo com um só golpe.

Tão logo o discípulo voltou ao seu lugar, o Grande Mestre falou: “Você é o novo Guardião... Não importa que o problema seja algo lindíssimo. Se for um problema, precisa ser eliminado”.


Este pequeno texto está contido no livro Amar Pode Dar Certo, de Roberto Shinyashiki, que li em 1992, e hoje, empoeirado na estante, resolvi folhear. Quando reli este texto, e também um outro, que publicarei no próximo post (por isso a “Parte I”), achei oportuno compartilhar com meus leitores.


sábado, 15 de outubro de 2011

A Marinha sempre fez história no Brasil

Tudo começou com um post que escrevi em abril sobre o famoso galeão chamado Padre Eterno. Ontem, recebi um email de um jornalista de São Paulo, me pedindo mais informações sobre o post. Depois de trocarmos mais um email, o jornalista Neldson Marcolin, editor chefe da revista da FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, enviou-me o link para uma matéria feita por ele, também ligada à nossa Marinha, que me deixou encantada. Até porque eu desconhecia esta história. Acredito que pouca gente a conhece e, por isso, compartilho-a com vocês.

Como sou fã declarada de história, saí internet afora, pesquisando um pouco mais sobre o engenheiro naval Trajano Augusto de Carvalho. Além de tudo o que está publicado na pesquisa feita pelo jornalista, encontrei alguns detalhes não-técnicos, pois a revista se detém na ciência e tecnologia.

O texto abaixo foi publicado integralmente no site Galeria de Inventores Brasileiros.


Trajano Augusto de Carvalho
Invenção sem depósito de Patente no INPI
Obtida a licença do sistema, Trajano patenteou seu invento em diversos países, enquanto o novo tipo de carena era experimentado aqui no Brasil, por iniciativa e insistência do engenheiro Napoleão Level, o primeiro engenheiro naval brasileiro. Carena é a parte do casco dos navios que fica submersa. O sistema foi experimentado primeiramente em uma lancha a vapor e depois na corveta Trajano. A corveta Trajano foi construída pelo Arsenal de Marinha da Corte (o atual Arsenal de Marinha na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro), em sua fase áurea, quando aproximou-se dos estaleiros mais avançados do mundo à sua época. Media 64 metros de comprimento, era armada com sete canhões e máquina de fabricação inglesa, tendo sido lançada ao mar em junho de 1873. Os resultados dessas experiências foram muito bons, principalmente a prova de mar da Trajano, uma longa viagem do Rio de Janeiro a Montevidéu, em que ficou demonstrado que o novo formato de carena permitia maior velocidade, menor consumo de combustível e grande facilidade de governo e de manobra. A carena Trajano foi ainda adotada no Guanabara, na Parahyba, na galeota imperial, nos navios mercantes Rio de Janeiro e Rio Grande e no pequeno cruzador Caçador, para o serviço da Alfândega, tendo sido empregada também em alguns navios construídos na Inglaterra.


A Corveta Trajano
É de muito admirar, e de se lastimar também, que esse importante invento, que proporcionava uma economia de combustível da ordem de 30%, conforme atestado em experiências feitas na Inglaterra, pelo engenheiro Froude, o pai da hidrodinâmica aplicada aos navios, não tenha mais sido empregada nas novas construções, acabando por cair no esquecimento. Como observa o Comandante Porto e Albuquerque, o invento do engenheiro Trajano foi uma "pesquisa séria em engenharia naval", que pela sua própria natureza deve ter exigido um longo e paciente trabalho de pesquisa e de sucessivas experiências. Foi também um dos primeiros trabalhos de pesquisa tecnológica, em qualquer ramo da engenharia, realizado no Brasil, e certamente o primeiro que teve repercussão no exterior. O engenheiro Pedro Carlos da Silva Telles, autor de vários livros sobre a história da engenharia naval, comenta: "O engenheiro Vicente Sacchetti chama a atenção para o interessante fato de que as modernas proas dos navios gigantes da atualidade repetem quase exatamente, acreditamos que sem o saber, as linhas da carena Trajano, inventada por um brasileiro de 1869!" Um modelo reduzido da Trajano, dita como "construída de acordo com um sistema inteiramente novo, privilegiado na Inglaterra", figurou em destaque na Exposição Universal de Viena em 1873.

Trajano Augusto de Carvalho nasceu em 1830 na cidade de Desterro, atual Florianópolis (acho que disso também muita gente não sabe), e começou a vida profissional em 1848 como operário do Arsenal da Corte. Em 1853, pediu ao Governo para ser mandado à Europa estudar engenharia naval. Apesar da calorosa aprovação do engenheiro Level a esse pedido, Trajano de Carvalho só seguiu para Europa dois anos depois, para estudar e praticar nos estaleiros de Richard W. Hervy Green, em Londres, ao mesmo tempo em que fiscalizava a construção das canhoneiras Araguari e Belmonte, na Inglaterra e na França. Retornando ao Brasil em 1859, foi nomeado primeiro construtor do Arsenal da Bahia, onde ficou até o fim daquele ano, passando então ao Arsenal da Corte, no qual trabalhou até 1865. Naquele mesmo ano, foi mandado à Europa para fiscalizar a construção de dois encouraçados e voltou ao Arsenal da Corte em 1866.

Em 1869, foi novamente à Europa para fiscalizar a construção e receber os vapores Vassimon e Werneck, a cábrea flutuante Gafanhoto e as canhoneiras Henrique Dias e Felipe Camarão. De volta ao Brasil e ao Arsenal da Corte desenvolveu os estudos e experiências da carena Trajano, obtendo em 1870 licença para ir à Europa patentear seu invento. Depois de regressar ao Brasil, assumiu em 1872, a Diretoria de Construções Navais do Arsenal, em substituição ao engenheiro Level, que fora mandado à Europa. Trajano permaneceu nesse cargo até 1874, quando, a seu pedido, deixou o serviço da Marinha para trabalhar na indústria privada. Foi primeiro à Europa, por conta da Companhia Nacional de Navegação, fiscalizar a construção dos vapores Rio de Janeiro e Rio Grande, por ele projetados e depois trabalhou até 1889 no estaleiro Miers Irmãos & Maylor. Em 1890, organizou a Companhia Brasil Oriental e Diques Flutuantes, para explorar um novo sistema de dique flutuante de sua invenção, que infelizmente não foi avante. Mesmo depois de deixar a Marinha, o engenheiro Trajano continuou a dar-lhe sua colaboração em projetos, pareceres técnicos e inclusive, permitindo que a carena de sua invenção fosse empregada gratuitamente.

A carena Trajano foi privilegiada pelo governo inglês e mereceu elogios de Nathaniel Barnaby, construtor do almirantado inglês que assim se expressou em relação ao invento em 1870: "Parece extraordinário que no ponto em que nos achamos na história do mundo ainda fosse possível achar uma forma de navio capaz de ser traduzida em palavras que já não tenha sido privilegiada ou descrita nos arquivos da arte da construção naval. No entanto, até onde nos é possível ver, o sistema do Sr. Trajano possui este mérito. O objetivo do Sr. Trajano foi fazer 'desaparecer' a força que nos navios a hélice, tende a levantar a proa, o que ele propõe conseguir por meio de uma força na qual a ação sobre a água em todo o comprimento do casco torna-se completamente lateral".

Será que algum dos meus leitores sabia desse fato? É uma pena que nas escolas sequer mencionam o nome desse Brasileiro.



segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Só tem mulher quem pode

Li esta crônica de Luís Fernando Veríssimo, desconhecida para mim até então, e achei sensacional. Compartilho-a com os leitores que ainda não a conhecem.

"O desrespeito à natureza tem afetado a sobrevivência de vários seres e entre os mais ameaçados está à fêmea da espécie humana.

Tenho apenas um exemplar em casa, que mantenho com muito zelo e dedicação, mas na verdade acredito que é ela quem me mantém. Portanto, por uma questão de auto-sobrevivência, lanço a campanha ‘Salvem as Mulheres!’

Tomem aqui os meus poucos conhecimentos em fisiologia da feminilidade, a fim de que preservemos os raros e preciosos exemplares que ainda restam.

Alimentação correta
Ninguém vive de vento. Mulher vive de carinho. Dê-lhe em abundância. É coisa de homem sim, beijos matinais e um ‘eu te amo’ no café da manhã as mantém viçosas e perfumadas durante todo o dia. Um abraço diário é como a água para as samambaias. Não a deixe desidratar. Pelo menos uma vez por mês é necessário, senão obrigatório, servir um prato especial.

Flores também fazem parte de seu cardápio
Mulher que não recebe flores murcha rapidamente e adquire traços masculinos como rispidez e brutalidade.

Respeite a natureza
Você não suporta TPM? Case-se com um homem. Mulheres menstruam, choram por nada, gostam de falar do próprio dia, discutir a relação? Se quiser viver com uma mulher, prepare-se para isso.

Não tolha a sua vaidade
É da mulher hidratar as mechas, pintar as unhas, passar batom, gastar o dia inteiro no salão de beleza, colecionar brincos, comprar muitos sapatos, ficar horas escolhendo roupas no shopping. Entenda tudo isso e apóie.

Cérebro feminino não é um mito
Por insegurança, a maioria dos homens prefere não acreditar na existência do cérebro feminino. Por isso, procuram aquelas que fingem não possuí-lo (e algumas realmente o aposentaram!). Então, agüente mais essa: mulher sem cérebro não é mulher, mas um mero objeto de decoração. Se você se cansou de colecionar bibelôs, tente se relacionar com uma mulher. Algumas vão lhe mostrar que têm mais massa cinzenta do que você. Não fuja dessas, aprenda com elas e cresça. E não se preocupe, ao contrário do que ocorre com os homens, a inteligência não funciona como repelente para as mulheres.

Não faça sombra sobre ela
Se você quiser ser um grande homem tenha uma mulher ao seu lado, nunca atrás. Assim, quando ela brilhar, você vai pegar um bronzeado. Porém, se ela estiver atrás, você vai levar um pé-na-bunda.

Aceite
Mulheres também têm luz própria e não dependem de nós para brilhar. O homem sábio alimenta os potenciais da parceira e os utiliza para motivar os próprios. Ele sabe que, preservando e cultivando a mulher, ele estará salvando a si mesmo.

E meu amigo, se você acha que mulher é caro demais, vire gay.

Só tem mulher, quem pode!"



sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A mais antiga escada rolante do Rio de Janeiro

Como alguns já sabem, eu adoro história. A memória das coisas, lugares, pessoas etc é algo revelador e fascinante. Outro dia, surgiu um impasse entre grandes amigos meus sobre qual seria “a mais antiga escada rolante do Rio de Janeiro”. Saí a pesquisar pela internet e encontrei no link, algo sobre a história das escadas rolantes.

Acontece, que Dona Norma Hauer, uma mulher sensacional e dona de uma memória incrível, foi veemente em seu depoimento: ”Gente, só hoje soube da polêmica sobre a primeira escada rolante no Brasil. Se é do Brasil, não sei, mas a primeira escada rolante do Rio de Janeiro (que era Capital, portanto deve ser a primeira do Brasil) ficava nas ‘Casas da Criança’, que ainda existe na Rua Ramalho Ortigão, tendo entrada também pela Rua 7 de Setembro. Se vocês forem lá e olharem para o teto, verão um espaço escuro. Era ali que ficava a escada rolante de minha infância. E bota tempo aí... Era nos anos 30 que eu sempre ‘chateava’ minha mãe ou minha tia... ‘Eu quero ir na escada rolante’. É difícil provar. Nem os empregados atuais da loja sabem disso, mas pessoas de minha faixa etária devem ter passado por lá na infância. Se esse fato está registrado em alguma enciclopédia, não sei, mas na Internet não está. Minha neta tentou colocá-lo, mas sem prova é difícil. Afinal é a palavra de alguém da terceira idade, que deve estar ‘gagá’. Ah.ah.ah...
A escada rolante das Casas da Criança deveria ser dos anos 34 ou 35. Em 1936 eu já estava em um colégio longe de casa (perto do Largo do Maracanã) e ia sozinha de Santa Teresa a esse colégio. Assim, não precisava mais de mãe ou tia para levar-me àquelas Casas. Acredito mais no ano de 1933 e seguintes. Talvez na loja, que ainda existe, seja possível saber quando essa loja (não as escadas) foi inaugurada. Deve haver um arquivo. Passarei lá para saber.”


Eis que outra amiga especial, Marília, “foi à caça” na internet... E ela é boa nisso. Vejam o que ela encontrou. O livro Interiores, da arquiteta Patrícia Vasconcellos. Segue a sinopse do livro:
Mais novo lançamento da Editora Sextante Artes, o livro Interiores registra a parte interna de 86 dos 3 mil imóveis que integram o Corredor Cultural do Rio de Janeiro. Com cerca de 150 fotos, feitas pelo fotógrafo Sergio Pagano, e textos de Patrícia Vasconcellos, o livro é uma viagem através do que houve - e ainda há - de melhor no interior de alguns prédios do Centro do Rio e arredores.O Corredor Cultural é composto por prédios e casas espalhados pela Praça Quinze, Saara, Largo de São Francisco, Lapa e Cinelândia, de onde foram preservadas cerca de 1.600 fachadas e telhados construídos entre os séculos XIX e XX. Patrícia Vasconcellos e Maria Pace Chiavari visitaram os 1.600 imóveis, registrando os mais significativos para a história da cidade e as mudanças que ocorreram nos últimos 16 anos. O projeto foi complementado pela lente de Sergio Pagano, que fotografou - sempre de um ângulo de fácil identificação - os interiores de cada um dos prédios selecionados pelas arquitetas.



Depois disso, não me contive e pus-me pela “estrada afora” à procura das escadas rolantes. Vejam estes comentários que encontrei no fotolog do André Décourt, "Foi um Rio que Passou". Era um post sobre o Café Lamas, e lá no finalzinho uma senhora de nome Evelyn fez o comentário.

"Evelyn 25/04/06 22:00 … Andre, outra dúvida, mas desconectada do assunto de hoje, você saberia dizer qual foi a primeira loja a ter escadas rolantes no Rio? No livro “Interiores” (Patricia Vasconcellos) há a informação que foi a loja “Casas da Criança” no ano de 1932, situada na Rua Ramalho Ortigão 8-10 (quase esq com Sete de Setembro), sendo a primeira escada rolante instalada na America Latina, sendo a única no Rio de Janeiro por 20 anos, formando filas intermináveis de curiosos, loja esta existente ate hoje no mesmo local. Uma vez perguntei pessoalmente ao prof Milton Teixeira e ele disse que vários estabelecimentos comerciais “disputam” o título de primeira loja a ter escadas rolantes…

andredecourt 25/04/06 22:54 … Evelyn, pelo que sei tanto a velha SEARS na praia de Botafogo como a finada Lojas Brasileiras de Copacabana tinham, pelo que sei, as escadas mais velhas de nossa cidade. Ambas foram instaladas nos anos 40, talvez essa da “casas da Criança” possuísse algo diverso do conceito de escadas rolantes como conhecemos hoje."


Depois do que encontrei hoje no comentário do fotolog sobre o livro Interiores, e que “bate” exatamente com o depoimento vivo da Sra. Norma Hauer, não tenho mais dúvidas. A mais antiga escada rolante do Rio de Janeiro, e do Brasil, foi realmente a da “Casas da Criança”.

Ainda assim, restou-me uma dúvida. Era no Largo de São Francisco que ficava o prédio do magazine Parc Royal, que sofreu um incêndio em 1943. Encontrei no fotolog “Só Rio”, de André Costa, o registro no jornal Noite Ilustrada do incêndio que pôs fim no grande magazine. No registro desta publicação de época, a Casa Cruz agradeçe os fornecedores e clientes solidários com o desabamento, em 13/07/1943, visto que o durante o incêndio, as paredes laterais do Parc Royal levou à demolição das fachadas da Casa Cruz e da Casa Matos, além de uma Confeitaria. O Largo de São Francisco ficou, então, maior, liberando o espaço anexo da Igreja de São Francisco.


O incêndio do magazine Parc Royal em 1943

Diante disso, me pergunto, será que a "Casas da Criança" ocupa hoje algum espaço que um dia foi parte do magazine Parc Royal?

Dona Norma, a senhora é como o Repórter Esso, é a testemunha ocular da história! Seu depoimento tem imenso valor.