domingo, 27 de novembro de 2011

Autor Desconhecido

Autor Desconhecido é o nome do blog de Vanessa Lampert. Na descrição de seu blog ela diz: “Este blog existe para provar que o Autor Desconhecido não existe”.

Quando li alguns dos textos de que Vanessa Lampert fala, percebi que são todos muito bons. Até que meus olhos esbarraram num texto que me impressionou pela beleza das palavras, pela narrativa fluida. Achei lindo. Por isso, estou transcrevendo aqui no De Tudo Um Pouco. Exigente como sou, não publicaria algo que não me agradasse.

Diz a Vanessa Lampert:
Este virou clássico. Atribuído ao Luís Fernando Verissimo, rodou o mundo e foi elogiado na França. A autora, Sarah Westphal, é estudante de medicina e mora em Florianópolis. Aí vai o texto, creditado à escritora certa:


Quase
Sarah Westphal

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência. Porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Para os erros há perdão; para os fracassos, chance; para os amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Sexta-feira, Abril 01, 2005
Desvendado por Vanessa Lampert 4:15 PM




sábado, 26 de novembro de 2011

The Voice... De Nat King Cole

É incontestável que Frank Sinatra foi chamado de “The Voice” pelos fãs mundo afora por algum motivo. Nada na vida acontece sem um motivo. De fato, Sinatra desenvolveu um estilo sofisticado, tinha habilidade em criar uma linha musical fluente, sem pausas para respiração, e ainda, a maneira com swing próprio em manipular as frases ao cantar. Tudo isso junto fez de Sinatra um cantor estiloso, diferenciando-o dos seus contemporâneos.

Ainda bem. Porque, sem querer entrar em qualquer outra seara que não a da música, e apesar de gostar de Frank Sinatra, não posso deixar de registrar aqui uma opinião minha. Essa designação atribuída à Sinatra nada tem a ver apenas com sua voz, muito mais com seu estilo.

Para mim, “a voz”, aquela verdadeiramente melodiosa, aveludada, e que você daria tudo para ouvir pessoalmente de seu dono, tem outro nome. É Nat King Cole, nome artístico de Nathaniel Adams Coles. Nascido em 17 de março de 1919, foi contemporâneo de Frank Sinatra. O apelido de "King Cole" veio de uma popular cantiga de roda inglesa conhecida como Old King Cole.


Nat King Cole e Eartha Kitt, em 1958.

Nat King Cole aprendeu a tocar piano na igreja onde seu pai era pastor. Desde criança ele esteve ligado à música, tocando junto ao coral da mesma igreja. Cole lutou contra o racismo durante toda a sua vida, raramente apresentou-se em lugares segregacionistas. Sua então revolucionária formação em piano, guitarra e baixo ao tempo das big bands tornou-se popular para trios de jazz. Suas músicas românticas tinham um toque especial junto a sua voz associada ao piano, tornando-o assim um artista de grande sucesso.


Nat King Cole e sua filha, Natalie Cole.

Em 5 de novembro de 1956, ‘The Nat King Cole Show’ estreou na NBC-TV. Foi o primeiro programa deste tipo comandado por um negro, causando controvérsia na época. Ficou no ar por pouco mais de um ano, mas teve de ser encerrado, por iniciativa do próprio Nat King Cole, por não ter conseguido nenhum patrocínio de âmbito nacional.

Racismo
Em 1948, comprou uma casa em um condomínio só de brancos nos arredores de Los Angeles. A KKK ateou fogo em uma cruz em frente à sua casa. O conselho do condomínio disse-lhe que não queriam indesejáveis mudando-se para lá. Ele concordou e disse: "Eu também não, se eu vir alguém indesejável mudando-se, serei o primeiro a reclamar".

Em 1956, foi atacado no palco durante um show em Birmingham, Alabama, enquanto cantava "Little Girl", por três membros do North Alabama White Citizens Council. Os três agressores avançaram pelos corredores da plateia. Embora a segurança tenha rapidamente acabado com a invasão, Cole foi derrubado de seu banco e machucou as costas. Ele não acabou o show e nunca mais se apresentou no Sul dos EUA. Ainda em 1956, foi contratado para se apresentar em Cuba e quis ficar no Hotel Nacional de Cuba, mas não lhe foi permitido porque tinham restrição para negros. Cole honrou seu contrato e seu show no Tropicana foi um grande sucesso. No ano seguinte, voltou a Cuba para outro show, cantando várias músicas em espanhol. Hoje existe um tributo a ele na forma de um busto e uma jukebox no Hotel Nacional. Já Sinatra, esteve em Cuba em 1947, no início de sua carreira como cantor e não passou por nenhum contratempo. Não pelos seus, mais tarde conhecidos mundo afora, ‘Old Blue Eyes’, mas sim por alguns privilégios outros, se é que me faço entender.

Infelizmente, seu hábito de fumar três maços de cigarro por dia, o fez morreu vítima de câncer em fevereiro de 1965. Interessante que a primeira lembrança que tenho de criança é a de minha mãe choramingando por ter ouvido no rádio a notícia da morte de Nat King Cole. Eu tinha 5 anos de idade e, ao lhe perguntar o motivo do choro, ela me disse com a voz embargada: “O Nat King Cole morreu”. Eu passei alguns anos da minha vida me perguntando quem teria sido este “parente” nosso que a morte fez minha mãe chorar. Fui crescendo e mamãe me apresentou à “Voz”. Tenho até hoje guardado o LP ”Cole Español” de 1958. Neste álbum descobri o bolero maravilhoso “Acércate más”, cantada pela voz aveludada de Nat King Cole com aquele sotaque americano que dá um toque todo especial à canção.
Acércate más… Y más, y más... Pero mucho más.
Y bésame así... Así, así... Como besas tú.




Nat King Cole passou pelas gravadoras Decca, Excelsior e Capitol Records. Sua discografia vai desde 1944, com o álbum The King Cole Trio, até 1965, ano de sua morte, quando foi lançado o álbum L-O-V-E.

Dizem que Frank Sinatra e Nat King Cole se amavam. “Nat was a giant”, em palavras do próprio Sinatra que, ainda segundo dizem, respeitava Nat mais do que qualquer outro.

Para quem pensa que já ouviu a melhor versão gravada de alguns clássicos estadunidenses como (I love you) for sentimental reasons, uma das “everlasting love songs” dos anos 40, melodia de Lionel Newman e letra de Dorcas Cochran em 1945, conforme Espie Estrella, Music Education Guide, repensem e ouçam as versões na voz aveludada de Nat King Cole. A ou ainda Fly me to the Moon, letra e música de Bart Howard, composta em 1954. Passem pelo Youtube, ouçam outros clássicos na voz dele e sintam a diferença.

I love you for sentimental reasons