sexta-feira, 27 de maio de 2011

Let me count the ways...

Poetisa inglesa da época vitoriana, Elizabeth Barrett Browning, nasceu em 6 de março de 1806 e faleceu em Florença em 29 de junho de 1861. Foi a autora de Sonnets from the Portuguese, coletânea de poemas românticos dedicada a seu marido, o também poeta Paul Robert Browning. Um destes poemas, o de número 43, é considerado o mais belo da lírica amorosa já escrito por uma mulher em língua inglesa. O livro foi publicado em 1850. No Brasil, Elizabeth Barrett Browning foi traduzida por nomes como o do poeta Manuel Bandeira. O homem do "Vou-me embora pra Pasárgada".

A mais delicada e encantadora história de amor
Aos quinze anos, uma tosse violenta e uma grave lesão nas costas prejudicaram, quase que irreversivelmente, a espinha dorsal de Elizabeth e, o pior, afetou sensivelmente os pulmões. Com a saúde debilitada, ela vivia praticamente isolada do mundo exterior.

Elizabeth e Robert Browning ainda jovens antes do casamento

Robert nasceu numa família de intelectuais abastados. Numa determinada etapa da sua vida, voltando da Itália para a Inglaterra, sentiu-se momentaneamente desorientado, procurando achar uma novo rumo para a sua vida. Entregou-se impetuosamente à leitura. Foi nesse ambiente de transformação, provavelmente vulnerável, que pela primeira vez leu os poemas de Elizabeth Barret, Poems, editados em dois volumes, em 1844.

Seduzido de forma irremediável pelos escritos, exatamente ele que se julgava um intransponível nos caprichos do amor, percebeu de forma arrebatadora que sucumbira aos versos fluentes, enamorando-se perdidamente pelo espírito e inteligência daquela poetisa. Consciente do fato, num ímpeto, pegou a caneta e alinhavou com certeza uma das mais célebres confissões de um amor virtual de que se tem conhecimento: "Amo os seus livros com todo o meu coração e amo-a também a si...." Num dia extremamente frio de 1845, depois de ler toda sua correspondência, Elizabeth separou uma das cartas e releu os dizeres que a marcaram para sempre: “Amo os seus versos com todo o meu coração. Amo estes livros e amo-a a si também. Sabe que uma vez estive quase a conhecê-la pessoalmente? Uma manhã, o senhor Kenion perguntou-me: ‘Gostaria que eu o apresentasse a Miss Barret? E foi anunciar-me, mas pouco depois voltou dizendo que a senhora não se sentia bem e assim regressei a casa’. Será que nunca a conseguirei ver? De qualquer maneira, quero dizer-lhe que era necessário que os seus poemas fossem escritos para que tão grande alegria e tão sincera satisfação despertassem no seu devoto admirador Robert Browning."

Também num impulso e com disposição incomum ao seu estado de saúde, começou a responder: "De todo o coração lhe agradeço, caro Sr. Browning"..."Os Invernos cerram-me todo o horizonte tal como cerram os olhos dos...." Timidamente, numa composição poética em forma de carta, Elizabeth procurou sutil e delicadamente responder aos anseios do admirador: "Na Primavera veremos... "Sua dedicada amiga, Elizabeth Barrett."

Em 573 cartas, a história registrou uma das mais impressionantes, comovedoras e reveladoras expressões de relações humanas de que se tem notícia. As cartas que Elizabeth recebia, agora quase que diariamente, do desconhecido Robert, eram verdadeiros golpes de energia e vibrante humor na casa de Wimpole Street, 50. A correspondência entre ambos continuou, apesar de já se terem conhecido pessoalmente e estarem mantendo contatos presenciais semanalmente. A presença de Robert na casa era como um balsamo para Elizabeth, dando-lhe o vigor quase que milagroso. "Agora já me sinto viver", exclamou.

O inverno logo chegaria e Elizabeth decidiu-se: "Se partires o nosso casamento será adiado pelo menos um ano. Já tivemos ocasião de verificar o que ganhamos em esperar até agora. Devemos, pois, casar imediatamente e partir para Itália. Hoje mesmo pedirei a licença e, deste modo, o casamento poderá realizar-se no próximo sábado." E assim aconteceu, numa manhã de sábado, 12 de setembro de 1846, Elizabeth acompanhada da fiel criada, cujo pretexto foi o de visitar uma amiga, vai ao encontro do seu amado. Não sem muito esforço, Elizabeth conseguiu chegar a Igreja onde Robert, juntamente com um primo, esperava ansiosamente. De forma discreta, finalmente o casamento concretizou-se. Elizabeth e Robert planejaram uma fuga e, exatamente uma semana após o casamento, em 19 de setembro de 1846, também um sábado, Elizabeth, sua fiel criada, e até o seu cachorro Flusx deixaram definitivamente a casa de Wimpole Street, 50. Como nos finais dos contos mais líricos, Robert e Elizabeth viveram felizes por muitos anos. Cidades como Florença, Paris, Pisa e Roma, eram rotas obrigatórias, desfrutando das belezas naturais, do clima, dos amigos, e logicamente da poesia que além de outras afinidades, unia os dois amantes. Elizabeth, radiante e feliz, sentia-se muito bem de saúde, e para coroar a felicidade definitiva daquela união, na primavera de 1849, aos 43 anos, deu à luz um menino.

Morrer em Florença
Em Florença, numa tarde de junho, acometida de um repentino e inesperado ataque de bronquite, imediatamente assistida pelo seu médico, Elizabeth faleceu nos braços de Robert.
Num relato comovente, escrito pelo poeta tempos depois afirmou: "Sempre sorrindo e com uma expressão de felicidade no seu rosto de menina, faleceu, em poucos minutos, com a cabeça apoiada na minha face".





Sonetos Portugueses, 43
Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh'alma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.

Amo-te em cada dia, hora e segundo:
A luz do sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.

Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.

Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte."
Elizabeth Barrett Browning
tradução de Manuel Bandeira




How Do I Love Thee ?
Sonnet 43
by Elizabeth Barrett Browning

How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of being and ideal grace.
I love thee to the level of every day's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for right.
I love thee purely, as they turn from praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints. I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life; and, if God choose,
I shall but love thee better after death.


Fonte: Extraído da obra de Donald e Louise Peattie, ‘Uma História de Amor’.


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