sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mentiras sinceras NÃO me interessam

Coversar informalmente com as pessoas que nos rodeiam, seja onde for, no trabalho, nas ruas, nas reuniões entre amigos, deveria ser interessante, não? Deveria. Infelizmente, nem sempre é. Aquilo que chamamos de bate-papo deveria ser uma fonte de estímulos entre as pessoas que participam dele, trocando ideias, aprofundando relacionamentos. Gerar, enfim, energia positiva que promova o bem-estar, que dê a sensação de estarmos recarregando nossas baterias para a alegria e o contentamento.

Entretanto, me surpreendo com a quantidade de pessoas capazes de apenas falar sem dizer nada. Longe de mim dizer que falar é ruim... Logo eu, que adoro falar! Mas, até para falar, precisamos saber o que estamos transmitindo e a quem. Tenho percebido muita gente que fala sobre coisas que não levam ninguém a lugar nenhum. Reclamam de tudo e de todos, resmungam, vivem remoendo problemas, comprados por elas mesmas a altíssimo preço, sem jamais terem buscado soluções. No final das contas, saem da conversa pior do que quando entraram nela e ainda acabam deixando outras pessoas “pra baixo”.

As pessoas andam carentes de estímulos, têm necessidade de reconhecimento e aceitam satisfazê-la mesmo que através das famosas “mentiras sinceras”, trocas ruins, de má qualidade.

Eu prefiro o frio ao calor. Há aqueles que preferem o contrário. Mas nada há de pior do que gostar do que é “morno”. Como deve ser horrível o contato morno entre as pessoas. Eu gosto de contatos verdadeiros com as pessoas. Um abraço verdadeiro, um sorriso autêntico, um beijo carinhoso ou apaixonado, compartilhar os bons e os maus momentos, e principalmente, ser a pessoa que sou com todas as minhas emoções. Para isso, é preciso estar aberto para a vida, o mundo, ao seu próximo, ao novo. Nada de barreiras, máscaras, preconceitos. Quem evita os contatos verdadeiros, sente-se vulnerável e isso deve assustar terrivelmente. Estas pessoas talvez sejam aquelas que não experimentaram o prazer de receber afeto por serem elas mesmas. E aqui abro um pequeníssimo parêntese para chamar a atenção dos leitores para a “praga” em que se transformou o tal do “politicamente correto”. Favor não confundir com falta de educação e/ou de respeito para com seu próximo.

Talvez, quando os seres humanos aprenderem a se libertar e a se permitir vivenciar contatos verdadeiros, relacionamentos autênticos, sem tentar viver preso a um passado pleno de culpas, remorsos, ressentimentos; ou, ao contrário, sem tentar viver com a mente presa a um futuro, pleno de preocupações, medos, ansiedades, aprenderão que é preciso viver o presente. Assim, sentirão que poderão planejar um futuro sereno, sem carregar nas costas o peso de um passado distante. Esse Atlas do século XXI, cada vez mais, se distancia de apostar numa vida plena e feliz.


São aquelas pessoas que, por exemplo, acreditam que um casamento fracassado se repetirá e deixam de se permitir viver um amor verdadeiro. Acreditam que sempre fizeram as coisas erradas na vida, se trancam em suas conchas e deixam de tentar até conseguir o que desejam. Enfim, exemplos não faltam. O ser humano vive a vida escrita por ele mesmo. Obstáculos existem para todos, sem exceções. Não nos esqueçamos, portanto, que, quanto mais autêntica uma pessoa for, menos as “mentiras sinceras” farão parte da nossa existência.


A meta suprema de vida do ser humano deveria ser a liberdade. Esse é um pensamento de Erich Fromm, psicanalista e filósofo alemão do século XX. Eu concordo plenamente. Quem não assumir o comando da própria vida, jamais exercerá seu direito à liberdade. Quem não vive intensamente, vive morrendo em vida. Repudie a desistência. Tente tantas vezes quantas se fizerem necessárias alcançar seus sonhos, seus desejos. O ser humano livre pode viver a realidade sem perder o contato com suas emoções.



sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal? O que é o Natal?

Se eu deixar aqui hoje, véspera de Natal, um desenho, uma animação, uma foto ou coisa que o valha, com a “carinha” estilizada de Jesus Cristo, todos achariam o mais natural dos posts, afinal de contas hoje é dia 24 de dezembro, véspera de Natal.

Às vezes, tenho inspiração para propaganda de margarina, e até faço umas coisinhas interessantes. O que, até entendo, mas não consigo compreender, é como tantas e tantas e tantas pessoas, ditas esclarecidas, ainda não tenham sentido a “ficha cair” com relação às datas marcadas a ferro e fogo no calendário.

Vou fazer um “caça às bruxas” Express para tentar deixar bem clara a minha intenção com o texto. Nessa “brincadeira” de calendário, a instituição Igreja Católica "lavou a égua". Mais do que deputado em Brasília, recheou de datas “santas” (tudo em nome Dele) os 365 dias do ano. E isso a tal ponto, que atualmente existe um Santo/São “alguma coisa” para ser celebrado a cada um dos 365 dias do ano. Há ainda todos os rituais da Igreja Católica, sempre em nome Dele, é claro, desde o Seu nascimento até Sua morte na cruz, passando pela ressurreição etc etc.

Mas nem tudo é culpa exclusiva da Santa Igreja. Os senhores detentores das tilitantes moedinhas, desde séculos imemoriais, muito antes do Tio Patinhas, já se preparavam trabalhando na evolução de algo que, muitos séculos mais tarde, ficaria conhecido no novo mundo, as Américas, como Marketing. E o mais interessante é que quando essa praga do consumismo (não confundir com consumo) fora de qualquer padrão de normalidade, menos ainda de naturalidade, finalmente colocou suas garrinhas de fora, já não havia mais a Santa Inquisição para queimá-lo vivo em praça pública, assim como fizeram com as “bruxas” e os “alquimistas” em plena idade média. A Santa Inquisição começou lá pelos idos de 1200, na França e só foi terminar no século XX. Sim, no século XX. A "Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício", por exemplo, existiu entre 1542 e 1965, mais de quatro séculos ininterruptos. Naquele ano, o Concílio Vaticano II, durante o pontificado de Paulo VI, assumiu seu nome atual, "Congregação para a doutrina da Fé". Se só mudou de nome, como assim acabou? É a vida.

O “Avemarketing”, HeilMarketing realmente “enfeitiçou” a tal ponto o ser humano da era moderna, da revolução industrial, do pós-segunda grande guerra, da globalização etc que, atualmente, podemos saber o dia do mês em que estamos pelas propagandas dos grandes shopping-centers do mundo ocidental e de parte do oriental que já sucumbiu aos presentes de Natal e quaisquer outras festivadades (tudo muito católico, claro).

Quem não gosta de se engalfinhar com os outros nestes paraísos do consumo, perto de datas como Natal, Dia das Crianças, Dias das Mães, dos Pais, Páscoa, blá, blá, blá? Tudo por um ovo de Páscoa ou um brinquedo eletrônico que pagará em “zilhões” de prestações apenas e tão-somente para se sentir aceito na atual sociedade, que dita as regras de quem pode e quem não pode fazer parte dela, emergentes ou não. O ser humano já perdeu há algum tempo a noção de liberdade de pensar, mesmo sem o saber. Ele não manda mais em si próprio. Seu verdadeiro amo e senhor atende pelo nome de “Marketing”. Goebels era mestre nesse métier.

Presentes, materiais ou não, deveriam ser dados e/ou recebidos em qualquer dia do ano, em qualquer época da vida. Basta haver algo a ser celebrado. A vida, por exemplo. Ou a fraternidade, ou o respeito ao próximo, ou a natureza, o amor, ou apenas... A felicidade. Jesus Cristo? Ele está lá, em algum lugar, sentado qual “O Pensador” de Rodin, a repetir...



“Como essas minhas ovelhas são lerdas no aprendizado... E olha que estive lá, pessoalmente, para a aula inaugural e, ainda assim, parece que não adiantou nada!”



Feliz Natal, leitores!





quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Minha nostálgica Ilha do Governador

Ainda outro dia um leitor deixou um comentário no qual ele pedia que eu postasse mais assuntos que fizessem relembrar bons momentos que ficaram para trás no tempo. Aquela famosa saudade que sentimos, de vez em quando, das coisas e acontecimentos que pensamos eram os melhores etc. Na verdade, a saudade que sentimos é do nosso tempo de criança ou da nossa juventude. É exatamente isso que nos traz aquela nostalgia das coisas do passado.

Então, vi dentre algumas fotos antigas que tenho, essa aqui abaixo. É o prédio onde funciona até hoje o quartel do Corpo de Bombeiros da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. A diferença entre o prédio atualmente e o mesmo prédio nessa foto de 1952 é o "detalhe" da Estrada do Galeão ainda sem asfalto.


Quartel do Corpo de Bombeiros na Ilha do Governador em 1952

Ao meu leitor que gostou do seu momento saudade, digo que essa foto, oito anos mais velha do que eu, me fez sentir uma baita saudade dos meus tempos de criança na Ilha do Governador. Mais do que isso, só a publicação desta segunda foto, também na Ilha do Governador. Essa eu sei que vai fazer muita gente se lembrar de fatos inimagináveis nos dias de hoje.

Mercado Nossa Senhora da Ajuda, no Cocotá

Dentre os melhoramentos realizados na Ilha do Governador, durante o governo do Presidente Dutra, um que deixou sua marca nos moradores certamente foi o Mercado Nossa Senhora da Ajuda, no Cocotá. A sua construção seguia o padrão da época, com uma grande área central, circundada por boxes, nos quais se encontrava de tudo(?), carnes, salgados, cereais, verduras etc. Mais tarde, após obras que descaracterizaram a antiga construção, o prédio abrigou os mercados Leão durante um bom tempo. E é deste mercado que eu me lembro bem. Hoje, é ocupado pelo Supermarket, que em nada lembra a antiga edificação dos anos 50. Os flamboyants plantados à época da inauguração, hoje são árvores frondosas, que enfeitam a praça durante o verão.


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Só podia ser mulher !

Quando você ouve essa frase no trânsito, o que você pensa? Ou melhor, de quem você se lembra? Eu penso imediatamente naqueles seres frágeis e bobos, que são prudentes, cuidadosos com seus veículos, pois foram comprados com o suor do seu trabalho, cuidadosos, sobretudo, com a manutenção deles. Sabem... Aqueles seres tolinhos, que pensam que os pedestres podem ser um dos seus familiares, que o motoqueiro apressadinho pode ser um dos seus filhos, que as regras de trânsito foram feitas para serem seguidas, que não pensam em serem os “espertinhos de plantão” para ultrapassar pelo acostamento, que não fecham cruzamentos, mesmo com o semáforo verde, assim como se faz nos países civilizados.


Enfim, aquele serzinho, tão frágil quanto um cristal da Boêmia, que, apesar de: sair de casa às 7h da manhã; enfrentar o trânsito caótico das megalópoles brasileiras até o trabalho; encarar uma jornada diária média de 12h de trabalho no ritmo atual das grandes corporações; bater metas; fazer mais um MBA; trocar o almoço por colocar em dia a leitura que vai atualizá-lo com as últimas tendências na sua área de trabalho; participar de “trocentas” reuniões, que ele já sabe que não servirão para nada; antes de ir embora, ainda ter de ouvir alguma “gracinha” dos seus pares; enfrentar o mesmo trânsito caótico para voltar para casa; chegar em casa e dar de cara com o “cãozinho” da família e ter de enfrentá-lo ombro a ombro e sair da “luta” com a roupa suja e amassada; ouvir as usuais reclamações dos filhos em relação à empregada, namorados etc; ouvir as também usuais reclamações da empregada em relação aos entregadores de qualquer coisa... Para fechar com chave de ouro, quando chega ao seu quarto e encontra um marido com aquela cara de “quem comeu e não gostou”... Querem mais?! E tem mais. É esse mesmo serzinho, tão frágil quanto um cristal da Boêmia, que já nem se lembra mais que ouviu aquela “pérola” no trânsito caótico... Quando foi mesmo? Na ida para ou na volta do trabalho? Mas... Isso é importante?


Fala sério!!! É esse serzinho frágil e bobinho que tem desconto das seguradoras de automóveis porque são os que menos cometem infrações de trânsito, que menos se envolvem em acidentes, que têm os melhores reflexos por terem mais atenção ao dirigir. Paradoxal? Óbvio... Só podia ser mulher! É disso que todos deveriam se lembrar antes de dizer algo assim no trânsito. Se todos esses serzinhos resolvessem dizer, em uníssono, a contrapartida, seria mil vezes pior... ”Só podia ser homem!”

Alguns dados do Anuário Estatístico do DENATRAN - RENAEST 2008

1. Condutores Habilitados no Brasil – Por sexo

Com base nos números da tabela acima, pode-se afirmar que em cada 10 veículos que circulam nas ruas, apenas 3 são conduzidos por mulheres.

2. Condutores Envolvidos em Acidentes de Trânsito com Vítima no Brasil – Por sexo

A tabela acima demonstra que de cada 20 motoristas que se envolveram em acidentes de trânsito, em 2008, em média, 17 foram homens e 3 foram mulheres.

3. Vítimas Fatais de Acidentes de Trânsito no Brasil – Por sexo

De cada 20 vítimas fatais por causa da violência no trânsito, 17 em média, foram do sexo masculino e 3 do sexo feminino. Que diferença!

4. Vítimas Não-Fatais de Acidentes de Trânsito no Brasil – Por sexo


Nos acidentes não-fatais a diferença percentual entre o número de vítimas masculinas e femininas cai de 72% para 52%. Deveríamos creditar esse percentual adverso na conta daqueles momentos em que o batom tira a atenção de nós mulheres?

Todos esses dados e números me fizeram lembrar de algo que li na internet sobre uma cena de TV ou cinema, não estou certa, feita pela atriz Marília Pera. Ela dirigia e, numa briga de trânsito, um motorista disse a ela:
- Vá pilotar um fogão!
E ela, serenamente, respondeu:
- Vou sim. Dá aqui seus ovos que eu vou fritar.




segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Esquerda, Direita, Carlos Lacerda

Estou lendo um livro de quase quinhentas páginas e para mim está parecendo que ele é um livro daqueles fininhos. Quando se trata de leitura, não há o que discutir, ela tem de ser agradável, ou seja, você precisa gostar do assunto que está lendo, senão podem ser apenas duas páginas, e ainda assim, a leitura será enfadonha.

Estou lendo o livro “Depoimento” de Carlos Lacerda. Sei que o Lacerda era, e continua sendo, assim: ou você ama ou odeia. Faço parte daqueles que o amam. Carlos Lacerda já não está entre nós e deixou – acima das polêmicas sobre ele – a certeza de quem não passou pela vida na omissão e no comodismo. Sempre achei sua gestão como governador do ex-Estado da Guanabara eficiente. Entretanto, precisava ler mais sobre ele. Obviamente não estou limitada a este livro. Há vários livros tentadores sobre esse líder a serem lidos. Por hora, quero colocar estas palavras na internet. Ele fala sobre os conceitos de esquerda e direita e suas diferenças. Devemos ter em mente que esse depoimento foi dado a um grupo de jornalistas em 1977, dois meses antes do seu falecimento, aos 63 anos, na Clínica São Vicente no Rio de Janeiro, após ter contraído uma gripe comum. Pois é, um dos três líderes da Frente Ampla (Lacerda, JK e Jango) que morreu sob condições, no mínimo, estranhas. Eis o texto.

Essa minha experiência, essa minha aproximação com os comunistas pode ter sido chamada de esquerdismo juvenil. Se você atribui a isso uma conotação, vamos dizer, um pouco assim, como eu vou dizer? Não é bem de zombaria, mas um pouco de coisa muito provisória, a resposta é não. Foi mais profunda.

Eu nunca fui, em outras palavras, da esquerda festiva. Essa glória eu tenho, nunca pertenci à esquerda festiva, que inclusive é um fenômeno relativamente novo. Eu nunca seria capaz de fazer o papel do Chico Buarque de Holanda, cuja música eu aprecio muito e cujo caráter não aprecio nada. Estou falando dele, mas não especialmente dele. Só citando um exemplo. Digo isso porque é uma esquerda festiva, que é contra o regime no qual ele vive, no qual se instala, do qual participa lindamente, maravilhosamente etc. Eu não conheço nenhum sacrifício que ele tenha feito senão a censura em suas músicas por suas ideias. Agora, acho que se ele tem essas ideias, então seja coerente, viva essas ideias, viva de acordo com elas. Isso não é nenhum caso particular com o Chico... Estou apenas dando um exemplo. Enfim, tenho horror à esquerda festiva, porque acho que é uma forma parasitária de declarar guerra a uma sociedade da qual se beneficia e participa integralmente.


Lacerda fez para a revista Manchete uma série de entrevistas com personalidades ligadas à arte brasileira. Aqui com o compositor Tom Jobim.

Hoje em dia tenho muito medo da palavra esquerda, como tenho medo da palavra direita, porque acho que a evolução política do mundo confundiu muito essas noções. Antigamente, a gente sabia o que era um reacionário. Na Revolução Industrial, um reacionário era um lord que vivia sem trabalhar, à custa do trabalho dos párias indianos e do trabalho de crianças de 12 anos nas fábricas de tecidos ou nas minas de carvão; então, esse era um reacionário. Um revolucionário era quem declarava guerra a tudo isso e que fazia qualquer sacrifício para acabar com aquela situação.

Depois, numa certa época, um homem de esquerda era quem queria fazer certas reformas através da manifestação da vontade do povo: eleições livres, comícios, explicações ao povo, enfim educação política do povo, debates, para chegar a determinadas posições reformistas, ou até mais radicais; enquanto um reacionário era quem não queria eleições, queria uma ditadura, queria uma elite dominante e uma massa obediente.

A partir de certa altura da evolução política do mundo, isso se embaralhou completamente: os reacionários querem eleições e a esquerda não as quer. Só as quer quando está fora do poder, quando está no poder, proíbe.

Então, a pergunta que eu faço a mim mesmo muitas vezes – eu já respondi, mas não vejo os outros se fazerem suficientemente – é esta: Perón era de esquerda ou de direita? Getúlio Vargas era de esquerda ou de direita? Apenas para citar dois exemplos aqui, em casa. Se formos para o resto do mundo, também encontraremos um pouco esse mesmo tipo de coisas.

O Mussolini fez na Itália certas reformas que seriam chamadas de esquerda, até pela própria formação dele, que era eminentemente esquerdista. Por outras palavras, acho que não há nada mais parecido, nada mais próximo de um homem de extrema esquerda do que um homem de extrema direita, na medida em que, no fundo, eles se caracterizam por uma forma de elitismo, ou chame-se isso pelo nome que quiser.

Os comunistas entendem que eles são uma vanguarda do proletariado, portanto uma elite incumbida de governar o mundo em nome e em favor dessa grande massa, que é chamada a votar unanimemente, quando é chamada a votar. Os fascistas fazem exatamente a mesma coisa.

De maneira que para mim esse conceito de esquerda e direita hoje se resumiria numa outra colocação. Quero dizer: se o sujeito acha que a injustiça é uma coisa, por assim dizer, de origem divina, que está na natureza humana aceitá-la e que, portanto, é insuscetível de modificação e se conforma com ela, então ele é de direita. Se o sujeito, sem ilusões sobre utopias, acha que tem obrigação de lutar a vida inteira para diminuir o coeficiente de injustiça do mundo, ele é de esquerda.

Quer dizer: se o sujeito acha que não há o direito de usufruir certos privilégios num país em que a grande maioria não tem direitos, ele é de esquerda, seja qual for a sua posição política: liberal, conservadora ou reformista. Se ele tem, fundamentalmente, ele é, na minha opinião, um sujeito de esquerda.

Sem dúvida, a expressão “de esquerda” é mais lisonjeira do que a “de direita”, mas o fato de muita gente achar uma coisa, uma determinada coisa, não significa que ela esteja certa. Quer dizer apenas que a maior parte das pessoas é mal informada.

A posição de esquerda é mais popular na medida em que não tem compromissos com a ordem estabelecida; então não tem obrigação nenhuma de manter certas instituições e certos conceitos sem os quais a sociedade não se organiza. Por outras palavras, posso ser de esquerda e ser contra a existência da Polícia, é facílimo; isso porque não estou no poder. Agora, se estiver no poder e um grupo de terroristas pegar 100 reféns inocentes e ameaçar degolá-los se determinadas coisas que impõem não forem atendidas, aí vou sentir a necessidade da Polícia. E então? O que eu sou? De esquerda ou de direita?

Acho que não perco absolutamente a minha condição de sujeito que simpatiza com a luta contra a injustiça se eu achar que entre os direitos humanos se inclui, como direito fundamental, o direito à vida e que tanto atenta contra os direitos humanos o coronel que tortura o preso, quanto atenta contra o primeiro dos direitos humanos, que é o direito à vida, o terrorista que prende um refém inocente. Se dependesse de mim, fuzilaria todos na hora, depois iria discutir.

A tortura de um homem preso e dominado dentro de uma sala me revolta muito. Mas na hora guerra é guerra, por isso não tenho a menor pena do Lamarca. Acho que a morte dele foi justíssima, absolutamente normal. Morreu bravamente, morreu combatendo, como um guerreiro que era. Agora, não tenho nenhuma simpatia pelo personagem, como também não tenho nenhuma simpatia pelo personagem Che Guevara. Se me perguntassem eu diria – prefiro Che Guevara ao Filinto Müller, evidentemente como figura humana. Mas acho que ambos no poder fariam exatamente a mesmas coisas; a sorte de Che Guevara foi ter sido morto antes de chegar ao poder e talvez o azar do Filinto Müller foi ter estado no poder, e mostrado do que era capaz.

Há um livro que vamos publicar de um venezuelano chamado Carlos Rangel, que se chama Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário, que é uma análise dos mitos latino-americanos. Ele exclui o Brasil por não conhecê-lo e por achar que, embora se pareça com a América Latina, existem muitas diferenças, como todo mundo sabe. Então analisa os mitos em torno dos quais vive o latino-americano da América espanhola, começando pelo mito do bom selvagem – os selvagens eram todos muito bonzinhos, tinham civilizações maravilhosas, mas os astecas matavam dez mil virgens por ano para oferecer seus corações aos ídolos; os incas, tão atrasados que não conheciam a roda. Então endeusou-se isso tudo; o maravilhoso selvagem de Jean-Jacques Rousseau. E foram os espanhóis, esses bárbaros, selvagens e cruéis, que desembarcaram lá com os cavalos – mataram muita gente, morreram também – e trouxeram vacina, escola e uma porção de outras coisas.

E daí, do mito do bom selvagem, vai analisando os mitos todos até o do bom revolucionário, e no caso dá como exemplo o Che Guevara, que se tornou assim uma espécie de símbolo do inconformismo mundial. Não há jovem hoje no mundo que não deseje, no fundo, ter sido assim um Che Guevara bem-sucedido.

Agora, realmente qual foi a obra dele? Ele esteve ou não no poder lá em Cuba? O que é que ele fez em Cuba? Seguiu um destino de inconformado, de revoltado permanente, seja se você quiser pegar elementos freudianos, pela asma, pela incompatibilidade com a família, elementos que eu desprezo um pouco, pois não dou tanta importância a isso, seja por uma vocação de inconformismo estéril. Ele esteve no poder e que é que ele fez no poder? Ele melhorou a situação de Cuba? Melhorou a situação dos trabalhadores cubanos? Não, ele foi exportar a revolução porque era uma força que tinha dentro de si; era o permanente inconformismo com qualquer coisa que significasse uma certa tentativa, um certo esforço para estabilizar a sociedade, uma sociedade reformada, melhor do que essa etc., mas uma sociedade qualquer, organizada.

No fundo, Che era um anarquista; bravo, valente, isso ninguém discute. Mas valentia não é qualidade, não basta. Para ser realmente um herói, no sentido político, não basta ser valente. Senão, qualquer sujeito do Esquadrão da Morte seria herói, pois são valentes também, porque quando eles vão ao morro matar bandidos, também sujeitos a morrer. E nós não vamos achar que são heróis por causa disso.

De maneira que esse conceito de esquerda e direita... Há hoje, inclusive, no mundo inteiro um esforço enorme dos sociólogos e dos cientistas políticos sérios para rever completamente esse conceito. E uma das provas que eu acho mais sérias da ignorância brasileira é essa confusão dos conceitos entre esquerda e direita. Acho que hoje somos dos países do mundo em que a ignorância domina mais – e uma das coisas mais terríveis, um dos fracassos mais terríveis da Revolução de 64, foi a despolitização, a desinformação do povo brasileiro justamente quando ele começava a se informar e a se politizar.


Com o Brigadeiro Eduardo Gomes no Palácio Guanabara, durante a Revolução. O Brigadeiro apareceu para ficar ao lado de Lacerda, durante a madrugada, quando soube das ameaças de invasão do Palácio por tropas de fuzileiros.

Primeiro a loucura do Jânio Quadros, desapontando e decepcionando milhões de brasileiros que acreditaram que era possível... Pela primeira vez esse homem tinha o apoio popular quase unânime, pela primeira vez o Congresso estava de joelhos diante dele pedindo, pelo amor de Deus, que mandasse projetos para serem votados, pela primeira vez o Exército, a Marinha e a Aeronáutica estavam de acordo com tudo isso. Esse homem jogou fora tudo e mais tarde a Revolução, em vez de fazer um processo de informação e de politização do povo brasileiro, despolitizou-o completamente. De tal modo que hoje ou o sujeito é – mentalmente pelo menos – um guerrilheiro ou é um alienado. Essa é a meu ver a tragédia.

Então por isso é que até hoje no Brasil se fala em esquerda e direita, que são expressões jornalísticas usadas para simplificar. Você não pode, numa notícia de jornal, estar dando todas as nuances: “seu” Mitterand, “seu” não sei o quê, “seu” Giscard d’Estaing é isso e aquilo. Então você tem que botar que o Chirac é de direita e que o Mitterand é de esquerda. Eu tenho certeza, para dar esse exemplo, que o dia em que o Mitterand chegar ao poder, vai ser muito mais inimigo dos comunistas do que o Chirac, porque o Chirac é um gaullista e o de Gaulle chegou a conviver com os comunistas.

Outro problema atual é a discussão sobre direitos humanos. Mas, se há muita coisa a fazer a partir da defesa dos direitos humanos? Há, mas é pouco. É muito pouco. Já que estamos falando nisso, quais são os parâmetros, quais são os campos em que isso se define? Não pode ser só no campo da tortura ou não-tortura, que isso é tão óbvio, tão pouco, embora seja muito. E em relação, por exemplo, ao regime econômico? O Celso Furtado, insuspeitíssimo no caso, acaba de publicar um livro no qual declara com todas as letras – e eu sei de uma conversa onde ele vai muito além do que está escrito ali – que depois de observar muito o mundo nesse exílio, concluiu que países ditos capitalistas, como o Japão, conseguiram não só gerar riqueza, mas distribuir melhor a riqueza do que qualquer dos países socialistas.

Então isso exige realmente uma revisão, pois se a gente ficar apenas discutindo apenas os direitos humanos nunca teremos coragem de abordar o problema como um todo. Por exemplo: o Brasil hoje é um país profundamente injusto, não só porque se torturam pessoas ou porque se prendem pessoas, é um país profundamente injusto porque de um lado há um pequeno grupo que tem direito de lucrar o que quiser, contanto que o governo se associe a esse lucro, e de outro lado há gente que não tem acesso à riqueza – não é à distribuição da riqueza -, e aí a meu ver é o engano do Franco Montoro naquele livrinho dele, é o gravíssimo engano demagógico desse pessoal do MDB.

O problema grave no Brasil não é a má distribuição de riqueza, é a não criação de riqueza. A maior parte dos brasileiros, não paga imposto de renda; não é porque a renda deles tenha sido roubada pelos outros, mas porque não tem produtividade para se tornar rentável. Não teve escola, não tem saúde, não tem formação profissional, não tem condições, em suma, mínimas para produzir um mínimo de riqueza que lhe dê participação nela. E isso, que é verdade nas cidades, é ainda muito mais verdade no campo.

Claro, num país em que o chuchu está a vinte cruzeiros o quilo, é preciso uma revolução agrária, mas não aquela besteira de fazer reforma agrária de cartório, quer dizer, em torno da propriedade da terra. É necessária uma revolução agrária em torno do uso racional da terra para produzir mais e baratear o produto, para tornar o chuchu acessível à dona-de-casa que não pode pagar vinte cruzeiros por um quilo. Ou se faz isso, ou realmente se condena esse povo à fome. (Eu estou indo um pouco fora do assunto...)

Se eu pudesse pedir uma coisa a vocês, pediria que isso ficasse porque acho importante, já que vocês estão gravando a minha imagem. Isso é uma coisa que não tenho tido muita ocasião de explicar, compreendem? E eu não queria ser só factual, não; quer dizer, a gente entra na vida pública por determinadas ideias, por determinados conceitos, compreendem? De maneira que se isso puder ficar, eu agradeço. Claro que a gente não vai fazer aqui um debate filosófico.(*)
Há certas definições que precisam ser explicadas, porque tudo isso surgiu em torno da pergunta: por que deixei a esquerda?

(*) Carlos Lacerda referia-se à sua posição diante dos conceitos de esquerda e direita. (N. da E.)




Belo Monte outra vez? Não dá pra segurar

Ao ler o Blog do Reinaldo Azevedo, jornalista da revista Veja, deparei-me, em 24/11/2011, com o seguinte título: “Belo Monte e as Magdas e os Magdos da TV Globo. É o maior Festival de Besteiras jamais ditas num vídeo. E olhem que a concorrência é grande!” Não resisti, e deixei um comentário no blog que, agora está aguardando a moderação para ser publicado. Como, para variar, ficou um pouco “grandinho”, faço dele o meu post de hoje. Lá vai:

Reinaldo, leio sempre seu blog e na maioria esmagadora das vezes concordo com sua visão lúcida dos fatos no país. Hoje, entretanto, surpreendi-me ao ler seu texto. Sinceramente, se não estivesse publicado nesse espaço, eu diria que "Reinaldo Azevedo jamais escreveria tal coisa".

Um dos comentários diz: "seu texto está no mesmo nível do video global". Reinaldo, lamento ter de dizer que é a mais pura verdade. Você não precisa fazer menção a sutiãs de quem quer que seja para escrever textos com conteúdo excelente, como estou habituada a ler aqui.

Sou a favor de geração de energia limpa. Isso é consenso entre todos, PTistas ou não, marinistas ou não. Aliás, você anda exagerando nesse apego aos rótulos; o mundo, a vida, não é bem assim. Esse pensar dialético de preto e branco, bem e mal, direita e esquerda, já não cabe nos dias atuais. A meu ver nada melhor que ampliar as dimensões do nosso pensar.

Voltando à energia limpa, ela é a ideal. Mas o que é energia limpa? Que tecnologias representam a energia limpa? Eu tenho minha opinião. Mas não sou especialista em nenhuma das tecnologias em específico. Entretanto, cada uma delas tem seus pontos positivos e negativos, e em todos os sentidos, ambientais, econômicos, políticos etc.

Acredito que as usinas hidrelétricas foram fonte de energia limpa até algumas poucas décadas atrás, mesmo no Brasil, que é pleno em rios em diferentes ecossistemas. Vale lembrar o significado de ecossistema: "Conjunto dos relacionamentos mútuos entre determinado meio ambiente e a flora, a fauna e os microrganismos que nele habitam, e que incluem os fatores de equilíbrio geológico, atmosférico, meteorológico e biológico". A propósito, não é minha esta definição, mas do dicionário Aurélio, com a qual concordo plenamente, considerando-se o ser humano, indígenas ou não, como parte integrante do meio ambiente.


Palafitas que serão retiradas após a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. Altamira, Pará. Foto: DIDA SAMPAIO/AE

Atualmente, um país como o Brasil, dono de um pantanal em cujo subsolo está o maior aqüífero do mundo, não pode se dar ao luxo de não sentar seus cientistas (e eles existem, acredite) para discutir com seriedade o futuro da sua matriz energética.

Já é tempo de por a mão na consciência e refletir sobre até quando levaremos esse discurso de mega-usinas hidrelétricas só porque o país tem potencial hídrico abundante. Se a visão é tão simplista assim, em teoria, ninguém poderia dizer que a França é uma vilã por ter 80% de sua matriz energética compostos de usinas nucleares, pois lá não há rios que se prestem a hidrelétricas.

A geração de energia eólica e solar é louvável e precisa ter mais investimentos em pesquisas, não apenas acerca das tecnologias propriamente ditas, mas também suas relações custo x benefício nas variáveis envolvidas. A questão energética não é tão simples assim. Dizer que isso ou aquilo é o melhor, repito, é uma visão simplista.

Eu sou simpática à questão da tecnologia nuclear como geração de energia limpa e barata. Para isso, precisamos nos despir dos preconceitos e das "lavagens cerebrais" sofridos durante décadas por conta de acidentes em usinas mundo afora. Interessante observar que no caso da energia nuclear, ninguém fez vídeo nenhum para caírmos de pau dizendo que ninguém sabe o que diz sobre o assunto. Mas isso deve-se ao simples fato de não ser "politicamente correto" falar sobre este assunto. Então ninguém fala, ninguém discute, não há debate. Isso vale também para a energia eólica, solar, biomassa etc etc.

O vídeo dos Globais é patético? Sem dúvida. Mas não é por conta dele que sou contra a construção de Belo Monte. Discordo de você quando diz que “haverá, sim, populações ribeirinhas que terão de sair de algumas localidades. Desde que sejam reassentadas com dignidade, a chance de que a vida delas melhore, já que vivem no abandono, é gigantesca”. Se formos por este raciocínio, o fato de não se colocar água no sertão nordestino justifica a migração de milhares de nordestinos para inchar as cidades do sudeste com o pretexto de que aqui serão reassentadas com dignidade. Não é bem assim, você sabe, pois é um homem inteligente, articulado. De novo concordo com o comentário feminino feito dizendo que “reassentar população ribeirinha em periferias das grandes cidades é um discurso urbanóide”. A diversidade de estilos de vida precisa ser conservada, sim.


Sinceramente, surpreendi-me com sua frase “Sem contar que a Constituição e as leis democráticas consagram o direito que a sociedade tem, por meio de seus órgãos de representação, de fazer desapropriações”. Interessante que, por algumas vezes, disse em meu blog que defendo que as favelas são uma ilegalidade e, só este já seria um motivo para serem removidas, quase apanhei nas ruas. E é o mesmo raciocínio da sua frase. A diferença é que a população ribeirinha na Amazônia nasceu lá, já as favelas nas diversas cidades brasileiras, principalmente no Rio de Janeiro, pois permeia toda a cidade, e não dá nenhuma dignidade aos seus moradores, são fruto de migrações desordenadas por total falta de planejamento em infraestrutura no país por séculos. Exatamente esse planejamento do qual falamos ao nos referir ao reassentamento das populações ribeirinhas das áreas atingidas por Belo Monte.

Por fim, quero deixar aqui o texto do Professor de geografia e especialista em Geomorfologia e Análise Ambiental, Rodolfo Oliveira, que nos faz, no mínimo, refletir: “Ainda acho que o Brasil dispõe de muito pouco conhecimento científico para a escala de intervenções que se faz na Amazônia. Não se tem, ainda, um inventário mínimo de fauna e flora da região. Não se sabe o valor potencial dos produtos a serem encontrados ali. Acho que construir mais de 50 usinas hidrelétricas na Amazônia é simplesmente trocar ouro por abacaxi. A floresta é muito valiosa para ser destruída desta forma. Apenas o INPA e o museu Emílio Goeldi pesquisam a floresta de forma mais detalhada. As universidades federais da região são inúteis.... Sabe-se atualmente, por exemplo, que ela é responsável pela maior parte da chuva que cai no Brasil com a formação de canais de umidade ao longo da primavera-verão. As frentes frias, por si só, provocam pouca chuva. Basta observar atuação delas no outono-inverno, quando os canais de umidade amazônicos não se formam e elas geram quase chuva nenhuma. Esses canais também se formam no hemisfério Norte a partir da floresta. Das chuvas que caem sobre ela, 50% é reciclagem dela mesma. Para se ter uma ideia, uma castanheira transpira por dia aproximadamente 10.000 litros de água. Imagine a floresta inteira! Acho que o vídeo é um alerta para a sociedade, sim. Precisamos fazer diferente com a Amazônia. Não devemos fazer com ela o que já fizemos com a Mata Atlântica ou Mata de Araucária, para citarmos apenas duas. Afinal foram duas imensas florestas destruídas a troco de quê? Acho que a propaganda do "Brasil Grande" tem que ser deixada para o passado e sem saudade...."

Por favor, volte a escrever seus bons textos, aqueles que deixam gostinho de “quero mais”. Esse foi desastroso, Reinaldo. O que deu em você?





domingo, 27 de novembro de 2011

Autor Desconhecido

Autor Desconhecido é o nome do blog de Vanessa Lampert. Na descrição de seu blog ela diz: “Este blog existe para provar que o Autor Desconhecido não existe”.

Quando li alguns dos textos de que Vanessa Lampert fala, percebi que são todos muito bons. Até que meus olhos esbarraram num texto que me impressionou pela beleza das palavras, pela narrativa fluida. Achei lindo. Por isso, estou transcrevendo aqui no De Tudo Um Pouco. Exigente como sou, não publicaria algo que não me agradasse.

Diz a Vanessa Lampert:
Este virou clássico. Atribuído ao Luís Fernando Verissimo, rodou o mundo e foi elogiado na França. A autora, Sarah Westphal, é estudante de medicina e mora em Florianópolis. Aí vai o texto, creditado à escritora certa:


Quase
Sarah Westphal

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência. Porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Para os erros há perdão; para os fracassos, chance; para os amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Sexta-feira, Abril 01, 2005
Desvendado por Vanessa Lampert 4:15 PM




sábado, 26 de novembro de 2011

The Voice... De Nat King Cole

É incontestável que Frank Sinatra foi chamado de “The Voice” pelos fãs mundo afora por algum motivo. Nada na vida acontece sem um motivo. De fato, Sinatra desenvolveu um estilo sofisticado, tinha habilidade em criar uma linha musical fluente, sem pausas para respiração, e ainda, a maneira com swing próprio em manipular as frases ao cantar. Tudo isso junto fez de Sinatra um cantor estiloso, diferenciando-o dos seus contemporâneos.

Ainda bem. Porque, sem querer entrar em qualquer outra seara que não a da música, e apesar de gostar de Frank Sinatra, não posso deixar de registrar aqui uma opinião minha. Essa designação atribuída à Sinatra nada tem a ver apenas com sua voz, muito mais com seu estilo.

Para mim, “a voz”, aquela verdadeiramente melodiosa, aveludada, e que você daria tudo para ouvir pessoalmente de seu dono, tem outro nome. É Nat King Cole, nome artístico de Nathaniel Adams Coles. Nascido em 17 de março de 1919, foi contemporâneo de Frank Sinatra. O apelido de "King Cole" veio de uma popular cantiga de roda inglesa conhecida como Old King Cole.


Nat King Cole e Eartha Kitt, em 1958.

Nat King Cole aprendeu a tocar piano na igreja onde seu pai era pastor. Desde criança ele esteve ligado à música, tocando junto ao coral da mesma igreja. Cole lutou contra o racismo durante toda a sua vida, raramente apresentou-se em lugares segregacionistas. Sua então revolucionária formação em piano, guitarra e baixo ao tempo das big bands tornou-se popular para trios de jazz. Suas músicas românticas tinham um toque especial junto a sua voz associada ao piano, tornando-o assim um artista de grande sucesso.


Nat King Cole e sua filha, Natalie Cole.

Em 5 de novembro de 1956, ‘The Nat King Cole Show’ estreou na NBC-TV. Foi o primeiro programa deste tipo comandado por um negro, causando controvérsia na época. Ficou no ar por pouco mais de um ano, mas teve de ser encerrado, por iniciativa do próprio Nat King Cole, por não ter conseguido nenhum patrocínio de âmbito nacional.

Racismo
Em 1948, comprou uma casa em um condomínio só de brancos nos arredores de Los Angeles. A KKK ateou fogo em uma cruz em frente à sua casa. O conselho do condomínio disse-lhe que não queriam indesejáveis mudando-se para lá. Ele concordou e disse: "Eu também não, se eu vir alguém indesejável mudando-se, serei o primeiro a reclamar".

Em 1956, foi atacado no palco durante um show em Birmingham, Alabama, enquanto cantava "Little Girl", por três membros do North Alabama White Citizens Council. Os três agressores avançaram pelos corredores da plateia. Embora a segurança tenha rapidamente acabado com a invasão, Cole foi derrubado de seu banco e machucou as costas. Ele não acabou o show e nunca mais se apresentou no Sul dos EUA. Ainda em 1956, foi contratado para se apresentar em Cuba e quis ficar no Hotel Nacional de Cuba, mas não lhe foi permitido porque tinham restrição para negros. Cole honrou seu contrato e seu show no Tropicana foi um grande sucesso. No ano seguinte, voltou a Cuba para outro show, cantando várias músicas em espanhol. Hoje existe um tributo a ele na forma de um busto e uma jukebox no Hotel Nacional. Já Sinatra, esteve em Cuba em 1947, no início de sua carreira como cantor e não passou por nenhum contratempo. Não pelos seus, mais tarde conhecidos mundo afora, ‘Old Blue Eyes’, mas sim por alguns privilégios outros, se é que me faço entender.

Infelizmente, seu hábito de fumar três maços de cigarro por dia, o fez morreu vítima de câncer em fevereiro de 1965. Interessante que a primeira lembrança que tenho de criança é a de minha mãe choramingando por ter ouvido no rádio a notícia da morte de Nat King Cole. Eu tinha 5 anos de idade e, ao lhe perguntar o motivo do choro, ela me disse com a voz embargada: “O Nat King Cole morreu”. Eu passei alguns anos da minha vida me perguntando quem teria sido este “parente” nosso que a morte fez minha mãe chorar. Fui crescendo e mamãe me apresentou à “Voz”. Tenho até hoje guardado o LP ”Cole Español” de 1958. Neste álbum descobri o bolero maravilhoso “Acércate más”, cantada pela voz aveludada de Nat King Cole com aquele sotaque americano que dá um toque todo especial à canção.
Acércate más… Y más, y más... Pero mucho más.
Y bésame así... Así, así... Como besas tú.




Nat King Cole passou pelas gravadoras Decca, Excelsior e Capitol Records. Sua discografia vai desde 1944, com o álbum The King Cole Trio, até 1965, ano de sua morte, quando foi lançado o álbum L-O-V-E.

Dizem que Frank Sinatra e Nat King Cole se amavam. “Nat was a giant”, em palavras do próprio Sinatra que, ainda segundo dizem, respeitava Nat mais do que qualquer outro.

Para quem pensa que já ouviu a melhor versão gravada de alguns clássicos estadunidenses como (I love you) for sentimental reasons, uma das “everlasting love songs” dos anos 40, melodia de Lionel Newman e letra de Dorcas Cochran em 1945, conforme Espie Estrella, Music Education Guide, repensem e ouçam as versões na voz aveludada de Nat King Cole. A ou ainda Fly me to the Moon, letra e música de Bart Howard, composta em 1954. Passem pelo Youtube, ouçam outros clássicos na voz dele e sintam a diferença.

I love you for sentimental reasons








quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Mirante no Corcovado, e não é o Cristo Redentor

A paisagem carioca, cenário único criado pela natureza, sempre causou forte impacto em todos, e seu incomparável conjunto de montanhas, mar, céu e vegetação deixa uma marca perene nos olhos e na alma do visitante. Pairando sobre e como que coroando todas as elevações, está a montanha do Corcovado, encimada pela estátua do Cristo Redentor, que se tornou, desde sua inauguração, o maior símbolo visual da cidade. Para muitas gerações de cariocas, estátua e montanha são uma coisa só, que sempre esteve no mesmo local. Mas em verdade foi o final de uma longa história, ao longo da qual o cume do Corcovado foi conquistado. Assim, poderíamos até mesmo indagar: Como era o Cristo antes do Cristo?

Em 2011, quando celebramos os 80 anos da inauguração do monumento ao Cristo Redentor, vale lembrar um pouco, não da história da construção do monumento, assunto que já foi quase que totalmente esgotado, mas a história da montanha do Corcovado, antes e depois do Cristo Redentor.


Estrada de Ferro Corcovado e o Chapéu do Sol, mirante da montanha antes do Cristo em foto de 1885.

Por séculos, o pico do Corcovado foi apenas objeto de contemplação, ninguém em sã consciência, pensaria em subir até local tão inacessível e perigoso. Tudo começou a mudar no século XVIII, quando a falta de água forçou as autoridades a criarem um sistema de captação e transporte do líquido até o Centro da cidade, através de um aqueduto e dos Arcos, em seu trecho final. Com essa obra, passou a existir um caminho que ia até a origem das águas do rio Carioca, nas montanhas do Corcovado, o que levou os primeiros exploradores do século XIX a realizarem o ousado feito em lombo de burro ou cavalo, subindo a partir da Ladeira de Santa Teresa pelo trajeto das atuais ruas Joaquim Murtinho e Almirante Alexandrino, junto ao aqueduto.


Corcovado com o Chapéu do Sol - vista aérea.

O Chapéu do Sol do Corcovado, no início do século XX
O acesso à montanha só deixaria de ser uma aventura quando, em 1882, os engenheiros Francisco Pereira Passos e João Teixeira Soares receberam autorização para a construção de uma estrada de ferro que fosse do Cosme Velho até o Corcovado, tornada possível pela recente invenção da tração por cremalheira, do suíço Riggenbach. A obra foi inaugurada em 9 de outubro de 1884, no trecho entre o Cosme Velho e as Paineiras, honrada com a presença do Imperador Dom Pedro II e sua família. Os visitantes tiveram o privilégio de realizar uma viagem de sonho por uma floresta quase virgem, da qual se descortinavam fantásticas paisagens, que até então pouquíssimos haviam conhecido.


Foto de 1905, detalhe do trem de cremalheira do caminho que levava ao mirante Chapéu do Sol, no Corcovado.

Em 1º de Janeiro de 1885, a ferrovia chegava até o Alto do Corcovado, ao mesmo local de hoje em dia, e daí subia-se até a plataforma de observação, no local da atual estátua. Para proteger os visitantes do sol inclemente, foi construído um pavilhão de ferro com 13,5 metros de diâmetro, cuja função e formato circular fez com que recebesse o apelido apropriado de "Chapéu do Sol". Foi contemporâneo de nossos bisavós, até que, em 1931, fosse finalmente inaugurado o monumento do Cristo Redentor.


Mirante do Chapéu do Sol em foto de 1899.

Hoje, mais de 120 anos depois, a subida até o Corcovado continua emocionando e impressionando pessoas do mundo todo, e é fundamental, por parte dos responsáveis, a boa conservação deste patrimônio, que inclui tanto a ferrovia quanto o próprio monumento. É uma forma de honrar o legado histórico e as bênçãos recebidas, representadas pelos generosos braços do Redentor, abertos sobre a Guanabara.


Corcovado, vista aérea. Já com o Cristo Redentor pronto, o Chapéu do Sol ainda se encontrava na montanha. Foto dos anos 30.




domingo, 20 de novembro de 2011

Ninguém merece... Correção ?!

Ainda bem que tenho amigos. Será que o desespero me levou ao delírio? Marilda, uma de minhas leitoras VIP e minha amigona, me deixou um comentário no post "Ninguém merece..." O pior é que ela teve de me dar a notícia que eu acabara de alterar o clima no hemisfério sul. Domingo outonal? Só se for na França! Nós estamos na primavera! Desculpem-me leitores. Pois é. C'est la vie.





Ninguém merece...

Claro que é. Como dizer que morar numa casa com jardins e piscina, e ainda ter um lindo Labrador caramelo, não é um sonho? É inegável. Mas tem seus dias de pesadelo também. Juro. E posso provar.

Claro que é preciso ter um empregado para cuidar dessas coisas. Manter a piscina limpa, manter os jardins aparados e cuidados, manter os pisos do quintal limpos, passar inseticidas para prevenção de pulgas com periodicidade mensal em todas as partes da casa (internas e externas), dar banhos periódicos no “cãozinho”, fazer controle mensal com produtos anti-pulgas e carrapatos no bichinho e mais um zilhão de pequenas coisinhas, como trocar lâmpadas queimadas e afins. Simples, não? Sim, é simples, quando todo o processo, penosamente desenhado, está na esteira e rolando normalmente, sem imprevistos. Entretanto, quando um detalhe não é seguido à risca, pode desencadear uma série de eventos em efeito dominó. É nesses dias que você tem vontade de sumir no ar, como uma “fumacinha”.

Hoje foi um desses dias. Um desses dias em que senti uma vontade irresistível de me transformar numa “fumacinha” que, efêmera, esmaece no ar. Neste belo domingo de outono, ao acordar, fui ao quintal para alimentar nosso Cão. Nosso?! Essa é uma história à parte. Minha filha ganhou o filhotinho como presente de Natal do seu namorado há três anos. Isso porque eu bradava em alto e bom som que enquanto ela morasse comigo era proibido ter cães na casa. Obviamente, ela deu um jeito de fazer o Cão chegar até a casa sem que fosse diretamente das suas mãozinhas. Com isso, desde 25 de dezembro de 2008, sem qualquer outra saída, tive de adotar um neto de quatro patas. Não tratar bem um animalzinho está fora de cogitação na minha cabeça.

Durante seu primeiro aninho de vida, o Cão praticamente destruiu toda a casa. E onde estava a mãe dele? Passando o Ano Novo, Carnaval, Páscoa... A viajar com o “pai” do Cão. Cuidar dele, de verdade, ela jamais cuidou. Sequer um xixizinho ela limpou. Atualmente ele está menos pior.


Não dá pra resistir a essa carinha...

Voltando ao meu domingo outonal, quando olhei ao redor de mim, quase não acreditei. Nosso empregado maravilhoso faltou na sexta-feira e não apareceu, conforme prometera, no sábado (ontem). Com isso, a piscina está verde, o Cão está (re)infestado de pulgas, pois o empregado não retirou a cama do animal para lavar ou jogar fora, quando eu encontrei o Cão infestado no sábado passado. Depois de tanto trabalho e gastos para debelar as famigeradas pulgas, hoje, no meu belo domingo outonal, descobri-o repleto delas outra vez. Uma semana após o “dia de cão” que vivi no sábado anterior! Sim, leitores, quando se trata o animal para matar as pulgas adultas, controla-se apenas 5% de problema, porque 95% das pulgas estão no ambiente nas formas de ovo, larva e casulo. Lembrem-se que, para cada pulga no animal, existem dezenas de descendentes, em suas várias formas, no ambiente!

E não é só isso, meus caros. Para fechar com chave de ouro, o quintal, que já não estava um primor de limpeza pela falta do senhor caseiro, está um nojo. Explico. O Cão deve ter comido alguma coisa impossível de se imaginar, pois ele come qualquer coisa que vê pela frente, e teve um ”piriri” fenomenal, daqueles de deixar o quintal do jeitinho que o diabo gosta.


Eu, pobre mortal, que pensava em dar uma passadinha rápida pelo supermercado, e na volta escrever um novo post para o blog, não consegui me mover. Virei a comida no pratinho dele, sentei-me na soleira da porta e, olhando para aquele monte de cocôs, de todas as consistências possíveis, espalhados pelo quintal, chorei. Chorei como uma criança. O desânimo abateu-se sobre mim. Tirei da cabeça a ida ao supermercado e, só de raiva, sentei-me ao computador para, numa espécie de catarse, escrever tudo isso de presente para vocês, leitores queridos. Sim, este é o meu post de hoje. Lambuzem-se com meu desespero. Agora, com a licença de todos, vou atacar o problema de frente. Bom domingo de outono.




domingo, 6 de novembro de 2011

Fazenda Capão do Bispo

Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social. Esta é a definição de educação no dicionário Aurélio. A palavra educação já foi tão desgastada ao longo dos anos, através das incontáveis promessas políticas dos governos através da história da república, que hoje pensamos que educação significa mais do que o real sentido deste vocábulo. O que hoje todos chamam de educação, é muito mais do que isso. Vou dar um exemplo prático.

Algum dos meus amigos conhece o casarão-sede da Fazenda Capão do Bispo no Rio de Janeiro? Ainda não? Então, vejam o quão simples é conhecê-lo. O endereço deste casarão é Av. Dom Hélder Câmara, 4616, Cachambi, Rio de Janeiro. Este endereço certamente é conhecido de todos vocês, pois duas quadras à frente, no mesmo lado da avenida, fica o Norte Shopping. E qual o brasileiro que não sabe onde ficam os shoppings das suas cidades, não?!

Para aqueles que bradam que a “educação” é o problema primordial do Brasil, sintam como é simples colaborarmos efetivamente para tal. Deixem, pelo menos uma vez na vida, de levarem seus filhos, crianças, pré-adolescentes ou adolescentes ao shopping para a prática do "lazer-consumo" desnecessário e mostrem a seus filhos, bem como conheçam vocês mesmos, o que significa a falta da educação. Ou seja, pais de classe média, com poder aquisitivo, ditos esclarecidos, mas que não se dignam a conhecer um sítio cultural gratuito e que fica a alguns passos de um paraíso do consumo.

Será mesmo que é só o poder público e o governo os culpados pela falta de educação no país? É para pensar, não acham?

Enquanto refletem... Explico porque escrevi isso. No coração do subúrbio carioca, na antiga Avenida Suburbana, atual Av. Dom Hélder Câmara, que muito antes, foi a Estrada Real de Santa Cruz, e ainda antes disso, Caminho dos Jesuítas, ainda está de pé o casarão-sede da Fazenda Capão do Bispo.







Capão do Bispo é uma das mais antigas propriedades rurais do Estado do Rio de Janeiro e sua casa, sede da fazenda, é o que sobrou da sesmaria doada por Estácio de Sá aos Jesuítas e a concessão, confirmada pela Corte de Lisboa em 10 de julho de 1565. Abrangia as freguesias de Inhaúma, Engenho Velho, Engenho Novo e São Cristóvão. A fazenda ficava na planície suburbana com diversos vales ligeiramente acidentados por baixas colinas, próximos ao Rio Jacaré, Faria e Timbó, foi confiscada dos Jesuítas em 1759 e passaram à Coroa e leiloada a partir de 1761, quando um dos compradores foi o Bispo D. José Joaquim Justiniano Mascarenhas de Castelo Branco, onde ergueu a casa grande da fazenda num capão (porção de mato isolado no meio do campo) sobre um outeiro de 20 m de altura. Em 1947 foi tombada pelo IPHAN, e desapropriada em 1961, passando ao governo do Estado da Guanabara, sendo a emissão de posse dada em 1969. Nas décadas de 50 e 60 foi invadida por 30 famílias que fizeram do patrimônio histórico, uma cabeça-de-porco chegando a estar ameaçada de desabar.

O IPHAN fez um trabalho de restauração na sede que durou dois anos, de 1973 até 1975, e instalou um Museu Rural e Centro de Estudos Arqueológicos. Atualmente, em função de um convênio com o Governo do Estado da Guanabara, e posteriormente com o do Rio de Janeiro, e em decorrência dos trabalhos com a DPHA-GB, o IAB (Instituto de Arqueologia Brasileira) ocupou a Casa Rural do Capão do Bispo, fundando o Centro de Estudos Arqueológicos (CEA), hoje em cooperação com o Instituto Estadual de Patrimônio Cultural.

Agora temos um polêmico impasse. A Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, dona do imóvel, pediu de volta o bem, que deveria ter sido entregue até 31/08/2011. O IAB é uma instituição particular, mas sem fins lucrativos e ocupa o prédio desde 1974. O IAB ainda promove reuniões científicas, exposições, cursos especiais e ciclos de conferência no campo da arqueologia, além de formar pesquisadores. Segundo funcionários do Instituto, o contrato com o Estado expirou há anos. Houve várias tentativas de renovar, mas nunca foi atendida pelo governo. De acordo com a Secretaria de Estado de Cultura, o IAB fechou um acordo com a antiga Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo do Governo da Guanabara para ocupar a Casa. O acordo expirou cinco anos depois da ocupação e nunca foi renovado.


Durma-se com um barulho desses... Duas entidades que foram, em última instância, criadas para zelar pela cultura e o desenvolvimento da ciência no país, lavando roupa suja em público. E quem sai perdendo com isso? O país, a cultura (aquela que ele não tem), a educação dos nossos jovens (que ninguém se lembra que serão a futura geração brasileira), o imóvel em questão, que acabará por ser relegado a segundo plano.

Bem... Agora que deram os primeiros passos para a reflexão...

Que tal autografarem este abaixo-assinado? Neste documento o IAB requer que seja revista a decisão de retirar o Centro de Pesquisas de onde se encontra. Reivindicação justíssima, pois até agora não encontrei uma justificativa plausível para o fechamento de um Centro de Pesquisas, num país tão carente deles, caso isso venha a se concretizar.

Vamos parar de imputar à escola a obrigação pela total educação e formação dos nossos filhos. Sabemos muito bem que parte desta educação e formação é obrigação da família. Sem aquela educação, que chamávamos antigamente de “educação de berço”, não adianta construir “zilhões” de prédios de escolas. É com os exemplos de nossas atitudes perante à vida, ao mundo, aos outros humanos, que mostramos aos nossos filhos o que é educação, valores, cultura etc.

Clique aqui para ver mais fotos da Capão do Bispo.




sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Parasitismo e Simbiose

Boa tarde, leitoras e leitores. Hoje vou “chutar o balde”. Ando de saco cheio de escrever com palavras bonitas e corretas sobre o que penso. Percebo que de nada adianta, pois acho que as pessoas já nem conseguem mais interpretar o mínimo da língua portuguesa a ponto de entender a mensagem que desejo passar. Portanto, hoje, uma sexta-feira, é o dia ideal para dar aquele solene chute no balde.

E já que hoje é sexta-feira, o assunto será deveras pertinente. Se você está sem namorado e recebeu o convite de um cavalheiro para algo neste fim de semana (entendam “algo” como melhor lhes aprouver, ok?!), você deve estar nas nuvens, não é mesmo? Parabéns, você merece.

Tenho certeza de que você, prevenida, honesta e prática, como toda mulher que se preza, perguntou ao cavalheiro se ele é casado. OK, calma, não perguntou hoje. Fez essa pergunta há alguns dias ou semanas. E como ele respondeu? Ahhhh... Já ouviram falar de que a “porca torce o rabo”, né?! Pois é. Então vamos lá.

Vejam, minhas lindinhas, quando um homem disser a vocês que ele é separado, entendam a frase que ele deveria ter dito e não disse: “é uma separação apenas de corpos, não dormimos mais no mesmo quarto”. Ou seja, o casamento já está morto, falecido, mas não enterrado. O defunto, já malcheiroso (o casamento), permanece ali, no ninho dos pombinhos, mas eles ainda vivem (não me perguntem como) debaixo do mesmo teto.

Quando um homem disser a vocês que ele é casado, mas é “mal casado”, que ele e a esposa já são praticamente irmãos, entendam a frase que ele deveria ter dito e não disse: muito provavelmente a mesma do parágrafo anterior. Ou talvez mais realista ainda e, por isso, nem vou atemorizá-las com palavras ácidas.

Quando um homem disser a vocês que ele é casado, entendam a frase que ele deveria ter dito e não disse: “gostei à beça de você, mas só vou sair com você para lhe adoçar a boca com um jantar, um vinho, uma música e depois a parte que me interessa, sexo”. Nada contra a melhor parte do affair. Longe de mim. Puritanismo não é a minha praia. Só que, definitivamente, esqueçam que esses convites serão frequentes. Esses convites requerem toda uma estratégia de campo e logística, dignas de uma guerra napoleônica, e que, às vezes, podem levar semanas.

Em outras palavras, leitoras, homens não se separam no verdadeiro sentido da palavra. De jeito nenhum. Ou melhor. Você até encontra homens separados, divorciados, sim, mas isso quando a mulher desse homem cansou-se da vida estagnada, inútil, nociva e prejudicial de um casamento deteriorado, e deu-lhe um belo “pé-na-bunda”. Aí sim, o “filhinho da mamãe” pega suas trouxinhas e, quando ainda a tem, volta para a casa da “mamãezinha querida”. Aquela mesma mulher que ele procurou em cada namorada que cogitou para esposa antes de se casar.



Desculpem-me, mas tenho essa firme convicção, depois de meio século de vida. Os homens procuram nas suas futuras esposas (detesto a palavra esposa, é de um provincianismo horroroso, atualmente pejorativo até) as mães que tiveram e sem as quais não vivem. Isso porque essas mães e, portanto, refiro-me a nós mesmas, leitoras, mulheres que somos, principalmente aquelas que são mães de lindos menininhos de 4 ou 5 aninhos hoje, têm uma grande parcela de culpa nisso tudo. Claro que a parcela não é tão grande porque o contexto social da época em que educamos nossos filhos conta, e muito. Contudo, não justifica o que fazemos com nossos pimpolhos, deixando-os dependentes das nossas barras de saia para sempre. Freud explica, viu?!

Como, mais cedo ou mais tarde, os machos da espécie humana ouvem os chamados da natureza, acabam por escolher a fêmea da espécie que mais se aproxima à sua genitora e, então, dá-se o enlace matrimonial. Ou vocês pensam que é por qualquer outro motivo que conseguimos tirá-los da casa da mamãe! Vã ilusão. Mas continue calma, cara leitora, tudo isso se dá, na maioria esmagadora das vezes, inconscientemente. Podem perguntar a qualquer psicólogo(a).

No grande dia, a galera toda comparece à cerimônia religiosa de casamento, suas amigas choram de emoção com os gestos, cada vez mais ensaiados atualmente, dos noivinhos. Depois das lágrimas da alma feminina (isso também faz parte do chamado da natureza para a manutenção da espécie, queridas, acreditem), é a hora da comemoração. Essa é outra palavra de que não gosto, comemorar. Faz-me lembrar de que as pessoas só se reúnem para se empanturrar de comida e bebida a troco de nada, pois estão ali só de corpo, não de alma ou espírito. Sinceramente, no meu vocabulário só existe uma palavra para eventos especiais na minha vida, celebração. Celebrar no sentido de acolher com festejos o acontecimento, ou seja, pôr a alma e o coração em estado de festa. Não o estômago! Bem... Voltado à festa da cerimônia do enlace matrimonial, lá pelas tantas, quando os pais dos noivos já não aguentarem mais o último bêbado que terão de pôr para fora dali, tudo volta ao normal e, a essa hora, os pombinhos já partiram em “lua de mel”. Mas essa já é outra história e fica para outra ocasião.

Somos todos compelidos a acreditar que daquele dia em diante “todos viveram felizes para sempre”. E não é assim que acontece. Com ninguém. Ninguém mesmo! Não estou dizendo que não haja exceções. Elas existem, sim. Casais que se amam, se desentendem, até porque são duas pessoas diferentes. E quando se amam, obviamente, eles se entendem também. Se somos a única espécie animal dita racional, o que nos diferencia das outras espécies é o diálogo, não?!

O problema, leitora, é quando o macho em questão descobre que sua fêmea, tão cuidadosamente escolhida, não chega nem perto de ser sua mãe. E nem poderia ser diferente. Ela é a mulher dele. Não a mãe dele! Menos ainda a empregada doméstica! E nesse momento, abre-se a grande brecha para a temida e hostil, grande adversária da instituição casamento, a rotina. E aí voltamos ao ponto do pé-na-bunda.

Se a mulher é ativa, trabalha fora, tem de bater metas, aguentar um chefe temperamental, estar impecavelmente bela para receber os clientes, cuidar do(a) filho(a), manter a empregada doméstica satisfeita apesar dos chutes na canela que ela recebe todos os dias do seu “bebezinho” mimado, saber se a casa está abastecida com víveres suficientes etc, ou seja, se ela tem mais o que fazer na vida, certamente o dia do pé-na-bunda está muito próximo.


Entretanto, se a mulher é aquela dona de casa que sabe fazer artesanato com perfeição, cozinha super bem, mantém a casa um primor de limpeza, e ainda, desconhece as palavras, siglas ou expressões: Twitter, networking, Google, mercado de ações, briefing, Facebook, IOF, outsourcing, blog, workshop, SMS, workaholic, câmbio flutuante, iPad, brainstorming, tablet, spread bancário, feedback... Acho melhor para por aqui, essa está fadada a fazer bodas de ouro. E o que é pior, na festa de suas bodas de ouro, rodeada de filhos e netos, nem saberá o significado das palavras liberdade, escolha, vontade própria, responsabilidade (a verdadeira, não a da cozinha), sexo, vida, contentamento e finalmente, felicidade. Para esta santa do lar, tudo o que ela teve do marido que pulou a cerca todos esses anos, foi a mais pura expressão do que seja felicidade. E acreditem, mesmo o mundo moderno está cheio dessas “santas do lar”. Vê lá pessoal... Sem preconceitos ou mal-entendidos, por favor.


Dessa esposa-mãe, os homens não se separam, mesmo que tenham de abrir mão de ser feliz, assim como suas esposas. Esse parasitismo e simbiose em que se transforma o casamento e o convívio desses dois, para mim ainda é um enorme mistério.


Está para nascer aquele homem que, ao ser perguntado se é casado, responderá assim: “separei-me de minha esposa, não foi nada fácil, mas do jeito que estava não dava para continuar, então resolvi estar livre para tentar fazer as coisas na minha vida de um modo diferente”.

E não se esqueçam, quando um relacionamento, seja ele casamento ou não, estiver com a morte cerebral detectada, enterrem o defunto. Não deixem que o mal cheiro permaneça perto de vocês... Deixem que ele descanse em paz.