domingo, 6 de novembro de 2011

Fazenda Capão do Bispo

Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social. Esta é a definição de educação no dicionário Aurélio. A palavra educação já foi tão desgastada ao longo dos anos, através das incontáveis promessas políticas dos governos através da história da república, que hoje pensamos que educação significa mais do que o real sentido deste vocábulo. O que hoje todos chamam de educação, é muito mais do que isso. Vou dar um exemplo prático.

Algum dos meus amigos conhece o casarão-sede da Fazenda Capão do Bispo no Rio de Janeiro? Ainda não? Então, vejam o quão simples é conhecê-lo. O endereço deste casarão é Av. Dom Hélder Câmara, 4616, Cachambi, Rio de Janeiro. Este endereço certamente é conhecido de todos vocês, pois duas quadras à frente, no mesmo lado da avenida, fica o Norte Shopping. E qual o brasileiro que não sabe onde ficam os shoppings das suas cidades, não?!

Para aqueles que bradam que a “educação” é o problema primordial do Brasil, sintam como é simples colaborarmos efetivamente para tal. Deixem, pelo menos uma vez na vida, de levarem seus filhos, crianças, pré-adolescentes ou adolescentes ao shopping para a prática do "lazer-consumo" desnecessário e mostrem a seus filhos, bem como conheçam vocês mesmos, o que significa a falta da educação. Ou seja, pais de classe média, com poder aquisitivo, ditos esclarecidos, mas que não se dignam a conhecer um sítio cultural gratuito e que fica a alguns passos de um paraíso do consumo.

Será mesmo que é só o poder público e o governo os culpados pela falta de educação no país? É para pensar, não acham?

Enquanto refletem... Explico porque escrevi isso. No coração do subúrbio carioca, na antiga Avenida Suburbana, atual Av. Dom Hélder Câmara, que muito antes, foi a Estrada Real de Santa Cruz, e ainda antes disso, Caminho dos Jesuítas, ainda está de pé o casarão-sede da Fazenda Capão do Bispo.







Capão do Bispo é uma das mais antigas propriedades rurais do Estado do Rio de Janeiro e sua casa, sede da fazenda, é o que sobrou da sesmaria doada por Estácio de Sá aos Jesuítas e a concessão, confirmada pela Corte de Lisboa em 10 de julho de 1565. Abrangia as freguesias de Inhaúma, Engenho Velho, Engenho Novo e São Cristóvão. A fazenda ficava na planície suburbana com diversos vales ligeiramente acidentados por baixas colinas, próximos ao Rio Jacaré, Faria e Timbó, foi confiscada dos Jesuítas em 1759 e passaram à Coroa e leiloada a partir de 1761, quando um dos compradores foi o Bispo D. José Joaquim Justiniano Mascarenhas de Castelo Branco, onde ergueu a casa grande da fazenda num capão (porção de mato isolado no meio do campo) sobre um outeiro de 20 m de altura. Em 1947 foi tombada pelo IPHAN, e desapropriada em 1961, passando ao governo do Estado da Guanabara, sendo a emissão de posse dada em 1969. Nas décadas de 50 e 60 foi invadida por 30 famílias que fizeram do patrimônio histórico, uma cabeça-de-porco chegando a estar ameaçada de desabar.

O IPHAN fez um trabalho de restauração na sede que durou dois anos, de 1973 até 1975, e instalou um Museu Rural e Centro de Estudos Arqueológicos. Atualmente, em função de um convênio com o Governo do Estado da Guanabara, e posteriormente com o do Rio de Janeiro, e em decorrência dos trabalhos com a DPHA-GB, o IAB (Instituto de Arqueologia Brasileira) ocupou a Casa Rural do Capão do Bispo, fundando o Centro de Estudos Arqueológicos (CEA), hoje em cooperação com o Instituto Estadual de Patrimônio Cultural.

Agora temos um polêmico impasse. A Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, dona do imóvel, pediu de volta o bem, que deveria ter sido entregue até 31/08/2011. O IAB é uma instituição particular, mas sem fins lucrativos e ocupa o prédio desde 1974. O IAB ainda promove reuniões científicas, exposições, cursos especiais e ciclos de conferência no campo da arqueologia, além de formar pesquisadores. Segundo funcionários do Instituto, o contrato com o Estado expirou há anos. Houve várias tentativas de renovar, mas nunca foi atendida pelo governo. De acordo com a Secretaria de Estado de Cultura, o IAB fechou um acordo com a antiga Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo do Governo da Guanabara para ocupar a Casa. O acordo expirou cinco anos depois da ocupação e nunca foi renovado.


Durma-se com um barulho desses... Duas entidades que foram, em última instância, criadas para zelar pela cultura e o desenvolvimento da ciência no país, lavando roupa suja em público. E quem sai perdendo com isso? O país, a cultura (aquela que ele não tem), a educação dos nossos jovens (que ninguém se lembra que serão a futura geração brasileira), o imóvel em questão, que acabará por ser relegado a segundo plano.

Bem... Agora que deram os primeiros passos para a reflexão...

Que tal autografarem este abaixo-assinado? Neste documento o IAB requer que seja revista a decisão de retirar o Centro de Pesquisas de onde se encontra. Reivindicação justíssima, pois até agora não encontrei uma justificativa plausível para o fechamento de um Centro de Pesquisas, num país tão carente deles, caso isso venha a se concretizar.

Vamos parar de imputar à escola a obrigação pela total educação e formação dos nossos filhos. Sabemos muito bem que parte desta educação e formação é obrigação da família. Sem aquela educação, que chamávamos antigamente de “educação de berço”, não adianta construir “zilhões” de prédios de escolas. É com os exemplos de nossas atitudes perante à vida, ao mundo, aos outros humanos, que mostramos aos nossos filhos o que é educação, valores, cultura etc.

Clique aqui para ver mais fotos da Capão do Bispo.




Um comentário:

  1. Se o (des)estado não dá conta, então assumimos o espaço e colocamos pra funcionar. Como diria Raul Seixas: Parado é que não posso ficar!
    Resistir, ocupar, tomar conta do lugar! Se informaram que o espaço vai ser direcionado para vivencias artisticas e culturais, então vamos promove las sem esperar esse tal estado...

    ResponderExcluir

Tô só de olho em você...
Já ia sair de fininho sem deixar um comentário, né?!
Eu gosto de saber sua opinião sobre o que escrevo.
Não tem de ser só elogio... Quero sua opinião de verdade!