sexta-feira, 26 de março de 2010

As Curvas de Oscar Niemayer


Oscar Niemayer no Palácio do Planalto em 1958
Um carioca solene e que nunca ouvi ninguém se referir a ele como celebridade, chama-se Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho, nascido em 15/12/1907, no Rio de Janeiro, no bairro das Laranjeiras. Eu sou apaixonada por essa frase dele:
"Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein".
O Niemayer eu não chamaria só de competente. Eu diria que ele é um artista. Porque o que ele faz é a estética da obra, o desenho, o esboço, aquilo que sua mente criou. Ele próprio já disse em um dos vários documentários que assisti, que ele não sabe bem se vai dar certo o projeto, pois isso ele deixa para o calculista.
Há os que dizem que sua arquitetura é desumana. Eu não acho que os projetos do Niemayer sejam desumanos. Acho que desumano foi o arquiteto e engenheiro que trabalhou com Niemayer em Brasília e que, mesmo sem o ele, conseguiu deixar a Barra da Tijuca um lugar feito apenas para automóveis. Falo de um senhor francês de nascimento, chamado Lúcio Marçal Ferreira Ribeiro Lima Costa. Eu já entrei em vários prédios públicos de Brasilía e não senti que são desumanos. O traçado da cidade é que é desumano. Como disse a escritora Norma Hauer, foi feito para quem tem “quatro rodas”, não para gente. Por que o espaço entre as pistas do Eixo Monumental em Brasília deve ser de 250m? Já li que foi idealizado para grandes eventos e manifestações públicas. E nos outros dias do ano? Ninguém pode andar a pé de um prédio a outro, não é?
É a mesma coisa aqui no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca. Se você entrar num shopping center daqueles e disserem a você que o que você procura fica em outro shopping, você tem de ir de carro, pois é impossível caminhar até o próximo local, que estará a quilômetros de distância. E o mais importante, estes quilômetros são nada mais que uma highway. Se alguém quiser caminhar estes quilômetros a pé, não poderá, mesmo porque não há calçadas. Não há ruas transversais com calçadas. Não há esquinas, portanto. Enfim, não há urbanização humanista. Acho que o problema, em Brasília, não são os prédios do Niemayer, mas o traçado da cidade.
Há os que acham que os prédios são feios, mas, quanto a isso, eu não posso fazer nada, pois beleza é um conceito muito pessoal. Se alguém disser que a Catedral de Brasília é feia, desculpem-me, mas aí seria um "cadim" de radicalismo. A Catedral Metropolitana do Rio é cem vezes pior e não foi feita por ele. O projeto é do senhor Edgar de Oliveira da Fonseca. Vocês devem conhecer muitas obras assinadas por ele, não?!
Não sou fã incondicional da arquitetura moderna, ao contrário. Por isso mesmo, participo de grupo sério que está sempre de olho na arquitetura da Belle Époque que, no Brasil, convencionou-se chamar de antiga. Mas por que o antigo não pode ser a arquitetura medieval, por exemplo? É questão de não a termos aqui no Brasil? Pode ser, mas se a tivéssemos, eu, pessoalmente, daria preferência à Belle Époque porque, para mim, esteticamente, é mais bela, talvez por ser mais rebuscada, com mais enfeites. Repito que beleza é um conceito subjetivo porque é uma questão de preferência individual. Contudo, seria leviano de minha parte, dizer que a arte, seja ela arquitetura, pintura, música, escultura, literatura etc, de um determinado estilo (época no tempo) é mais bela do que de outro. Cada qual tem a beleza que lhe é peculiar.
Pelo menos, o modernismo de Niemayer é um modernismo que sai do conceito de "caixotes quadrados feitos de aço e vidro" . Neste ponto, temos que dar o braço a torcer, pois diante dos arquitetos que existem pelo mundo hoje, o que há melhor do que o Niemayer?

2 comentários:

  1. Opa!! Agora sim!

    Lindo texto sobre Niemayer, ele é um gênio de estilo convicto.

    Suas obras observadas isoladamente são maravilhosas, mas Brasília... confesso que acho uma cidade fria e melancólica, mesmo repleta de tão sublime arte arquitetônica.

    Grande abraço, Eliane, parabéns pelo lindo blog!
    Adriano Berger
    http://nanoberger.blogspot.com

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