quarta-feira, 11 de maio de 2011

A Ditadura do Politicamente Correto

“A unanimidade é burra.” Nelson Rodrigues
Ontem li este artigo na Revista do Clube Militar e achei sensacional. Seu único defeito é que, infelizmente, eu não sou a autora. Como este é meu pensamento a respeito do assunto em questão, e já escrevi várias vezes sobre ele aqui mesmo no blog, não me contive em compartilhá-lo com vocês. Até porque uma das grandes hipocrisias que advogam atualmente é rotular de “politicamente incorreto” o fato de mostrar que os militares e as forças armadas produzem um ideário com conteúdo incomparável ao dos “intelectuais de plantão” Brasil afora. Vamos ao texto.

Ninguém insiste tanto na conformidade como aqueles que advogam “diversidade”. Sob o manto de um discurso progressista jaz muitas vezes um autoritarismo típico de pessoas que gostariam, no fundo, de um mundo uniforme, onde todos rezam o mesmo credo. A Utopia de More, a Cidade do Sol de Campanella, a República platônica, enfim, “um mundo melhor é possível”. Se ao menos todos abandonassem o egoísmo, a ganância, e se tornassem almas conscientes e engajadas...

Mesmo se for preciso “forçar o indivíduo a ser livre”, como defendeu Rousseau, esse parece um preço aceitável a se pagar pelo sonhado “progresso”. Foi com base nesta mentalidade que milhões de inocentes foram sacrificados no altar de ideologias coletivistas. Atualmente, os “progressistas” buscaram refúgio em novas seitas, mas a meta continua a mesma: “purificar” a humanidade e criar um paraíso terrestre onde todos serão igualmente “felizes” e “saudáveis”.

A obsessão pela saúde e pela felicidade, assim como a ditadura do politicamente correto são claramente sintomas da modernidade. Vivemos na era da covardia, onde poucos têm coragem de se levantar contra o rebanho.

Estamos sob o controle dos eufemismos, com a linguagem sendo obliterada para proteger os mais “sensíveis”. Todos são “especiais”, o mesmo que dizer que ninguém o é. Chegamos à era do conformismo: ninguém pode desviar do padrão definido, pois as diferenças incomodam muito. Todos devem adotar a mesma cartilha “livre de preconceitos”. Até mesmo o Papai Noel já foi vítima desta obtusa mentalidade. A obesidade é um problema de saúde preocupante no mundo. Um dos culpados? Sim, o Papai Noel. Um médico australiano chegou a afirmar que Papai Noel é um “pária da saúde pública”, e seria melhor se ele fosse retratado sem aquela “pança”, sua marca registrada. Afinal, o bom velhinho é um ícone da garotada, e no mundo atual “não fica bem” um barrigão daqueles influenciando as crianças. Papai Noel “sarado”, eis um típico sinal dos tempos.

Qualquer pessoa com mais de 30 anos deve recordar daqueles cigarros de chocolate que as crianças adoravam no passado. Isso seria impensável hoje em dia. Chocolate, e ainda por cima em forma de cigarro? Seria politicamente incorreto demais para o mundo moderno. Diriam que as crianças vulneráveis seriam fumantes compulsivas, tal como acusam filmes e jogos violentos pela violência.

Pensar na possibilidade de que os próprios pais devem educar seus filhos, impondo limites e dizendo “não”, parece algo estranho demais para os engenheiros sociais da atualidade. As “crianças mimadas”, os adultos modernos, preferem delegar a função ao governo, que será responsável pela “pureza” das propagandas. Quem precisa de liberdade de escolha quando se tem o governo para controlar nossas vidas? Parte importante da liberdade é o direito de cada um ir para o “inferno” à sua maneira. O alimento de um pode ser o veneno do outro. Esta variabilidade humana nos impõe a necessidade da liberdade individual e da tolerância. Ninguém sabe qual o desejo do outro. Infelizmente, estamos vivendo cada vez mais sob a ditadura da maioria. O paraíso idealizado pelos “progressistas” seria um mundo com tudo reciclado, pessoas vestindo roupas iguais, comendo apenas alimentos orgânicos, e andando de bicicleta para cima e para baixo. Paradoxalmente, os “progressistas” odeiam o progresso!

É neste preocupante contexto que chegamos ao fim de mais uma década. Ao longo do processo, alguns indivíduos ousaram remar contra a maré, mesmo que não passassem de vozes isoladas em meio às multidões. Entre os brasileiros, tivemos figuras como Paulo Francis e Nelson Rodrigues, sempre lutando contra a imposição dos medíocres, derrubando os velhos chavões populistas. Seguindo esta tradição, o filósofo Luiz Felipe Pondé lançou novo livro, “Contra um Mundo Melhor”, que pode ser visto como um antídoto amargo a esta doença moderna. A frase que abre o primeiro ensaio já dá o tom da obra: “Detesto a vida perfeita”. Pondé liga sua metralhadora giratória contra todas as mais nobres bandeiras politicamente corretas, desnudando-as e expondo sua hipocrisia. Numa época em que o homem é praticamente obrigado a ser “feliz”, ainda que seja à base de Prozac, os ataques mal-humorados de Pondé servem para alertar sobre os enormes perigos desta trajetória, tal como Huxley havia feito com seu “Admirável Mundo Novo”.


Que saibamos desconfiar mais da cruzada moral dos “progressistas” e sua retórica politicamente correta.


Fonte:
Rodrigo Constantino é Economista.
REVISTA DO CLUBE MILITAR - Nº 440 - FEVEREIRO - MARÇO - ABRIL DE 2011

http://www.clubemilitar.com.br
A Revista do Clube Militar é uma publicação totalmente a cores, lançada em novembro de 1926. Ela contém matérias sobre assuntos diversos. Sua tiragem média é de 14.500 exemplares e é distribuída em todo território nacional.



Um comentário:

  1. Palmas pra você por ter garimpado esse texto! Há verdade mais absoluta do que essa? Os EUA destruíram já uns 3 países do oriente médio alegando que sua forma de governo não é boa. Oras bolas vamos derrubar então a dinastia secular dos japoneses porque achamos que não é boa como a nossa ou não é a certa?

    Mas olhando num âmbito um pouco menor, o texto fez-me lembrar de algumas funcionárias que vi na C&A de São Paulo na semana passada: uma de cabelo vermelho e moicano com argola no nariz e outra com tênis de skatista e cabelos esfarrapados, atendendo ao consumidor no interior da loja com o uniforme da empresa. Parabenizei a liberdade de aceitar o estilo próprio, mas confesso que estranhei a falta de padrão. Que padrão? O meu e o da sociedade...

    Estamos de certa forma viciados e condicionados a estabelecer padrões, e mesmo sem querer estranhamos o autêntico, aquele que foge do "normal" estabelecido pela coletividade.

    E assim taxamos também e conceitualizamos o sucesso e a felicidade, como se fosse igual para todos. Bom foi ler esse texto, minhas idéias viajaram nele mas acho que não consegui organizá-las todas aqui nesse breve comentário, rsrsrs... De qualquer forma ele ajudou-nos a fugir e a não aceitar passivamente o censo comum.

    Abraços!

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