domingo, 20 de fevereiro de 2011

Manon Belletti em estilo rococó

Ainda não estive em Londres e, portanto, não conheço a National Gallery. A tecnologia, entretanto, tem permitido ao homem se aproximar de coisas até então inimagináveis. Como eu amo as artes em geral, visitar virtualmente os maiores e mais famosos museus do mundo é uma das delícias tecnológicas que gosto de desfrutar. E foi fazendo um tour virtual pela National Gallery de Londres que me deparei com um quadro que tirou minha respiração por uns instantes. Como diz Oscar Niemayer, "a arte é o assombro que o ser humano sente diante da sua beleza". Acho essa definição perfeita. Vi o quadro ‘Portrait of Manon Balletti’, do artista francês Jean-Marc Nattier, pintado em 1757 e que é parte do acervo permanente da National Gallery, London. Fui procurar saber um pouco mais a respeito daquela obra que me chamou a atenção e encontrei uma história belíssima e real por trás daquela pintura que existe há mais de 250 anos.

Portrait of Manon Balletti por Jean-Marc Nattier em 1757, Coleção da National Gallery, London
 

Jean-Marc Nattier (1685 - 1766), pintor francês, nascido em Paris. Ainda jovem, com 15 anos, recebeu seu primeiro prêmio da Academia de Paris, e dedicou-se a copiar em desenho a série de pinturas de Maria de Médici, obras de Rubens. As gravuras realizadas a partir destes desenhos, e publicadas em 1710, trouxeram-lhe fama. Em 1715 viajou para Amsterdã, onde encontrou-se com o imperador russo Pedro, o Grande, e realizou algumas obras para ele, incluindo o seu retrato e o da imperatriz. Foi o pintor preferido das filhas do Rei de França, Luís XV, e representou-as em variadas ocasiões. Seu sucesso entre a nobreza se deveu em grande parte à capacidade que tinha de embelezar os modelos ao mesmo tempo em que lhes preservava a semelhança, e ainda, aos ambientes evocativos da antiguidade clássica. Nattier optou pelo estilo rococó em seus quadros. Jean-Marc Nattier tem obras nos mais importantes museus e coleções do mundo.

O estilo rococó
As cores mais usadas são claras e a tela se enche de azuis, amarelos pálidos, verdes e rosa. As pinceladas são rápidas e suaves. A elegância se sobrepõe ao realismo. As texturas se aperfeiçoam, bem como os brilhos. Há uma peculiar obsessão pelas sedas e rendas que envolvem as figuras femininas.


Giacomo Casanova

Manon Balletti
A modelo do quadro que vemos, pintado por Nattier em 1757, é Manon Balletti (1740-1776). Filha de atores italianos em tournée pela França e amante do famoso conquistador Casanova. Ela tinha 10 anos de idade quando o conheceu. Manon vinha a ser filha de Silvia Balletti, atriz da Comédie Italienne e irmã do melhor amigo de Casanova. Os amantes começaram seu relacionamento quando Casanova tinha 32 anos e Manon tinha 17 anos. Embora a mãe de Manon tivesse o nome associado ao mundo artístico, o que era sinônimo de péssima reputação à época, Casanova via mãe e filha como mulheres de natureza pura. Manon escreveu a ele 42 cartas cheias de amor e de sentimentos profundos. Uma citação muito conhecida, escrita numa dessas cartas, cita de Casanova como: "Meu amante, meu marido, meu amigo". Apesar de Casanova estar profundamente apaixonado por Manon, suas paixões sexuais levaram-no à infidelidade, fazendo com que seu relacionamento de três anos passasse a ser um convívio de altos e baixos. Manon, no entanto, continuou a partilhar a sua casa com Casanova, na Rue du Petit-Lion-St. Sauveur. Manon era, na época, noiva de seu professor de clavicórdio (um dos mais antigos instrumentos de cordas e teclado), mas desfez o noivado a pedido de Casanova, reatando, assim, seu compromisso com ele.

Clavicórdio de 1763 da Coleção de Crosby Brown

Isso não o impediu de voltar a seus vários affairs sexuais com outras mulheres. Ainda assim, Manon se manteve fiel a ele. Em suas memórias está gravado o seu arrependimento por ter sido tão indelicado com ela ao ter mantido esses romances. Em realidade, uma espécie de compulsão pela sedução. Casanova foi preso depois de ter sido processado por credores em Paris. Manon enviou-lhe um par de brincos de diamantes com os quais ela pagou sua fiança. Em seguida, ela terminou o noivado e devolveu à Casanova seu retrato e suas cartas. Manon se casou com o arquiteto Jacques-François Blondel um pouco depois. O casamento de Manon foi uma decepção para Casanova, que acreditava, um dia, ser capaz de viver com ela para sempre. Manon morreu aos 36 anos, de uma não comprovada hipertensão pulmonar. Casanova escreveu em suas memórias sua crença de que seu comportamento encurtou a vida de Manon.

O autor da belíssima obra, Jean-Marc Nattier em portrait por Louis Tocqué em 1720



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