domingo, 28 de agosto de 2011

O Clube “Cruzmaltino”


A mais nova camisa do clube de futebol Vasco da Gama, apresentada em 10/05/2011, corrige um equívoco histórico, divulgado como verdade inconteste, e que ultrapassou as fronteiras da cidade do Rio de Janeiro, há mais de um século. Com a nova camisa, a “Cruz de Malta”, tida desde a fundação do clube como o seu principal símbolo, perde espaço para a Cruz da Ordem de Cristo, símbolo que os vascaínos deveriam ter ostentado em seu uniforme desde a criação do Vasco. A direção do Vasco afirma que o objetivo é usar, cada vez mais, a Cruz da Ordem de Cristo (ou Ordem dos Cavaleiros de Cristo). Com isso, a direção admitiu, mesmo que indiretamente, o equívoco histórico, ao dizer à imprensa que “o elemento histórico foi ferido”. Quem fez essa afirmação foi o diretor de Patrimônio Histórico do Vasco da Gama, João Ernesto da Costa Ferreira.

A verdadeira Cruz de Malta


A Cruz Pátea que foi usada pelo Vasco da Gama e ainda confundida com a Cruz de Malta


Cruz da Ordem de Cristo

A primeira bandeira brasileira utilizada de fato surgiu apenas quando foi constituído o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

Bandeira Real, a 1ª brasileira
Bandeira da Ordem de Cristo

Anteriormente, não tínhamos uma bandeira exclusivamente nossa: fazíamos uso de bandeiras e símbolos portugueses, utilizados tanto na metrópole como em outras colônias. O primeiro pavilhão da nossa história, considerando-se que os nativos não usavam bandeiras nem flâmulas, foi a bandeira da Ordem de Cristo (1332 a 1651). A Cruz da Ordem Militar de Cristo estava pintada nas velas das embarcações que chegaram ao Brasil no dia “22 de abril de 1500”, e seu estandarte esteve presente nas duas primeiras missas. A Ordem Militar de Cristo era a sucessora portuguesa da Ordem dos Templários e foi criada pelo Rei de Portugal, Dom Diniz em 1319. Como sucessora dos Templários, a Ordem de Cristo era rica e poderosa. Patrocinou as grandes navegações lusitanas e exerceu grande influência nos dois primeiros séculos da vida brasileira.

Fato é que a tal nova camisa do clube de futebol Vasco da Gama traz à frente uma Cruz de Cristo reestilizada, em tamanho grande, com a Cruz de Cristo original, menor, ao centro. A histórica cruz da Ordem de Cristo (ou Ordem dos Cavaleiros de Cristo) de Portugal, tornou-se um símbolo daquele país, a ponto de ser usado nas velas das embarcações à época dos descobrimentos. A Cruz de Cristo grande à frente da camisa foi, de fato, reestilizada, visando a tornar a camisa mais bonita, segundo o pessoal ligado ao clube. O distintivo, propriamente dito, é a Cruz de Cristo original, em tamanho menor na camisa dos jogadores.

O Vasco da Gama foi fundado em 21 de agosto de 1898 por trabalhadores do comércio (em sua maioria descendentes de portugueses ou portugueses recém-chegados ao país). O intuito do clube era o de homenagear, logo em sua primeira bandeira, o navegador português Vasco da Gama. Naquele ano, completavam-se 400 anos do descobrimento do chamado “caminho para as Índias”, em 1498. Para isso, a intenção era utilizar na bandeira a Cruz da Ordem de Cristo, utilizada nas velas das caravelas que percorriam os oceanos em busca de novas rotas marítimas. Lembrando a história do Brasil e de Portugal, a primeira bandeira brasileira utilizada de fato surgiu apenas quando foi constituído o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Anteriormente não tínhamos uma bandeira exclusivamente nossa: fazíamos uso de bandeiras e símbolos portugueses, utilizados tanto na metrópole como em outras colônias. O primeiro pavilhão da nossa história, considerando que os nativos não usavam bandeiras nem flâmulas, foi a bandeira da Ordem de Cristo (1332 a 1651).

Time do Vasco em 1921. Em pé: Palhares, Carlos Cruz, Nelson, Ernani Van Erven, Adão Brandão e Alfredo Godói. Agachados: Leão, Dutra, Torteroli, Negrito e Fernandes.

O engano
Por um engano, os fundadores utilizaram na bandeira do clube um outro tipo de cruz, a chamada Cruz Pátea. Para completar a confusão, a Cruz Pátea usada na bandeira do clube foi chamada, também por engano, de Cruz de Malta. E foi a partir dessa denominação que o clube Vasco da Gama, ao longo de mais de um século de história, ficou conhecido como o clube cruzmaltino. Por que o clube manteve, por mais de um século, esse engano? Não sei. Diz a sabedoria popular que uma mentira repetida muitas vezes por muito tempo, acaba por se tornar uma “verdade”. O Vasco da Gama é conhecido como o clube cruzmaltino há tanto tempo, que será difícil, senão impossível, reverter a situação. No entanto, se ele continuar sendo chamado de cruzmaltino para todo o sempre, que diferença fará no coração de seus torcedores? Penso que futebol é paixão, e paixões não se explicam. Elas existem para serem vividas, principalmente a cada gol ou campeonato.

2 comentários:

  1. Como "cruzmaltino", gostei muito deste post, que valoriza a grande história do Clube de Regatas Vasco da Gama!

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  2. Agostinho, como não sou torcedora de futebol, só posso te garantir que foi fácil ser imparcial. Eu procuro sempre valorizar a "grande história", seja ela qual for. Resgatar a memória dos seres humanos e suas interações com seu habitat, é valorizar a grande história. Fico contente que vc tenha gostado. rsrs

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