sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A mais antiga escada rolante do Rio de Janeiro

Como alguns já sabem, eu adoro história. A memória das coisas, lugares, pessoas etc é algo revelador e fascinante. Outro dia, surgiu um impasse entre grandes amigos meus sobre qual seria “a mais antiga escada rolante do Rio de Janeiro”. Saí a pesquisar pela internet e encontrei no link, algo sobre a história das escadas rolantes.

Acontece, que Dona Norma Hauer, uma mulher sensacional e dona de uma memória incrível, foi veemente em seu depoimento: ”Gente, só hoje soube da polêmica sobre a primeira escada rolante no Brasil. Se é do Brasil, não sei, mas a primeira escada rolante do Rio de Janeiro (que era Capital, portanto deve ser a primeira do Brasil) ficava nas ‘Casas da Criança’, que ainda existe na Rua Ramalho Ortigão, tendo entrada também pela Rua 7 de Setembro. Se vocês forem lá e olharem para o teto, verão um espaço escuro. Era ali que ficava a escada rolante de minha infância. E bota tempo aí... Era nos anos 30 que eu sempre ‘chateava’ minha mãe ou minha tia... ‘Eu quero ir na escada rolante’. É difícil provar. Nem os empregados atuais da loja sabem disso, mas pessoas de minha faixa etária devem ter passado por lá na infância. Se esse fato está registrado em alguma enciclopédia, não sei, mas na Internet não está. Minha neta tentou colocá-lo, mas sem prova é difícil. Afinal é a palavra de alguém da terceira idade, que deve estar ‘gagá’. Ah.ah.ah...
A escada rolante das Casas da Criança deveria ser dos anos 34 ou 35. Em 1936 eu já estava em um colégio longe de casa (perto do Largo do Maracanã) e ia sozinha de Santa Teresa a esse colégio. Assim, não precisava mais de mãe ou tia para levar-me àquelas Casas. Acredito mais no ano de 1933 e seguintes. Talvez na loja, que ainda existe, seja possível saber quando essa loja (não as escadas) foi inaugurada. Deve haver um arquivo. Passarei lá para saber.”


Eis que outra amiga especial, Marília, “foi à caça” na internet... E ela é boa nisso. Vejam o que ela encontrou. O livro Interiores, da arquiteta Patrícia Vasconcellos. Segue a sinopse do livro:
Mais novo lançamento da Editora Sextante Artes, o livro Interiores registra a parte interna de 86 dos 3 mil imóveis que integram o Corredor Cultural do Rio de Janeiro. Com cerca de 150 fotos, feitas pelo fotógrafo Sergio Pagano, e textos de Patrícia Vasconcellos, o livro é uma viagem através do que houve - e ainda há - de melhor no interior de alguns prédios do Centro do Rio e arredores.O Corredor Cultural é composto por prédios e casas espalhados pela Praça Quinze, Saara, Largo de São Francisco, Lapa e Cinelândia, de onde foram preservadas cerca de 1.600 fachadas e telhados construídos entre os séculos XIX e XX. Patrícia Vasconcellos e Maria Pace Chiavari visitaram os 1.600 imóveis, registrando os mais significativos para a história da cidade e as mudanças que ocorreram nos últimos 16 anos. O projeto foi complementado pela lente de Sergio Pagano, que fotografou - sempre de um ângulo de fácil identificação - os interiores de cada um dos prédios selecionados pelas arquitetas.



Depois disso, não me contive e pus-me pela “estrada afora” à procura das escadas rolantes. Vejam estes comentários que encontrei no fotolog do André Décourt, "Foi um Rio que Passou". Era um post sobre o Café Lamas, e lá no finalzinho uma senhora de nome Evelyn fez o comentário.

"Evelyn 25/04/06 22:00 … Andre, outra dúvida, mas desconectada do assunto de hoje, você saberia dizer qual foi a primeira loja a ter escadas rolantes no Rio? No livro “Interiores” (Patricia Vasconcellos) há a informação que foi a loja “Casas da Criança” no ano de 1932, situada na Rua Ramalho Ortigão 8-10 (quase esq com Sete de Setembro), sendo a primeira escada rolante instalada na America Latina, sendo a única no Rio de Janeiro por 20 anos, formando filas intermináveis de curiosos, loja esta existente ate hoje no mesmo local. Uma vez perguntei pessoalmente ao prof Milton Teixeira e ele disse que vários estabelecimentos comerciais “disputam” o título de primeira loja a ter escadas rolantes…

andredecourt 25/04/06 22:54 … Evelyn, pelo que sei tanto a velha SEARS na praia de Botafogo como a finada Lojas Brasileiras de Copacabana tinham, pelo que sei, as escadas mais velhas de nossa cidade. Ambas foram instaladas nos anos 40, talvez essa da “casas da Criança” possuísse algo diverso do conceito de escadas rolantes como conhecemos hoje."


Depois do que encontrei hoje no comentário do fotolog sobre o livro Interiores, e que “bate” exatamente com o depoimento vivo da Sra. Norma Hauer, não tenho mais dúvidas. A mais antiga escada rolante do Rio de Janeiro, e do Brasil, foi realmente a da “Casas da Criança”.

Ainda assim, restou-me uma dúvida. Era no Largo de São Francisco que ficava o prédio do magazine Parc Royal, que sofreu um incêndio em 1943. Encontrei no fotolog “Só Rio”, de André Costa, o registro no jornal Noite Ilustrada do incêndio que pôs fim no grande magazine. No registro desta publicação de época, a Casa Cruz agradeçe os fornecedores e clientes solidários com o desabamento, em 13/07/1943, visto que o durante o incêndio, as paredes laterais do Parc Royal levou à demolição das fachadas da Casa Cruz e da Casa Matos, além de uma Confeitaria. O Largo de São Francisco ficou, então, maior, liberando o espaço anexo da Igreja de São Francisco.


O incêndio do magazine Parc Royal em 1943

Diante disso, me pergunto, será que a "Casas da Criança" ocupa hoje algum espaço que um dia foi parte do magazine Parc Royal?

Dona Norma, a senhora é como o Repórter Esso, é a testemunha ocular da história! Seu depoimento tem imenso valor.


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