sábado, 5 de junho de 2010

Paris, a Cidade Luz ? – Parte III - Final

Quem me conhece sabe que sou extrovertida e educada no trato com todos, passando pelos seguranças nas lojas, os atendentes na padaria, mercado, lojas de flores, livrarias, pessoal da limpeza em banheiros, todos, sem exceção. Falo francês fluente e fiz meu curso na Aliança Francesa do Rio de Janeiro nos anos 70.
No geral, fui bem tratada em Paris por conta destes predicados e também por eu sempre interagir com todos, sem discriminação ou preconceitos.
O approach com os franceses é inegavelmente difícil. Sempre foi. Diferentemente de outros povos, os franceses têm um pragmatismo muito peculiar. Eles, em princípio, não querem te atender, mas se realmente tiverem de fazê-lo, vão te dar o mínimo necessário de atenção, sempre monossilábicos nos diálogos, que para eles é algo meramente comercial. E não estão errados. Uma vez finalizada a venda, acabou. O vendedor te entrega o pacote e diz ‘merci’, ‘bonne journée’ e vira as costas. Você agradece aos ventos e sai da loja. Esse é o normal na cidade. Eles são assim e eu respeito.
Entretanto, existem situações em que eu acho inadmissível a falta de educação e má vontade em atender o público, principalmente quando a pessoa está ali para atender o público.
Tive um probleminha com informações no metrô, na estação Ternes. Ali, só faltou eu apanhar porque precisava de mais de uma informação da senhora que estava ao telefone em ligação particular e teve de desligar para me atender. Isso a incomodou muito. Afinal de contas, que diacho eu tinha de aparecer lá no guichê de informações justo no melhor momento da sua fofoquinha diária por telefone? E o que é pior, eu precisava da informação que ela TINHA para me dar. Eu recebi duas respostas simples e objetivas: "Je ne sais pas, madame." "Je ne sais pas, madame." E tudo dito jocosamente. Isso eu não tolero. Respondi à altura em francês. A senhora não esperava e me respondeu, eu respondi mais uma vez, terminei a frase, dei as costas e saí dali.
Fui a uma locadora de automóveis e resolvi o problema. Conclusão: não conheço o metrô de Paris depois da sua junção com os trens urbanos. Em 2001, quando lá estive pela primeira vez, o metrô estava em greve. Tentei uma das estações principais que estava funcionando precariamente e tudo que trouxe de lembrança foi a imagem de um camundongo muito "fofo" saindo debaixo dos bancos em que estávamos sentados, esperando por uma composição que não apareceria.
Debatendo este assunto em uma comunidade da qual faço parte no Orkut, uma das participantes abriu um novo tópico, com o seguinte título, “Dicas para sermos bem vistos pelos franceses”. Abaixo, ela dizia: “O que vocês acham desse tópico, onde poderemos compartilhar as fórmulas que usamos e que deram certo, ou então o que não deu certo, para evitar que nossos conterrâneos cometam os mesmos ‘erros’?”
E ela com verdadeira boa vontade enumerou uma série de “dicas” de como se portar em Paris em diversas situações. Na verdade, tudo o que a pessoa escreveu foi uma lista de atitudes de boa educação, nada além disso.
Então, eu respondi: “Todas as suas outras ‘dicas’ de como cativar os franceses, são nada mais do que o mínimo de educação de berço que se deve ter em qualquer lugar, independentemente de estarmos em Paris ou no Rio de Janeiro. Até porque foi aqui no Rio que aprendi tudo o que você mostrou nos seus posts.
Sobre abrir a carta de vinhos, o cardápio, fazer suas escolhas e fechá-lo, pois este é o código para os garçons e maitres se aproximarem da nossa mesa para comandar, eu aprendi em casa para que fosse usado na minha cidade. E sempre fiz isso durante meus 50 anos de vida”.
Segundo esta mesma pessoa, no Brasil, temos a cultura de ser ‘serviçais’. “Então, quando chega um turista estrangeiro, o brasileiro já sacode o rabinho (sic), pois sabe que se ele se virar na língua do cliente, vai receber uma boa gorjeta!” Não concordo com essa visão. Os brasileiros não são ‘serviçais’ porque atendem bem os turistas, são educados e hospitaleiros. Tão simples quanto isso.
Outro ponto é: Por que nós turistas temos de ser bem vistos pelos franceses? Eu não devo nada a eles. Portanto, eu os tratarei como trato qualquer pessoa no mundo inteiro, educadamente. 
Num primeiro instante, os franceses, quando escutam você falar francês com sotaque (pois esse não se perde, mesmo sendo fluente na língua), eles imaginam que você é mais um imigrante. Quando entendem que você é turista, apenas de passagem, a coisa melhora.
Vou contar aqui meu segundo e último, graças a Deus, incidente com a falta de educação dos franceses. Estive em Giverny, localidade próxima à Paris, onde fica a casa em que morou o pintor impressionista, Claude Monet. Lá estão também seus esplendorosos jardins. Existem hoje, em frente ao museu em que se transformou a casa de Monet, um restaurante, lojinhas de souvenirs e um estacionamento.
Antes de entrar no museu, eu e minha filha, decidimos almoçar, pois já passavam das 13 horas e, ao sair do museu, poderíamos encontrar o restaurante fechado. Então, entramos no restaurante, que estava relativamente vazio, e nos dirigimos ao terraço coberto, onde almoçava uma família. Procurei uma mesa próxima à janela, mas a que havia era redonda para mais de 4 pessoas. Tentei, então, encontrar uma mesa para 2 pessoas e não estava conseguindo. Neste exato momento, entrou uma família de alemães e o garçon os acompanhou pedindo que ocupassem um mesa para 4 pessoas perto daquela redonda que eu havia gostado. Fiquei de pé aguardando que o garçon ficasse livre para nos atender. Enquanto isso, um outro garçon da casa se aproximou e foi limpando a tal mesa redonda e me perguntou quantas pessoas eram. Eu disse que éramos apenas 2 pessoas e ele disse “sem problemas, podem sentar aqui”, apontando a mesa redonda que acabara de limpar para nós. Por este motivo sentamo-nos à mesa. No momento em que eu pegava meus óculos e levantei a cabeça, deparei-me com o primeiro garçon (o que atendeu a família de alemães) aos gritos me perguntando “o que a senhora está fazendo sentada aí?” Eu ainda respondi que o colega dele me disse para sentar ali. E, aos gritos, ele disse “não pode, aí não pode, essa aqui é a minha sala e ninguém diz onde sentar, só eu”. “Quem mandou a senhora sentar aí?” Bem... Diante disso, levantei-me e gritei para todo o restaurante ouvir em bom francês que “se esta é a sua sala, senhor, e é o senhor quem manda nela, eu estou no lugar errado, pois aqui não há sala para me receber”. Virei-me e saí do restaurante, com o garçon me seguindo, dedo em riste, gritando, até eu por os pés fora do estabelecimento.
A profusão de cores dos recantos do jardins da casa de Claude Monet

Antes de entrarmos na fila do museu da casa de Monet, sem almoçarmos, respiramos várias vezes, bem fundo, porque aquele francês boçal não estragaria o espetáculo com que a natureza nos brindou naquela tarde.
Há pessoas educadas e mal-educadas, polidas e não-polidas em todos os lugares do mundo. Mas repito... O approach com os franceses é como andar no fio da navalha. Mas esta é a minha opinião. Por favor, não a sigam, pois eu não sou a dona da verdade.

0 comentários:

Postar um comentário

Tô só de olho em você...
Já ia sair de fininho sem deixar um comentário, né?!
Eu gosto de saber sua opinião sobre o que escrevo.
Não tem de ser só elogio... Quero sua opinião de verdade!