domingo, 17 de outubro de 2010

Vargas Llosa, cidadão do mundo

Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura 2010

Telephone interview with Mario Vargas Llosa immediately following the announcement of the 2010 Nobel Prize in Literature, 7 October 2010. The interviewer is Adam Smith, Editor-in-Chief of Nobelprize.org. 

Click aqui para ouvir a ligação telefônica!
http://nobelprize.org/mediaplayer/index.php?id=1383

Breve Biografia
Jorge Mario Pedro Vargas Llosa nasceu em Arequipa, no Peru, em 28 de março de 1936, e passou a infância na Bolívia. De volta ao Peru, estudou direito e letras. Em 1959, foi para Madri, onde fez doutorado em filosofia e letras. Mudou-se para Paris, como redator da France Presse. Seu primeiro livro, 'Os Chefes', foi publicado em 1959. Obteve sucesso internacional com o romance ‘Batismo de Fogo’, de 1962, traduzido para várias línguas. Em 1964, regressou ao Peru e realizou sua segunda viagem à selva amazônica. Trabalhou como tradutor para a Unesco, na Grécia. Publicou ‘Pantaleón e as Visitadoras’ em 1973. Em anos seguintes, morou em Paris, Londres e Barcelona. Em 1981, publica ‘A Guerra do Fim do Mundo’, no qual narra a história da Guerra de Canudos. Voltou ao Peru em 1983 e, sete anos depois concorreu às eleições presidenciais, chegando ao segundo turno. Em seguida, mudou-se para Londres, onde vive até hoje. Entre seus muitos títulos de ficção, jornalismo e ensaio, cabe mencionar os mais recentes, ‘A Linguagem da Paixão’, de 2002 e ‘Paraíso na Outra Esquina’, de 2003.

Entrevista a Guilherme Freitas do Globo em Porto Alegre
Uma semana depois de receber o Nobel de Literatura, o peruano Mario Vargas Llosa começa a dar sinais de estar experimentado aquilo que o português José Saramago, vencedor do prêmio em 1998, classificou como uma espécie de "maldição": o assédio constante por parte da imprensa e dos leitores, interessados em todos os movimentos e opiniões daquele que se torna subitamente o escritor mais famoso do mundo, até que o próximo Nobel seja anunciado.
Em pouco mais de uma hora de entrevista, Llosa defendeu com entusiasmo antigas bandeiras suas, como o liberalismo econômico e a legalização das drogas, mas, ao examinar o cenário eleitoral brasileiro, preferiu não falar diretamente sobre os candidatos. Segundo Llosa, “Seria irresponsável da minha parte opinar de forma partidária sobre as eleições", justificou. Não se furtou, entretanto, a avaliar os oito anos de governo Lula, com elogios à estabilidade econômica e ressalvas à política externa.
“Lula fez um bom governo, no qual o Brasil cresceu muito e adquiriu um prestígio internacional admirável. Creio que ele deixou de lado idéias antiquadas de esquerda para aplicar fórmulas social-democratas, continuando algumas políticas de Fernando Henrique Cardoso. Mas essa postura não combina com suas amizades com Fidel Castro e Hugo Chávez. Como se pode ser um líder democrata e abraçar essas pessoas?”
Um intelectual que flertou com movimentos de esquerda na juventude, mas que, com o tempo, se tornou um dos porta-vozes do neoliberalismo na América Latina, Vargas Llosa diz ter observado um "progresso considerável" nos governos da região nas últimas décadas. Para o escritor, são cada vez mais raros cenários como o do Peru dos anos 1950, cujo regime ditatorial retratou naquele que considera seu melhor romance, "Conversa na Catedral", de 1969.
“Quando eu era jovem, a América Latina estava tomada por ditaduras. Governos civis e democráticos eram exceções à regra. Hoje temos um pluralismo político, com a liberdade de expressão garantida na maior parte do continente. São democracias imperfeitas, mas democracias. Hoje temos uma esquerda democrática em países como Uruguai e Brasil, e uma direita democrática, como no Peru e na Colômbia.” "Uma governante (Cristina Kirchner, da Argentina) que toca no fundo da demagogia e do populismo". A Fidel e Chávez chamou de "ditador" e "semiditador", respectivamente.
Suas idéias sobre literatura também mudaram ao longo do tempo. Na juventude acreditava cegamente no modelo de "literatura engajada" proposto pelo francês Jean-Paul Sarte. "Para um jovem de um país subdesenvolvido, era um alento imaginar que a literatura por um lado era uma arte, mas por outro uma forma de intervir na vida pública.” Hoje afirma que a literatura "não pode ser convertida num instrumento de ação política".
“Creio que a literatura deixa marcas profundas na vida, mas de forma indireta, através das consciências e da sensibilidade, e de uma maneira imprevisível. Não se pode programá-la ou dizer ‘vou escrever assim para mudar a sociedade’. Isso é uma ingenuidade. Mas ainda creio que a literatura estimula, sim, a atitude crítica frente ao mundo. Não é à toa que todos os regimes totalitários estabelecem formas de controle da literatura, porque vêem nela um perigo.”
“A idéia de política alimentada por um escritor, ou por um intelectual que vê a política de dentro de uma biblioteca, é equivocada. A política pode ser também isso, mas é intriga, manobra, uma atividade que, como tudo que toca o poder, tira o melhor e o pior da pessoa. Numa campanha eleitoral, tira, sobretudo, o pior. Não quero dizer que não se deva fazer política, mas é preciso saber o que é a política. Ela tem uma dimensão generosa e idealista, mas também uma dimensão terrível.”



O presidente do Peru, Alan García, disse sobre o Nobel concedido à Vargas LLosa: "Es un gran día para el Perú y un reconocimiento a un peruano universal". Pessoalmente, acho essas frases de oportunismo político uma pobreza de espírito, desprovidas de sensibilidade intelectual, simplórias. Homens como o peruano Vargas Llosa, o colombiano Gabriel García Márquez (Nobel de Literatura de 1982), o português José Saramago (Nobel de Literatura de 1998), assim como outros homens singularmente no plural, mundo afora, essencialmente, já não têm uma cidadania, são cidadãos do mundo, como disse Sócrates.


Abaixo o texto em português da nota deixada pela abertura do Instituto Cervantes em Berlim

Felicito al Instituto Cervantes por este magnífico local, donde los alemanes de esta antigua y renaciente capital podrán familiarizarse con la lengua de Cervantes y hago votos porque esta casa-biblioteca tenga muchos estudiantes y lectores que tiendan un puente de amistad entre las culturas alemana y española.
Mario Vargas Llosa, Berlín, 19 de marzo de 2003

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