quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Mais uma bela história de amor

A belíssima senhorita cubana Catalina Laza do Río se casou em 1898 em Tampa, Estados Unidos, com Pedro Luis Estévez Abreu (filho da patriota e filantropa Marta Abreu) e, ao finalizar a Guerra de Independência, se estabeleceram em Havana, mesmo fazendo numerosas viagens a Paris, onde também tinham residência.
Numa dessas viagens Catalina, proveniente de uma família basca, conheceu o riquíssimo fazendeiro Juan-Pedro Baró, de ascendência catalã, casado na ocasião com Rosa Varona.
A deslumbrante crioula Catalina Laza e o rico e donjuanesco Juan-Pedro Baró se apaixonaram num dia de 1905 e permaneceram unidos até o fim contra todas as adversidades. A sedutora Catalina, ganhadora de concursos de beleza em 1902 e 1904, com seus olhos redondos e azuis como o céu, não teve pudores para aparecer em público com Juan-Pedro. Uma tarde de 1906, ambos foram assistir uma peça de teatro. A plateia de aristocratas, em desaprovação à conduta do casal, abandonou a sala de espetáculos e deixaram-nos sozinhos, a orquestra, contudo, não parou de tocar. Ao final, Catalina premiou o gesto dos músicos jogando todas as joias que usava para a orquestra. Apesar de todo escândalo da cena no teatro, os apaixonados se lançaram num “exílio passional” entre a europa e Nova Iorque. O romance foi descoberto pela tia de Catalina, Rosalía Abreu, que surpreendeu-a em uma suite do Hotel Inglaterra, alugada por Juan-Pedro Baró.
Em 1917, Laza e Baró foram recebidos no Vaticano pelo Papa e solicitaram a anulação do casamento de Catalina. Há relatos que atribuem uma dispensa à comoção que a história de amor teria provocado no Santo Pontífice. Catalina e Juan-Pedro voltaram a Paris para casarem-se na Igreja e montam uma luxuosa casa em Paris, onde residiram com grande ostentação.
Ainda que realizassem frequentes viagens a Havana, não tinham possibilidades de radicar-se nesta cidade, pois em Cuba não existia o divórcio. Seria sob o governo do General Mário García Menocal que se aprovaria esta lei, sendo o de Luis Estévez e Catalina Laza o primeiro divórcio aprovado em Cuba. O casal regressou, então, a Havana e foi convidado para um jantar em sua homenagem no Palácio Presidencial, o que lhe abriu de imediato as portas da alta sociedade de Havana.

Alguns anos antes de seu casamento, Juan-Pedro presenteou sua amada com uma rosa amarela com tons rosados, criada especialmente para ela, fruto de cruzamento e enchertos de uma variedade húngara com uma cubana.

Um Palácio de Amor
Na Avenida del Paseo 406, em Vedado, Havana, entre os anos de 1917 a 1919, os famosos arquitetos Govantes e Cabarrocas construíram uma mansão para o riquíssimo fazendeiro Juan-Pedro Baró e sua bela esposa Catalina Laza. A construção começou por volta de 1922 e foi inaugurada em 1927. (…) No dia da inauguração a entrada estava toda coberta de tulipas importadas. Nos convites destinados à mesma aristocracia que anos atrás tinha se ofendido com o amor do casal, estavam mencionadas as “lembrancinhas” que receberiam: pinturas de famosos artistas do momento.


A data de término da construção pronta para a inauguração AD 1922

Realizada em estilo totalmente eclético, a casa tem a fachada em estilo renascimento florentino e os interiores em art-déco combinado com referências egípcias. Os mármores, todos de Carrara, e os estuques foram realizados pela loja francesa Dominique, que enviou seu pessoal à Cuba para realizar esses trabalhos pelo método “a quente”

Fachada da casa

A porta de entrada tem em ambos os lados duas grandes colunas de terracota com capitéis dóricos. Na fachada há duas grandes janelas terminadas em arcos de meio ponto, com ferragem de projeto florentino. No segundo andar temos um balcão no centro, com sua porta-janela tendo aos lados outras duas portas-janelas.

As colunas em terracota e o balcão no andar superior

Depois da entrada há um grande hall de entrada e o vestíbulo que dá acesso à escada, cujos pisos são de mármores italianos e formam pirâmides truncadas e retângulos com quadrados negros.

Hall de entrada

A ampla sala tem os pisos em mármore cinza e laranja, contrastando com mármore branco. As paredes formam grandes arcadas junto às portas e são de estuque cinza, enquanto nas paredes entre as portas o estuque é laranja do mesmo tom dos pisos. O salão tem seis portas, quatro delas com espelho, e todas com trabalhos de ferragem na parte superior. A sala de jantar em estilo art-déco, tem duas partes, a propriamente usada como refeitório e um salão-terraço, separado por um pequeno desnível.

Sala de jantar em dois ambientes

Seus pisos são de mármore branco e amarelo formando grandes retângulos concêntricos onde predomina o branco. A mesa, para doze pessoas, é de mármore branco construída in-situ, com um espelho retangular no centro. Circunda toda a mesa uma borda de mármore amarelo com jaspe negro. As paredes estão acabadas com estuque amarelo. No terraço contíguo ao refeitório predomina a cor verde e o piso foi realizado com mosaicos venezianos da mesma cor, formando retângulos.

Mesa feita no próprio local

A escada desenhada em forma helicoidal, adoçada à parede, tem o guarda-corpo de ferro retorcido e quadrangular, com o corrimão de prata laminada. No centro do vazio que forma a escada, há uma coluna com uma escultura de mármore. Ao fundo um vitral de enormes proporções, desenhado por Gaetan Leannin da casa A. Billancourt de Paris. A lâmpada que ilumina a escada é de cristal de Murano e se pode, mediante um mecanismo elétrico, regular sua altura de acordo com a ocasião.


Escada em forma helicoidal


 
Vitral da escadaria feito pela Casa A. Billancourt de Paris

Também na planta térrea se encontra o “Portal do Sol”, um lugar aberto rodeado de vegetação que se usava como sala de estar. Seus pisos são de mármore branco jaspeado e as paredes de cantaria, coberta com um tapume de tábuas que chegavam ao teto abobadado. No centro há uma fonte quadrada de mármore cinza e pende uma lâmpada do teto com a forma de fonte, que também serve de jardineira.

A luminária que servia também de jardineira na parte da casa chamada de 'Portal do Sol'

No segundo andar, os espaçosos quartos do casal ficavam separados, o de Juan-Pedro, à direita da casa, e o de Catalina, à esquerda. O closet com espelhos montados de forma a ocultar as portas dos armários.

Pátio interno

Os jardins foram projetados pelo francês Forestier e realizada pela casa Lemón Legriñá e Companhia, naquela ocasião a melhor de Havana neste tipo de trabalho. Os móveis foram projetados por Pedro Luis Estévez Laza – filho do primeiro matrimônio de Catalina – que viajou de Nova Iorque para Havana para realizar a obra.

A casa à época da inauguração

No projeto também participou o famoso mestre cristaleiro francês René Lalique, que anos depois decorou o monumental Panteão que Baró construiu para sua amada no Cemitério de Colombo.

O casal Juan-Pedro e Catalina Baró

No entanto, a senhora Baró só pôde desfrutar sua belíssima casa por três anos, pois adoeceu e foi levada por Juan-Pedro para Paris, onde veio a falecer nos braços de seu querido marido em 1930, aos 55 anos. Seu corpo embalsamado chegou à Havana no vapor francês Meñique. Durante seis anos, até sua própria morte, Juan-Pedro visitou, a cada manhã, o suntuoso mausoléu em mármore de Carrara que mandou construir para Catalina no Cemitério Cristóvão Colombo. Este mausoléu, contudo, foi custoso a Juan-Pedro. O terreno sobre o qual construiu o panteão valia quase 2000 pesos em ouro. O custo da construção do eterna morada de Catalina foi de meio milhão de pesos.

Porta do mausoléu do casal


Mausoléu visto de trás no cemitério Cristóvão Colombo

Juan-Pedro faleceu dez anos depois de Catalina. Em 1940, o panteão foi lacrado de modo incomum. Sobre Catalina e Juan-Pedro, as lajes de concreto foram moldados in loco para que ninguém pudesse profanar os túmulos. Diz-se que ele mandou que fosse enterrado de pé para velar eternamente o sono de sua amada. O jazigo nunca mais foi aberto.
O faustuoso solar, que Juan-Pedro deu como fino regalo à Catalina, é hoje a ‘Casa de la Amistad de Cuba’.


Hoje a belíssima casa dos anos 20 abriga a Casa de la Amistad de Cuba

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