terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Os Hieróglifos dos Nossos Tempos

Li um texto sensacional no knol de um advogado e sociólogo de Houston, EUA, James Pruett e não pude deixar de compartilhar com meus leitores um fragmento daquele escrito, já que ele converge de modo total com a minha ideia sobre consumo, consumismo e afins.

Teoria Geral do Consumo
Tem-se defendido que o sistema feudal morreu porque não conseguiu encontrar o caminho para a produtividade racional. Em 1929, as empresas tinham descoberto métodos para fazer as pessoas a trabalhar, mas, ainda assim, escapou por pouco de sua própria destruição. Na década de 1930, os efeitos do excesso de produção em massa criou superoferta que durou até os esforços dos tempos de guerra estimularam a demanda o suficiente para tirar os Estados Unidos de uma profunda depressão. Assim, nos anos de 1930 e 40, ocorreu uma mudança. Desde então, estimular, gerenciar e manter níveis suficientes tanto de investimento quanto de consumo tornou-se a chave para o crescimento e a estabilidade esconômicos.

Como o trabalho tornou-se menos um fator de produção, o capitalismo cresceu mais distante dos tradicionais preços de bens, serviços, salários e benefícios relacionados ao uso e ao intercâmcio. À medida que a era anterior de pequenas empresas que competiam para as necessidades orgânicas de seus clientes deu lugar ao gigantismo das corporações apoiadas pela arte dos vendedores e da publicidade, as necessidades dos consumidores ampliou-se incrivelmente. Ao longo do caminho nasceu um código social de consumo. Bens e serviços tornam-se símbolos de identidade e status, significando conformidade, sexualidade e até mesmo política.

Hoje, 72% da economia dos EUA é dedicada ao consumo, representando o maior percentual do mundo. O consumo é agora tão importante que se tornou o melhor meio para a manutenção da ordem social global e de dominar os indivíduos. Assim, Thomas Friedman disse com confiança e alguma credibilidade, "Dois países que tenham MacDonald's não vão à guerra um com o outro."

O consumo é uma meta-linguagem, que criou um aparato universal de significação imediatamente legível, facilitando a comunicação e a interação de uma sociedade com a outra. Consumo pode ser o substituto para a convenção social e a moral ao renovar nossas obsessões para com a hierarquia e distinção. Códigos de consumo, transmitidos através de mudanças de estilo (moda) e meios de comunicação (publicidade), ajudam a suprir nossa necessidade vital de informação sobre os outros.

As mercadorias e seus sinais são os hieróglifos do nosso tempo.



Fonte: The Consumption of Status and Signs,
A Mutation in Capitalist Production, by James Pruett

4 comentários:

  1. Ótimo texto, Eliane! A tempo que o vi, e só agora consegui parar para ler. Isso explica bem a origem do consumismo. Como dizia um gerente meu, que sempre se atrasava para as reuniões: nada acontece por acaso, tudo se molda de acordo com as necessidades e conveniências do momento. É como o desemprego: na hora da necessidade, saímos vendendo tudo o que temos pra fazer dinheiro. E se muita gente ficar desempregada de uma só vez, entrará em moda o mercado de "usados" e cairá o de "novos", o que obrigará as indústrias a criar um mecanismo de desova dos estoques para não gerar mais desemprego, o que aqueceria o mercado de "usados", e assim por diante, criando uma nova cultura, e quem sabe voltando à velha rotina de subsistência, plantio no quintal de casa... e voltamos devagarinho às origens do homem, criando dois blocos: um pequeno de quem ainda compra o que precisa industrializado, e outro gigantesco que produz o que precisa e compra ou troca o que falta de terceiros indiretamente. Já pensou nessa reviravolta? rsrsrs...

    Abraços!

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  2. Oi Adriano. Sabe... Eu penso que isso já está acontecendo, só que bem devagar, tão devagar, que não percebemos muito claramente. Há várias "coisinhas" acontecendo que me faz pensar. Por exemplo, quem gosta de qualidade no que consome, como coisas manufaturadas por artesãos, como era há uns 200 anos, quando roupas de cama, cortinas etc eram pintadas a mão, quando não existia papel de parede, mas sim pinturas na paredes, éramos mais próximos da arte. Na europa essa coisa do ofício passado de pai pra filho, trouxe ao século XXI, indústrias, que a língua francesa, por exemplo, acabou perpetuando... fábrica = manufacture.

    Continua...

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  3. Assim chegamos aos perfumes, bolsas, cosméticos, vinhos, vestuário etc etc. Como eu dizia, essas pessoas não vão aceitar a invasão de objetos chineses que assolam o planeta, sem qualidade nenhuma e, às vezes, até com perigo no manuseio por falta de normas básicas de segurança. Isso porque os empregados que produzem bens com qualidade e durabilidade (os bens duráveis que viraram descartáveis), ficaram muito caros perante a uma demanda crescente. Portanto, a China e outros pequenos países da Ásia como o Vietnam estão produzindo como nunca, a preços baixíssimo, todo o tipo de bugigangas que são usadas uma ou duas vezes e são descartadas como lixo (principalmente plástico).

    Pense em luzinhas de Natal... Hoje em dia alguém guarda as de um ano para o outro? Quando eu era criança, elas duravam a infância inteira de uma criança.

    Será que voltaremos aos artesãos? De sapatos (o sapateiro), de panelas (o paneleiro), de roupas (a costureira), de perfumes (o perfumista) etc etc etc???

    Seria loucura pensar numa revolução industrial "reversa"?

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  4. Eu prefiro acreditar na evolução do homem segundo Darwin, rsrsrsrs. O ser humano chegou num ponto em que nem o empate lhe é satisfatório. Ou seja, viver do que se necessita sem aspirar ter mais do que isso é coisa que só existe (pelo menos no papel) nos cursos de formação da igreja católica, onde ainda vale a regra "se você só pode estar dentro de um carro por vez, pra quer ter 2 carros?!", ou então "você precisa apenas vestir-se, não necessariamente de Pierre Cardin". Lá o voto de pobreza ainda existe.

    A ganância, a prepotência e a sede por "ter" e pelo "poder" fazem parte da "evolução" do ser humano. Hoje, ser competitivo e buscar riqueza tornou-se uma regra essencial para não sucumbir. Infelizmente a realidade é essa. E tornará o ser humano cada dia mais vazio interiormente...

    Abraços!

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