segunda-feira, 28 de março de 2011

O “Achamento” do Brasil

A Carta sobre o "Achamento" do Brasil (expressão em aspas usada pelo próprio Caminha), enviada a el-rei D. Manuel. A Carta é considerada, por alguns, como a "certidão de nascimento do Brasil". Ela é datada de Porto Seguro, no dia 1 de maio de 1500 e conservou-se inédita, por mais de dois séculos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. Foi encontrada em 1773 por José de Seabra da Silva e publicada, pela primeira vez no Brasil, pelo padre Aires do Casal na sua Corografia Brasílica em 1817.

Abaixo, um trecho no qual Caminha narra o contato inusitado entre portugueses e nativos quando da subida a bordo das embarcações.

"O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, bem vestido com um colar de ouro mui grande ao pescoço, e aos pés uma alcatifa por estrado. Sancho de Tovar, Simão Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correia, e nós outros que aqui na nau com ele vamos, sentados no chão, pela alcatifa. Acenderam-se tochas. Entraram. Mas não fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém, um deles pôs ele olho no colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente o castiçal, como se lá também houvesse prata.
Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo, tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela (...).
Viu um deles um colar de conta de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as nos braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como que dizendo que dariam ouro por aquilo.
Isso tomávamos nós por assim o desejarmos. Mas se ele queria dizer que levaria as contas mais o colar, isto não o queríamos entender, porque não lho havíamos de dar. E depois tornou as contas a quem lhas dera."

("Carta de Pero Vaz de Caminha", In: RONCARI, Luís. Literatura brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos. São Paulo: Edusp, 1995. p. 31.)



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