terça-feira, 1 de junho de 2010

Paris, a Cidade Luz ? – Parte II

Paris precisa mudar? NÃO!!! Definitivamente, não. Mas tudo nesse planeta evolui naturalmente com o passar do tempo. E eu acho, sim, que a Cidade Luz precisa evoluir sem, no entanto, mudar. E, creiam-me, isso não é uma impossibilidade, apesar de parecer paradoxo.
Hoje vou me ater a falar do trânsito na cidade, que me surpreendeu bastante. Quero, antes de mais nada, dizer que estou me referindo aqui à parte central da cidade de Paris, ou seja, os seus 20 arrondissements.

O que são estes tais arrondissements?
Os arrondissements de Paris correspondem a uma divisão administrativa que decompõe a comuna (menor subdivisão administrativa do território) de Paris em 20 arrondissements municipais. Cada um deles está subdividido administrativamente em 4 bairros (quartiers), que correspondem aproximadamente às direções noroeste, nordeste, sudoeste e sudeste do respectivo arrondissement. Os 20 arrondissements estão distribuídos segundo uma espiral que se desenvolve no sentido dos ponteiros do relógio a partir de um ponto central da cidade localizado no Louvre, que é o 1º arrondissement. É por isso que os números mais baixos correspondem a arrondissements mais centrais e números mais altos a arrondissements mais distantes do centro da cidade.

Os 20 arrondissements de Paris em "caracol"
Voltando ao assunto foco deste post...
A grande massa de pessoas que circula na cidade usa o metrô, que é, sem dúvida, eficiente, visto que ele está integrado ao sistema de trens urbanos. Outra parte da população utiliza bicicletas para se movimentar na cidade. Existem ciclovias pela cidade. Mas elas ainda não existem em 100% das ruas da cidade, o que é mais do que natural.
Bem, sobre as ciclovias de Paris, li no blog da revista Veja, o artigo de Denis Russo Burgierman, escrito em 16/09/09, o seguinte: “Uma coisa interessante, em Paris, é que onde não há ciclovias ou ciclofaixas, a faixa de ônibus é compartilhada com as bicicletas. E os ônibus respeitam. Mantêm distância das bicicletas e não ultrapassam, mesmo que seja um velhinho pedalando devagar com uma baguete debaixo do braço.”
Ciclofaixa em Paris próxima à Ponte Alexandre III
Hoje essa afirmação não é verdadeira. Não sei se em setembro de 2009 era assim. Acredito que não. Hoje, as bicicletas realmente convivem com os ônibus e automóveis, pois a faixa seletiva para os ônibus também serve aos táxis, como é aqui no Brasil. Mas... Quem disse que essa convivência é pacífica? Os ônibus são mais respeitadores, mas os táxis... Santo Deus! Nas poucas vezes em que estive em um deles como passageira, vi os motoristas fazerem coisas inacreditáveis. E o mais interessante é que eles se fecham uns aos outros, avançam sinais vermelhos, fecham os cruzamentos e tantas outras coisas, e ninguém se estressa com ninguém. Não vi xingamentos no trânsito da cidade. Isso porque os carros de passeio também fazem a mesma coisa. Acredito que para eles, motoristas parisienses, isso é totalmente normal. Até porque o trânsito, por incrível que pareça, flui. E algo muito interessante, você não vê automóveis amassados ou batidos. Eu mesma só vi um único espécime.
Vélib - Alugar uma bicicleta e andar livremente por Paris.
A única coisa que não entendo é que não há guardas de trânsito em Paris. Só os vi uma vez, quando os sinais estiveram com defeito por algumas horas, deixando as cercanias da Rue de Rivoli enlouquecida. Poucas horas depois, quando saí do Louvre, os sinais já estavam funcionando normalmente e tudo voltara ao “normal”; os carros fechando as motos e as bicicletas, avançando sinais vermelhos descaradamente, como se isso fosse normal. Enfim, o trânsito de Paris é um caos que funciona. Acreditem.
As rotundas em Paris. Todos os sentidos são permitidos ao mesmo tempo.

Como pedestre o caos é o mesmo. Em uma cidade onde há um número grande de idosos circulando pelas ruas, vi os motoristas de automóveis (incluindo os táxis) desrespeitarem os pedestres idosos que atravessavam a rua, inclusive aqueles que usam bengala.
Em uma oportunidade, aconteceu comigo. Eu estava atravessando a Avenue Des Ternes, na esquina com a Mac Mahon, no 17ème, e um casal de idosos, ambos de bengala, atravessavam devagar a avenida, na faixa reservada aos pedestres e durante o tempo de sinal aberto para nós pedestres. Repentinamente, uma jovem dirigindo seu automóvel, com seu cãozinho no banco de trás, avançou, insolente, o sinal vermelho e, por um triz, a senhorinha de bengala e também esta que vos fala, não voamos pela avenida. O ciclista que vinha em sentido contrário gritou, mas de nada adiantou. E vocês pensam que alguém se espantou com o acontecido? Ninguém. Entendi, de uma vez por todas, que aquilo era comum no cotidiano do trânsito da cidade.
Ainda uma consideração. Os estacionamentos. Eles existem por toda a cidade e são subterrâneos, o que é ótimo, mas são caros para o dia a dia. Então os motoristas resolvem o problema facilmente. Estacionam seus carros onde há uma vaga disponível, mesmo que seja exatamente na junção que faz a esquina de duas ruas de movimento considerável. E saem para seus afazeres calmamente. Multas? Só vi uma guarda feminina uma vez anotando automóveis parados na porta dos Jardins des Tuileries. Mas aí já seria demais não serem multados.

 O trânsito de pedestres nas calçadas...
Não adianta querer ser apressado ao andar pelas ruas de Paris. Os franceses são lentos, o tempo deles é outro, não tente fazer comparações. Acho que eles param para pensar em questões existenciais no meio das calçadas. Eles param repentinamente no meio do caminho e fazem “cara de paisagem”, como se nada fosse com eles.
Mas se você realmente estiver com pressa saia empurrando e dizendo “pardon, pardon”; como manda a etiqueta que eles inventaram, mas não praticam.

Bem... Até a Parte III da Cidade Luz. Ainda há muito o que falar sobre ela.

Um comentário:

  1. Estou adorando seus relatos! No item "pardon! pardon!" eu tive que rir, lembrando dos esbarrões que sofri nas escadas do metrô e na esteira da estação Chatelet. Mas não acho que Paris tenha que evoluir, na medida em que evoluir pode significar adotar itens da modernidade. Isso pode ser uma faca de dois gumes e acabar provocando uma certa descaracterização, perigosa para a manutenção da beleza da cidade. De qq. forma, pelo que Vc mesma pode constatar, os parisienses ainda levarão um bom tempo para aderir a certas mudanças de comportamento. Voilà!

    ResponderExcluir

Tô só de olho em você...
Já ia sair de fininho sem deixar um comentário, né?!
Eu gosto de saber sua opinião sobre o que escrevo.
Não tem de ser só elogio... Quero sua opinião de verdade!