sábado, 11 de setembro de 2010

O Estilo do Administrador

Vou comentar um artigo do Sr. Stephen Kanitz, postado em 08 de setembro de 2010, no Portal da Administração, www.administradores.com.br. O post ficou grande, mas não posso comentá-lo se vocês não lerem o artigo ao qual me refiro. Portanto, esse será um daqueles grandinhos, OK?! :))


Por Stephen Kanitz
08 de setembro de 2010
Um dos grandes erros de alguns intelectuais no Brasil foi disseminar entre a nova geração que capitalismo é a sobrevivência dos mais fortes. Essa é uma das razões porque a esquerda sempre atacou as empresas e seus administradores, achando que elas eram grandes devido ao seu poder monopolista ou oligopolista de extrair mais valia dos trabalhadores e da população. Administradores foram assim sistematicamente discriminados por professores e intelectuais, vilipendiados e até atacados por mais de 50 anos devido a este errôneo conceito da sobrevivência do mais forte, termo incorreto cunhado por Herbert Spengler, que não entendeu Darwin.
Se fosse a sobrevivência dos mais fortes, os dinossauros estariam povoando o mundo até hoje. A sobrevivência não é do mais fortes, e sim dos mais ágeis, aqueles que puderam se adaptar aos novos tempos. Isso nada tem a ver com força. Apesar de os dinossauros serem supremos, não conseguiram se adaptar ao novo ambiente após a queda de um asteróide. Somos todos descendentes do camundongo, que de forte não tem absolutamente nada. O segredo da sobrevivência humana é a sua adaptabilidade, sua agilidade em se adaptar às mudanças que ocorrem.
Infelizmente, a maioria dos professores nos ensina a ser preciso, acertar as respostas até a terceira casa decimal, a sermos absolutamente certos e não necessariamente ágeis. Como tornar um país ágil, que não vive acumulando problemas? O sucesso das nações depende da rapidez com que ela abandona idéias que funcionaram no passado, mas que agora precisam ser substituídas porque os tempos mudaram.
Esse é também o grande erro da direita, achar que as idéias antigas precisam ser “conservadas”, outra ideologia que nunca aceitou a figura do administrador profissional. O mundo mudou, mas infelizmente ambas as ideologias de direita e de esquerda estão lerdas, lentas e inadequadas. Veja a lentidão da máquina do Estado e das empresas familiares.
Minha insistência em valorizar a classe política dos administradores não é porque estes possuem boas idéias, mas porque administradores bem treinados são os únicos capazes de implantar as idéias dos outros na velocidade que precisamos.
Por isso, empresas administradas por administradores profissionais são mais ágeis do que repartições públicas, empresas Estatais e empresas familiares.
A função do administrador é justamente agilizar as decisões de todos os envolvidos na empresa. É criar sistemas onde os problemas são rapidamente identificados, diagnosticados, soluções alternativas encontradas, avaliadas, implantadas, reavaliadas e corrigidas, tudo isto rapidamente. A primordial função do administrador seja público ou privado é não permitir que problemas se acumulem e decisões sejam efetivamente tomadas.





A “esquerda” (qual delas?) sempre atacou as grandes empresas porque as esquerdas mais radicais têm sua ideologia calcada no pensamento Marxista (por que será que Friedrich Engels nunca é mencionado? Tadinho, fica esquecido mesmo), cujo problema teria na sua raiz a propriedade privada burguesa. A proposta era a transformação da base produtiva no sentido da socialização dos meios de produção. O poder monopolista ou oligopolista de extrair mais valia dos trabalhadores e da população, não tem nada a ver com as empresas em si ou os administradores.
Realmente, Darwin não disse que o mais forte é quem sobrevive. Ele disse que o mais adaptável às condições ambientais vigentes, sobreviveria. Quanto aos dinossauros, acho que o Sr. Kanitz poderia rever seu conceito do que seja ser forte. Pessoalmente, acho que o conceito de forte, fortaleza e seus derivados, quando utilizados no cotidiano, assumem um tom subjetivo. Ser forte nem sempre é sinônimo de tamanho, massa muscular etc. Eu escolheria um outro animal para uma metáfora. E então, poderia-se perceber o quão subjetivo é o conceito de ‘forte’. Nas condições ambientais atuais, uma barata é bem mais “forte” do que um dinossauro. Visto que hoje já não há mais espaço suficiente para seres daquele porte. Um camundongo talvez seja mais ágil que uma barata, pois o que os difere no conceito ‘agilidade’ não é a velocidade imposta para a locomoção, mas sim o aguçado sentido do camundongo em sair-se de situações imprevistas. Vejam como o contexto figurado das palavras é uma linha tênue. Por isso, acredito que Spengler não deva ser levado “ao tronco” por uma interpretação, a meu ver, apenas mais conveniente. De fato, essa analogia é irrelevante no artigo como um todo. Foi apenas uma citação. Não muito feliz, mas apenas uma citação.
A propósito, gostaria de deixar um esclarecimento aqui. O meteorito da Península de Yucatán, no México, que teria acabado com os dinossauros é apenas uma hipótese. Todas as teorias atuais possuem falhas que comprometem a veracidade delas e aguçam mais ainda a curiosidade de centenas de cientistas no mundo.
Voltando à administração... Se os professores e intelectuais discriminaram os administradores por mais de 50 anos, não posso afirmar nada. O Sr. Kanitz, pela quantidade de títulos acadêmicos que tem, deve ser experiente o suficiente neste ambiente, para tal afirmação. Mas creditar esse “vilipêndio” à citação de Herbert Spengler, acho um pouco de exagero.
Concordo em gênero e número (porque em grau não há concordância) quanto ao segredo da sobrevivência humana ser sua adaptabilidade, sua agilidade em se adaptar às mudanças que ocorrem.
Meus professores me ensinaram, sim, a ser precisa, talvez não até a terceira casa decimal, e ensinaram-me também que as respostas precisam, dependendo da situação, ser apresentadas rapidamente. Isso não necessariamente significa dizer que os professores formam administradores ágeis. Na minha modesta opinião, a agilidade é mais uma habilidade pessoal do que advinda da formação acadêmica.
A rapidez com que se abandonam idéias que funcionaram no passado para substituirmos por idéias adaptáveis aos tempos atuais é importante, mas permita-me dizer que o sucesso das nações não depende disso. O sucesso das nações é algo muito mais amplo, muito maior, que envolve muitas variáveis.
Da mesma maneira que falei sobre as esquerdas, digo que para as direitas aplica-se o mesmo raciocínio. A direita é por essência conservadora. E continuo achando que não é esse o fato da aceitação ou não da figura do administrador. As ideologias, de esquerda ou de direita, nada têm a ver com o sucesso da administração em qualquer nível, seja governamental, de empresas estatais, empresas familiares ou grandes organizações privadas.
Entendo sua insistência em afirmar que administração é para os administradores. Entendo, mas não concordo totalmente. Administrar também é, no meu ponto de vista, é claro, uma subjetividade. Eu sou administradora e acho que é um tanto de pretensão da nossa parte achar que só os administradores sabem administrar. Uma boa dona de casa pode nos provar o quanto ela sabe administrar. Acredito que o ponto está na diferença entre ser um administrador e ser um bom administrador. Não é o fato de alguém ter terminado a faculdade, com o diploma nas mãos, que fará dessa pessoa, um bom administrador. O papel (o diploma) diz que ele está apto para exercer a profissão, o que não quer dizer que ele será ágil, farejador do caminho certo e capaz de impor a velocidade adequada na sua gestão. Essas habilidades (skill para os que preferem) são intrínsecas às pessoas; assim como ser um líder que, aliás, é hoje o maior filão para vender livros, conferências, palestras, consultorias e todo tipo de coisas das quais não se precisa. No entanto, senhores engravatados e com boa oratória vendem esses “produtos” como água. Pior que isso, é que, infelizmente, há mercado para tal. E por quê? Porque as pessoas, qualquer pessoa, não necessariamente um administrador ou qualquer outro profissional, não têm mais o poder de crítica, de análise, de reflexão. Qualquer coisa que se lhes apresente com uma embalagem que brilha, elas aceitam. E isso é ainda pior do que usar o verbo comprar. Pior do que elas compram é elas aceitam.
A universidade forma um profissional com base nas teorias existentes. Isso é bom? Claro que não. Portanto, o que precisa mudar são as diretrizes que norteiam o ensino universitário, não só para os administradores, mas para médicos, advogados, químicos, historiadores, todos.
Por último, o bendito rótulo de agilidade apenas para empresas privadas. Nada mais falacioso do que este rótulo. Ahh... E como eu não gosto de rótulos! Uma grande empresa privada que, em teoria, deveria ser menos complexa para ser administrada, pode ser, às vezes, pior do que algumas estatais, e pior do que muitas empresas familiares. O conselho de acionistas pode colocar como presidente da empresa o administrador mais foderástico que ela quiser, pois se houver “entraves” políticos, não haverá administrador que consiga fazer desta, uma empresa ágil. Ela pode até dar um bom lucro aos acionistas, mas não necessariamente ser ágil e ter uma boa imagem perante o cliente final.
A primordial função do administrador, público ou privado, e ainda dependendo da sua posição no organograma da empresa (estou considerando aqui o administrador na função de gestor), é saber montar uma equipe, é cercar-se de profissionais de qualidade, nunca de indicados por fulano ou beltrano, e acima de tudo, alocar esses bons profissionais em funções às quais eles se adaptem tendo sempre o RH como um grande parceiro. Em outras palavras, é colocar o homem certo no lugar certo.
O problema é quando os "entraves" políticos impedem essas ações. Nesses casos, do que adiantará ser um administrador ágil?
Talvez o Sr. Stephen Kanitz esteja ligado há muito tempo ao meio acadêmico e já não esteja vislumbrando a selva em que se transformou o mundo corporativo. Assim como eu estive ligada ao mundo corporativo por quase 30 anos e não estou tão afeita ao mundo acadêmico.

2 comentários:

  1. Eliane, bastante interessantes suas considerações dobre o artigo de Stephen Kanitz. Antes de fazer meu comentário propriamente dito, gostaria de dizer que procurei "foderástico" no Google e encontrei mais de 2.400 citações! Provavelmente, é um neologismo do mundo corporativo, introduzido pela Geração Y, certo?
    Em relação ao artigo, creio que é um pouco corporativista e até paranóico, insinuando que os administradores são perseguidos tanto pela direita quanto pela esquerda. Julgo que a questão é que o administrador não é visto como um gestor, embora os dicionários apresentem esses termos como sinônimos. Tanto no mundo corporativo como no serviço público, há um entendimento de que qualquer profissional pode gerir os negócio da organização, mesmo não tendo cursado Administração de Empresas, como você bem pontuou, ao citar o "bom" administrador. Além disso, várias carreiras aprendem, nos anos iniciais da faculdade, princípios básicos de administração, o que - em teoria - lhes concede uma capacidade incipiente de "administrar".
    O mundo evolui rapidamente e a carreira de administrador precisa, em minha opinião, de uma reavaliação quanto ao seu posicionamento nos aspectos acadêmico e profissional. Os administradores têm que se impor pela competência gerencial, para que se supere esse "preconceito" hoje existente.

    ResponderExcluir
  2. Agostinho, como esse adjetivo é muito usado pela minha filha com relação ao trabalho dela, "julgo" que você pode dizer que é um neologismo e que foi introduzido pela Geração Y, mas ele significa apenas e tão-somente aquilo que a palavra diz. Exatamente o que você entendeu. Sem jargões, sem clichês. rsrsrs

    Eu quis escrever este texto para mostrar que essas pessoas que têm títulos a peso (assim 1Kg de MBA, 2Kg de pós-graduação etc), principalmente aqueles que eu abomino, os de "Harvard", se acham no direito de viver de vender conceitos criados por acadêmicos de Harvard para os "pobrezinhos" dos brasileiros que não podem pagar um, que na minha opinião, não é uma perda em si. Eu sempre vou querer aprender com quem tenha algo de importante a dizer, mas ouvir meia dúzia de abobrinhas só porque a pessoa em questão é um mauricinho de meia idade, de terno e gravata... Eu já passei dessa idade. Quero ler argumentos plausíveis que sustentem uma idéia. Ela pode até ser uma má idéia, como seria, por exemplo, o planejamento de um assalto a um banco, mas se for bem fundamentada, é interessante, quase sempre criativa e com muita estratégia, coisas que não encontrei no texto do Sr. Kanitz.
    Não vá se esquecer da Pós-Doutora, né?! :)) É nessas horas que gosto de ler o Ricardo Jordão, entende? Ele questiona, briga, reclama. Mas dizer abobrinha... Eu, pelo menos, nunca li.
    abs

    ResponderExcluir

Tô só de olho em você...
Já ia sair de fininho sem deixar um comentário, né?!
Eu gosto de saber sua opinião sobre o que escrevo.
Não tem de ser só elogio... Quero sua opinião de verdade!