segunda-feira, 7 de março de 2011

O Dono do Parque Lage

Henrique Lage nasceu em 14 de março de 1881. Era o filho mais velho de Antônio Lage, Comendador e grande empresário que, em 1882, atestando sua grande visão, adquiriu, de um cidadão francês, a Ilha do Viana, na Baía de Guanabara, e organizou a firma Lage Irmãos. Esse foi o ponto de partida para o que mais tarde ficou conhecido como o Império Lage. Por volta de 1888, a empresa já era próspera e às atividades iniciais de negócios de carvão, estivas e pequenas embarcações, juntaram-se um pequeno estaleiro e oficinas de reparos navais. Com a República, os serviços auxiliares marítimos e as companhias de navegação com sede no Brasil, foram nacionalizadas. Em consequência, a Norton Megaw & Co., representante de companhias estrangeiras e proprietária de vários navios, vendeu todo o seu acervo à Lage Irmãos. Como principal incorporadora, a Lage Irmãos fundou, com Luiz Augusto Ferreira de Almeida, a Companhia Nacional de Navegação Costeira, a principal empresa de navegação marítima do Brasil por longo período de tempo. A ‘Costeira’, como era conhecida, tinha todos os seus navios batizados com nomes iniciados pelas três letras “ITA”. Além disso, ela era o meio preferido, e quase único, para as ligações entre as capitais brasileiras que se desenvolviam ao longo do litoral de norte a sul.


A Ilha do Viana em 1936
Com a firma Lage Irmãos, a Costeira iniciou a diversificação do grupo de empresas Lage. Quatro dos filhos do Comendador Antônio Lage, Henrique, Renaud, Jorge e Antônio, assumiram a direção dos negócios do grupo. Quando o Comendador faleceu, em 1913, coube ao dinâmico primogênito, Henrique Lage, liderar o grupo. No início de 1919, Renaud retirou-se da empresa e, no fim daquele mesmo ano, atacados pela gripe espanhola, vieram a falecer seus irmãos Antônio e Jorge. Sozinho e com 37 anos Henrique Lage não esmoreceu. Em 1920, reorganizou a empresa e prosseguiu em suas atividades. Adquiriu as cotas que cabiam às suas cunhadas viúvas, manteve a mesma razão social e promoveu o reingresso do irmão Renaud.

Henrique Lage
Henrique Lage logo percebeu que a indústria dos transportes marítimos estava intimamente ligada à produção de carvão e à construção naval. Sem ponderar se poderia contar com financiamentos oficiais para seus empreendimentos, atirou-se em sua mais nova empreitada. Incentivou a exploração de carvão de minas herdadas de seus antecessores, adquiriu novas minas para exploração e preparou os estaleiros da Ilha do Viana para a grande construção naval. A I Guerra Mundial (1914 - 1918) dificultou a importação de carvão e navios, favorecendo, assim, as atividades do grupo Lage.

As Indústrias Pioneiras
Para a construção naval, Henrique Lage construiu na Ilha do Viana, uma carreira (rampa onde se constroem ou montam navios) com capacidade de lançar navios de até 5 mil toneladas e circundou-a com um cais acostável com 10m de calado em maré mínima. Esta empresa destinava-se à construção de portos e ao melhoramento das condições de navegação em nossos rios. Em 1919, Henrique Lage lançou em sua carreira da Ilha do Viana, o Itaquatiá, o primeiro barco a vapor de grande porte construído no Brasil, muito embora tenha sido com assistência de técnicos estrangeiros e com material importado (digamos que ele foi “montado” no Brasil). Em sua viagem inaugural pelos portos brasileiros, o Itaquatiá aportou em Florianópolis. Em um banquete oferecido ao Governador Hercílio Luz, Henrique Lage afirmou: "Aqui tudo é brasileiro, Sr. Governador, menos as chapas de ferro!" Daí por diante, sua prioridade passou a ter chapas de ferro brasileiras para seus navios. Em 1922, instalou a primeira refinaria de sal no Brasil, indústria que teve grande êxito, com a consagrada marca ITA. Na década de 40, a refinaria de sal foi transferida para o Caju, no Rio de Janeiro, onde se encontra até hoje.

A Personalidade de Henrique Lage
Apesar de não possuir nenhum diploma de curso técnico, Henrique Lage era “profundo conhecedor de química, tinha verdadeira intuição em engenharia civil, mecânica e construção naval. Era economista nato e tinha muito amor por sua pátria”. Sem muitas preocupações com o lucro individual, propôs-se várias vezes a realizar gratuitamente serviços cujos contratos representavam entraves burocráticos.
Entre seus sonhos incluíam-se: construir navios de guerra para o Brasil; navios de grande tonelagem dotados de maior conforto; criar uma frota de navios especializados para o transporte de carvão; implantar usinas de ferro-gusa; ampliar as instalações que montara na Ilha do Viana e desenvolver a mineração não só de carvão, mas também de ferro e de mármore.
Amante das artes e, em particular da música, apaixonou-se pela cantora lírica italiana, Gabriela Besanzoni, considerada, à época, a maior contralto do mundo e casou-se com ela. Em sua suntuosa residência na Av. Jardim Botânico, hoje conhecida como Parque Lage, promoveu grandes saraus artísticos, aos quais compareciam os maiores apreciadores da música e do bel-canto.

A suntuosa residência na Av. Jardim Botânico, hoje conhecida como Parque Lage

Suas atividades o aproximaram dos militares da Marinha do Brasil e do Exército Brasileiro, entre os quais fez grandes amigos e admiradores. Foi o primeiro civil, e durante muitos anos o único, a ostentar no peito a Comenda da Ordem do Mérito Militar, que lhe foi outorgada, em caráter especial, pelo próprio Presidente da República, Getúlio Vargas. Os Cadetes da Escola Militar, aos quais estimava como filhos, tinham tratamento especial em seus navios. Instituiu o "Prêmio Henrique Lage" para o cadete 1º colocado de cada turma e a "Taça Lage" para ser disputada em competições esportivas entre as Escolas Naval e Militar.

Henrique Lage morreu em 2 de julho de 1941. Não deixou herdeiros e sendo sua viúva, italiana de nascimento, todo o “Império Lage” foi incorporado ao Patrimônio Nacional. Em 1946, o Governo foi, gradativamente, desincorporando os bens, devolvendo-os ao espólio. Quando de sua morte, a Escola Militar prestou-lhe significativa homenagem montando-lhe uma guarda de honra permanente e acompanhando o enterro com numerosa representação de cadetes. A Escola Naval associou-se a essas homenagens. Henrique Lage recebeu o título póstomo de "Cadete nº 1", número que, doravante, não seria atribuído a nenhum outro cadete, em reconhecimento às inúmeras provas de carinho que teve ocasião de demonstrar, em várias oportunidades, em relação ao Cadete brasileiro.

Fonte: Reportagem da Revista do Clube Militar, edição Maio-Junho/1981. Comentários do Cel. Paulo Afonso Costa Pereira.

Um comentário:

  1. oi
    pois a minha pesquisa segue em outra direção. Diferentemente do que ocorreu em Imbituba, onde parte da memória foi preservada,aqui no Rio, infelizmente, uma de suas propriedades incorporadas pela União, a da fazenda Papucaia (em Cach.Macacu) pouco ou quase nada se sabe.. O último empregado vivo de Henrique faleceu há 2 anos, levando consigo segredos, reminisencias. vcs tem alguma informação e detalhes sobre Papucaia?meu e-mail detonator99992hotmailcom Alberto Santos abç

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