domingo, 3 de abril de 2011

A Fogueira da UFRJ

"Um incêndio de grandes proporções atingiu, desde a tarde desta segunda-feira, 28/03, os três andares da Capela São Pedro de Alcântara, dentro do Palácio Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Campus da Urca (Zona Sul do Rio). A fumaça preta que se espalhou pelo céu, foi vista por quase toda a Zona Sul do Rio, tamanha a proporção do fogo.
De acordo com o reitor da UFRJ, Aloisio Teixeira, o fogo ameaça destruir um acervo de documentos que contam a história da instituição. Bombeiros usaram até água da piscina para tentar controlar as chamas. Devido às proporções das chamas, a Capela está praticamente destruída. O lugar passava por obras e era usado para guardar maçaricos e botijões de gás. Por isso, o risco de explosão chegou a preocupar. O cenário no Campus foi de muita correria.

O fogo atingiu toda a Capela São Pedro de Alcântara.

O Palácio Universitário da UFRJ é uma construção do século XIX. Lá já funcionou o Instituto de Psiquiatria Pedro II, inaugurado em 1852. A adaptação do local para abrigar a Universidade do Brasil começou em 1949. Atualmente, funcionam no prédio a Escola de Comunicação, o Instituto de Economia, a Escola de Administração, a Pedagogia, a Editora UFRJ e o Fórum de Ciência e Cultura. Em 2010, a UFRJ se comprometeu com o Ministério Público Federal a restaurar, até 2014, o palácio, tombado desde 1972.

Fonte: Jornal do Brasil – online


Muitos dizem, todo o tempo, que poderia ter sido pior. Dessa vez não. Dessa vez, não consigo pensar que poderia ter sido pior. Não, não poderia ter sido pior. Desculpem-me a todos os que lá estavam na hora do “crime”, porque este incêncio foi um crime.
O conjunto de prédios incendiado poderá ser restaurado. Isso é verdade. As pinturas nas paredes, os quadros, os lustres, os móveis originais não poderão ser recuperados, mas ainda assim, podem ser feitas réplicas baseadas em fotos, o que, no caso de um crime como esse, não tem justificativa. Entretanto, os muitos documentos que contavam quase toda a história da educação no Brasil, estes jamais poderão ser recuperados.

Alguns devem se lembrar da decoração do salão para as cerimônias especiais...

Nessa hora, não quero saber de MEC. Quero mais do que isso, quero saber onde está o IPHAN? Estes e quantos outros documentos históricos Brasil afora, em plena era da eletrônica, da informática e quantos outros nomes quisermos dar, não foram e não serão nunca digitalizados? Isso, sim é o que chamo de verdadeiro caso de Segurança Nacional. Todo e qualquer arquivo público deve ter um prazo para ter todo seu acervo digitalizado, com cópias feitas e guardadas em locais geograficamente diferentes. Por que um procedimento tão simples como uma mera digitalização de documentos, coisa que hoje, fazemos em impressoras multifuncionais nas nossas casas, não pode ser pensado pelo poder público? Vejam este extrato do site da AGU – Advocacia-Geral da União, datado de 23/09/2009.
“A AGU manteve, na Justiça, a validade de pregão eletrônico para contratação de serviços gráficos e de digitalização de documentos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A atuação da AGU se deu por meio da Procuradoria Regional Federal da 1ª Região (PRF1) e da Procuradoria Federal junto ao Iphan.
O Sindicato das Empresas de Informática do Distrito Federal (Sindesei) tentou suspender o pregão eletrônico nº 15/08, sob o argumento de que o objeto licitado corresponde a serviços de informática não enquadrados na categoria de serviços comuns. O relator do recurso concordou inicialmente com o sindicato e deferiu o pedido para atribuir efeito suspensivo ao recurso de agravo de instrumento.
A Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou pedido de reconsideração alegando que o pregão teve por objeto a contratação de empresa especializada para produção (serviços gráficos) e digitalização de documentos, não configurando serviço de informática de natureza diferenciada como afirmou o sindicato.
Quanto ao serviço de digitalização, a AGU informou que é necessário disponibilizar antes um sistema informatizado de busca, pois não faria sentido transferir uma série de documentos para meio digital, sem que haja um mecanismo que permita recuperá-los no futuro.”


... Das cerimônias de casamento nesta capela, que talvez não volte a haver.

É imperativo que se façam digitalização dos originais de documentos históricos em alta qualidade com urgência. É um procedimento simples, mas caro. Quem o fizer com qualidade vai cobrar muito e poderá alegar a responsabilidade de manipular verdadeiras relíquias. O que é verdade. Mas este é o tipo do dinheiro que não é jogado fora.

O IPHAN não deveria acompanhar as obras de restauração dos prédios tombados? Não é responsabilidade deles? Se não é, deveria ser.

A Lei 8666 é uma faca de dois gumes. Infelizmente, ela é aplicada com rigor, quando querem apenas um preço tão pequeno que a qualidade do serviço ou produto oferecido não importa. Quando a conveninência recai na aplicação desta Lei só para constar, é porque interesses outros estão sendo levados em consideração na qualificação do ganhador da "concorrência".

A única coisa que tenho a lastimar é que, MESMO QUE HOUVESSE UMA VIDA HUMANA PERDIDA, ninguém iria a júri popular, ninguém seria preso, nada. Sem perda de vidas humanas, então, será um NADA muito mais retumbante.

A fachada nobre da Universidade do Brasil
 

O que achei muito bem lembrado pelo Sérgio, um grande amigo meu, foi a analogia feita por ele com o carnaval (que para mim é uma mera lavagem de dinheiro institucionalizada). Em fevereiro deste ano algumas Escolas de Samba foram prejudicadas por um incêndio no Rio de Janeiro. Prontamente, os governos destinaram verbas que passaram dos 4 milhões de reais. “Mas para essa reconstrução não haverá urgência! Estou cansado de ver tanta incompetência / roubalheira, que nem falo mais”, retrucou o meu amigo. Mas eu ainda não estou cansada o suficiente de ver a mesma indecência de dinheiro roubado, lavado, levado na cueca etc a ponto de me calar. Aqui está o meu protesto, a minha indignação, com o descuido total pela arte e a cultura no país. Em espaço ainda não tão grande, mas verdadeiro. De nada adianta dizermos que falta educação no país, se não zelarmos pela sua memória, sua história, seu patrimônio arquitetônico, que são, estes sim, a sua cultura. E um povo que não zela por sua cultura, não precisa de infinito número de prédios de escola, precisa de uma escola que leve adiante a cultura que a população do país respira. Neste ponto, o Brasil está sem olfato.

Dizer o quê, diante disso?


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